Redação (14/03/07) – O primeiro tema tratou da tecnologia, custo de produção e renda. Na oportunidade, o painelista José Ruedell, da Fundacep, deu ênfase à necessidade do setor em privilegiar melhorias ambientais, primando pela busca da qualidade do solo, com destaque ao ar e a água. O setor deve encontrar sistemas de produção ideais para cada região, privilegiando igualmente a produção de massa. Alertou para o fato de que a produção primária fixa também o carbono, fato que pode levar o setor a buscar os créditos de carbono.
A falta de atenção a estas questões explica as fortes diferenças nas produtividades regionais. Neste contexto, o setor deve realizar um monitoramento constante das lavouras, pois isto se torna uma ação fundamental para o sucesso no uso de produtos químicos contra as doenças e pragas nas lavouras. Neste sentido, a Fundacep dá cada vez mais atenção aos ambientes específicos para se definir cultivares adequadas para cada região.
Por sua vez, o Sr. Ivo Carraro, da Coodetec, destacou que o Brasil tem um enorme potencial agrícola, podendo mais do que duplicar a área plantada, salentando que o milho e a soja representam quase 75% da área que ocupamos com o plantio agrícola. Paralelamente, declarou que precisamos usar melhor a tecnologia que temos. Para se ter uma idéia da importância de tal ação, utilizou o exemplo da soja, informando que a produtividade média da soja no Rio Grande do Sul é de 2.100 quilos/hectare, enquanto no Brasil a mesma atinge a 2.735 quilos/hectare. Caso o Estado gaúcho chegue à produtividade média nacional, agregará uma renda bruta de R$ 1,2 bilhão apenas com a soja. Neste sentido, a pesquisa em biotecnologia deve ser o sustentáculo da produção rural, na medida em que a transgenia ganha espaço no mundo. E devemos ser rápidos neste processo, pois toda a pesquisa nesta área leva cerca de 20 anos para maturar. No caso da soja, por exemplo, o futuro da oleaginosa com a biotecnologia está levando o mundo a criar genes de alta produtividade; grãos de qualidade com mais teor em óleo; grãos com resistência à seca; grãos resistentes à doenças como a ferrugem; além de gerar insulinas e hormônios. Para tanto, precisamos grandes e contínuos investimentos em pesquisa, além de respeitar a propriedade intelectual se desejamos gerar progresso.
Sua intervenção foi encerrada com uma frase lapidar: pesquisa gera soluções, as sementes multiplicam as soluções, e a produção representa o uso das soluções.
Enfim, ainda neste painel, o Sr. Ademar Schardong, diretor presidente do Banco Cooperativo Sicredi, chamou a atenção para os aspectos econômico-financeiros que envolvem hoje o setor primário. Destacando que a economia mundial deverá crescer mais de 4% até 2010, enquanto a economia brasileira não deverá crescer mais de 3,8%, na média, no período.Neste contexto, os juros reais deverão registrar 7,5% enquanto a taxa nominal ficaria ao redor de 12%. Por sua vez, o PIB brasileiro gira ao redor de R$ 2,0 trilhões, sendo que o agronegócio representa 28% do mesmo e a agropecuária, especificamente, representa 7%. Apesar disto, o crédito rural chega a R$ 70 bilhões, financiando a geração de um PIB agrícola de R$ 150 bilhões aproximadamente.
O destaque maior de sua intervenção ficou por conta de que um produtor de soja, que financie sua lavoura, ter um custo de 4,6% apenas, enquanto aquele produtor que decidir utilizar recursos próprios terá um custo de 8,4%, considerando o rendimento médio oferecido pelo sistema financeiro nacional.
Paralelamente, fez uma pergunta decisiva à platéia: quem financiará o crescimento do agronegócio brasileiro? Respondendo que não serão os mecanismos atuais, hoje superados e arcaicos. Para Schardong, seguramente será o mercado que financiará o agronegócio, através da emissão de títulos e venda ao mercado pelas próprias empresas. Isto porque há falta de recursos; existe um alto custo de produção; um custo de transparência e falta uma política de subsídios e proteção a catástrofes.
Infelizmente, com os atuais mecanismos de política não há como financiar a nossa agricultura empresarial. No caso do BNDES, por exemplo, ou o mesmo elimina a sua burocracia ou não encontrará agentes financeiros para distribuir os recursos.
Na qualidade de moderador do painel, o Sr. Benami Bacaltchuk, da Embrapa Trigo, salientou que temos de aprender a administrar o processo produtivo agrícola, sendo que a fiscalização pública deve dar ênfase às descobertas científicas nacionais, protegendo os investimentos que estão sendo feitos no setor.
O painel foi concluído com a constatação de que o setor agrícola deve encontrar um caminho para reivindicações mais unânimes junto ao executivo, sendo que os projetos devem ter sustentação técnica para receberem créditos.
Na seqüência, o Fórum deu destaque ao painel mercadológico, com ênfase à relação entre a soja e o milho no mercado internacional. Na ocasião, o Sr. Antônio Sartori, da Brasoja, disse que para aumentar a produção de alimentos, com melhor racionalidade no uso da água, precisamos de informações e tecnologias. Para ele, não existe falta de grãos no mundo. Os preços estão altos porque o mercado está com receio do que virá em 2007/08, particularmente com o clima dos EUA. Por trás deste receio, está a produção de etanol de milho, a qual acirra às preocupações do mercado.
Neste sentido, os EUA têm limites na produção de milho e, portanto, necessitarão de outras alternativas no mundo, podendo favorecer ao Brasil como fornecedor.
Assim, os preços da soja sobem porque o produto está sendo puxado pela alta dos preços do milho e trigo. Todavia, o mercado mundial está muito volátil e deverá continuar assim em função deste contexto, o qual perde muito de sua racionalidade, entrando facilmente em comoção. Dito isto, acrescentou que a produção de grãos hoje não tem somente a função de alimentar, mas também de gerar energia.
Por sua vez, o Sr. Fernando Muraro Júnior, da AgRural, deu ênfase à relação estoque/consumo, destacando que a mesma é uma das maiores da história, e mesmo assim os preços sobem. Segundo ele, com a maior liquidez mundial, o crescimento econômico médio mundial tem aumentado e com isso o consumo de alimentos sobe. O mundo está diante de uma melhoria na renda, fato que aumenta os preços mundiais.
Mesmo assim, os Fundos têm participado intensamente do mercado, de forma especulativa, tendo hoje 15,7 milhões de toneladas de soja compradas. Estes Fundos dominam hoje o comportamento do mercado. Destacou ainda que as formas de comercialização na Bolsa de Chicago vêm mudando. Hoje, por exemplo, 60% do mercado da soja em Chicago é resultado de leilão eletrônico. Neste contexto, a soja teve negociada 14 vezes a sua produção mundial na Bolsa de Chicago em 2006. O milho chegou a ter negociado nove vezes a sua produção. Finalizou indicando que a área da soja nos EUA deverá recuar para 25 milhões de hectares neste ano após 30 milhões há quatro anos atrás, em função de um aumento na área semeada com milho. Para compensar esta redução, Brasil e Argentina terão que aumentar em 11 milhões de hectares o plantio de soja para compensar o recuo dos EUA e a contínua demanda. Assim, a grande dúvida que fica para a safra 2007/08 é: planto soja ou planto milho?
Na seqüência, o debate evidenciou que o mercado do milho mundial ficará tencionado neste ano, com reflexos sobre a soja. Isto porque os EUA estariam adotando o etanol de milho como elemento estratégico. Todavia, naquele país, o consumo de milho para etanol não deverá ultrapassar as 110 milhões de toneladas.
O Fórum foi encerrado com a palestra ministrada pelo vice-presidente da OCB, Sr. Luiz Roberto Baggio, a qual tratou sobre o tema "Um PAC para o agronegócio". Iniciando com a afirmação de que no Brasil não há constância e nem estabilidade de crescimento, Baggio destacou que as medidas necessárias para o agronegócio passam pela melhoria na armazenagem; na infra-estrutura; nos recursos para energias renováveis; nos recursos para ferrovias e portos; na desoneração de impostos para produtos agropecuários; na insenção de PIS e COFINS nos principais insumos. Ao mesmo tempo, o agronegócio precisa repor o fôlego de investimentos dos produtores rurais. Para tanto, os produtores devem continuar investindo na consolidação das cooperativas de crédito.
Todavia existem ameaças, tais como ausência de medidas para a agropecuária; ausência de investimentos para o setor armazenador; e câmbio desfavorável.
Ao mesmo tempo, pontos essenciais devem ser tratados com urgência, tais como: seguro rural; tecnologia; defesa sanitária; rastreabilidade e certificação; desoneração tributária; agroenergia; crédito rural; equacionamento do endividamento rural; agilizar as decisões da CNTBio, eliminando as discussões ideológicas num fórum que deveria ser técnico por excelência.
Neste sentido, e finalizando o Fórum Nacional da Soja, edição 2007, a jornalista Ana Amélia Lemos, na qualidade de moderadora da palestra final, enfatizou que o setor agrícola precisa desenvolver melhor um processo de assessoria parlamentar para conquistar um espaço melhor na economia brasileira e construir um PAC conseqüente para o agronegócio.