Redação (20/10/2008)- Situação Mundial
Os mesmos fatores que sustentavam os preços do milho no mercado internacional contribuem hoje para colocá-los em níveis cada vez mais baixos. Até três meses atrás, as incertezas sobre a capacidade da safra americana de atender às necessidades criadas pela produção de etanol, em um ambiente de petróleo a US$ 140 o barril e uma boa dose de especulação, mantinham o preço do milho nas alturas. Nas últimas semanas, as incertezas sobre a dimensão dos estragos que o estouro da bolha imobiliária produzirá sobre a economia mundial jogaram o preço do petróleo a menos de US$ 70 o barril e, com ele, o preço das commodities. Afinal, se vamos ficar mais pobres, com certeza iremos consumir menos, desde as quinquilharias chinesas até os insumos básicos utilizados em sua produção. Quanto à especulação, esta perdeu muito de seu brilho e de sua capacidade de sustentar o jogo nas bolsas de mercadorias.
Sobram os fundamentos da economia real; mas até estes se mostram nebulosos. Qual a verdadeira necessidade de insumos e alimentos no novo equilíbrio? A China continuará como sorvedouro da produção mundial? O etanol americano continuará com o mesmo dinamismo, nesta situação dos novos preços do petróleo? Qual será a nova disposição dos ricos e pobres do mundo em consumir? O que está sendo produzido é suficiente ou é excessivo, ao invés da incerteza anterior sobre a falta? Tudo isto afeta o preço do milho e este ponto de equilíbrio ainda vai demorar algum tempo para ser encontrado novamente. Até lá, o mercado vai ser muito instável.
Do lado da produção, as notícias são de crescimento de produção nos Estados Unidos e na Europa (o que reduzirá sensivelmente as necessidades de importações). A produção de milho na China se mostra suficiente para o abastecimento do mercado, que cresce fortemente mas ainda não demonstra necessidade de importações. Na Argentina, as estimativas iniciais de redução na área plantada com milho se mantêm.
Nos Estados Unidos, o Departamento de Agricultura elevou suas estimativas de rendimento das lavouras de milho para esta safra, o mesmo ocorrendo com a produção total. Com previsões de produção mais alta, redução nas exportações e um crescimento menos acelerado do consumo de milho para a produção de etanol (que, mesmo assim, ainda é 33% superior ao do ano passado), os estoques para o fim do ano comercial 2008/09 se mostram um pouco mais elevados, embora sejam 25% inferiores aos do ano anterior. Estes estoques, em épocas normais, manteriam abertas as portas da especulação para as próximas safras, sustentando a expectativa de manutenção de um patamar mais elevado de preços internacionais. Mas especulação é coisa que pouca gente está disposta a fazer nestes tempos.
Situação Interna
No Brasil, uma vez colhida a maior safra de milho de sua história, as preocupações passam para o lado da comercialização e de como esta comercialização poderá afetar a instalação das lavouras.
A colheita da safrinha, embora já terminada há mais de dois meses, continua a afetar os preços do milho no mercado interno. Enquanto no Rio Grande do Sul e em Santa Catarina os preços já mostram alguma estabilidade, nas regiões de safrinha os preços continuam em queda. Em Luiz Eduardo Magalhães o preço sofre pressão, inclusive, da boa safra que foi colhida no Nordeste. Em estados como o Mato Grosso, o preço do milho foi reduzido em cerca de R$ 6,50 desde o início do mês de julho para R$ 11,00 na semana que terminou em 17 de outubro (um acompanhamento semanal do preço do milho pode ser encontrado no site do CIMilho – www.cnpms.embrapa.br/cimilho). Estes movimentos de preços, em um ano de safra recorde, mostram a importância do suporte que o mercado externo pode dar à queda de preços, em safras de maior porte, como a que estamos colhendo.
Este suporte aparentemente não vem acontecendo e os preços em Santos e Paranaguá continuam em queda. Não se poderia esperar outra situação, visto que os preços do milho no mercado internacional caíram mais de 50% entre 1º de julho e 16 de outubro. A subida da cotação do dólar em relação ao real não tem se mostrado suficiente para fortalecer os preços de exportação. Como resultado, aliado ao fato de que as necessidades da Europa não são tão grandes como no ano passado, as quantidades de milho exportadas pelo Brasil estão perto de 50% da quantidade exportada no ano de 2007, a maior parte enviada no primeiro semestre, quando existia uma forte demanda dos países da Europa.
Com a redução nas exportações e a excelente safra, o que está crescendo são os estoques internos. As perspectivas da Conab são de um estoque no final do ano ao redor de 14 milhões de toneladas, o maior desta década – isto se as exportações atingirem 7,5 milhões de toneladas. Não é, realmente, um cenário animador.
Do lado da demanda por milho, o crescimento da produção de aves segue firme. Segundo o portal Avisite, especializado em avicultura, a produção nos últimos doze meses já é quase 8% superior aos doze meses anteriores, sinalizando um crescimento significativo para o setor em 2008. As exportações de carne de aves in natura nos nove primeiros meses do ano cresceram 15% em relação ao mesmo período de 2007 (o crescimento em valor foi de 53%). Do total exportado, a quantidade originária dos estados do Centro-Oeste já se aproxima das quantidades exportadas dos estados do Sudeste, o que ajuda a viabilizar a avicultura da região e, de certa forma, a criação de um mercado para a produção regional de milho. Sem esta situação, certamente as cotações do milho no Centro-Oeste seriam similares às verificadas poucos anos atrás.
Na área governamental, a Conab tem executado ações no sentido de dar sustentação aos preços, atuando com mais sucesso nesta época de redução dos preços em virtude da colheita da safrinha em regiões localizadas fora das principais regiões consumidoras.
Nova safra – Com relação à nova safra que começa a ser plantada, a grande modificação em relação à safra passada são os custos de produção. Os preços dos fertilizantes, insumo fundamental para a produção do milho, praticamente dobraram; e isto certamente irá afetar a quantidade utilizada nas lavouras de milho.
O encarecimento dos fertilizantes afeta profundamente os custos de plantação das lavouras de milho e sinaliza a necessidade de um maior cuidado na gestão das lavouras. Em lavouras comerciais, este gerenciamento implica em que a decisão acerca das doses de fertilizantes a serem utilizadas seja tomada a partir da realização de análises de solos, melhor divisão dos talhões de produção e aplicação do nitrogênio em cobertura em épocas e condições corretas.
Com relação aos outros insumos, deve-se procurar a melhor eficiência de seu uso, principalmente no que diz respeito à utilização na forma e na época mais adequadas. A condução criteriosa dos outros componentes do sistema de produção, tais como a observação da época do plantio recomendada e a execução de forma correta das operações com pouca influência nos custos, mas que, se realizadas adequadamente, podem contribuir para a manutenção do potencial produtivo serão vitais para a rentabilidade positiva das explorações. Dentre estas operações, podem ser citadas a escolha da semente de milho mais adequada para o sistema de produção em uso, o tratamento de sementes realizado de forma correta e o controle de plantas invasoras e de insetos que, certamente, contribuirão para a maior eficiência produtiva nas lavouras de milho.
No Brasil, começam a ser divulgadas as estimativas de intenções de plantio. Para a safra de verão, os números variam desde uma redução de algo em torno de 5% até um acréscimo de 2,7% no Centro-Sul. Estes números são discrepantes mesmo em estados onde o plantio já se mostra adiantado, como no Rio Grande do Sul, em Santa Catarina e no Paraná. O que importa, por enquanto, é que as condições climáticas têm se mostrado favoráveis, beneficiando as lavouras plantadas em épocas recomendadas nestes estados. Nesta safra, o clima desempenhará um papel mais fundamental do que nas anteriores, visto que, com a provável redução na quantidade utilizada de fertilizantes, condições climáticas favoráveis serão decisivas para que não ocorra redução nos rendimentos agrícolas.