A severa desvalorização do dólar frente ao real, como foi registrado na última semana – até R$ 1,66 – tem efeito duplamente negativo à agricultura do Cerrado, principalmente Mato Grosso, maior produtor de soja do país e dependente da estabilidade do câmbio para obter melhores ganhos, ou seja, preço melhor pela saca e para o transporte do grão.
“Toda vez que o dólar cai, automaticamente cai a receita em real do produtor”, lembra o especialista em mercado de soja da AgRural, Eduardo Godói. Com isso, o produtor paga mais dólares para escoar a produção porque o dólar baliza o frete e o produtor recebe menos pela saca. Porém, Godói destaca que a atual valorização do real em relação ao dólar, acompanhada dos elevados preços da commodity no mercado internacional e dos altos prêmios da exportação, “estão compensando a queda na taxa de câmbio”. Em outra situação – se os preços na Bolsa de Chicago não estivessem tão altos – segundo ele, os produtores poderiam ter “problemas seríssimos” em Mato Grosso. “Câmbio desvalorizado nunca é bom para os produtores de soja, pois o produto é cotado em dólar. Mas a situação atual é compensada pelos bons preços pagos no mercado internacional”.
Godói lembra que os preços da soja na Bolsa de Chicago estão atingindo um dos maiores patamares do ano, iniciando a semana a US$ 10,76/bushell e fechando a quinta-feira em US$ 10,95/bushell para contrato maio.
Em Mato Grosso, o preço médio indicado pelos compradores termina a semana em R$ 37,18/saca. Com poucos negócios registrados no Estado, em Campo Verde a saca para entrega em março de 2011 esteve cotada na casa dos US$ 19, enquanto em Lucas do Rio Verde ficou em US$ 17,50/saca.
No sudeste do Estado, os preços ofertados ficaram entre R$ 38,20/saca e R$ 39/saca na cidade de Primavera do Leste e em Rondonópolis entre R$ 39,50/saca e R$ 40,10/saca. No oeste, mais precisamente no município de Sapezal, o melhor preço foi de R$ 35,20/sc na quinta-feira. No médio norte compradores indicaram preços entre R$ 36,00/sc e R$ 36,80/sc em Lucas do Rio Verde e em Sorriso o melhor preço foi de R$ 36,50/sc. Na região de Diamantino as cotações variaram entre R$ 36,20/sc e R$ 37,50/sc.
Estabilidade- De acordo com Carlos Cogo, da Consultoria Agroeconômica, a tendência é de preços estáveis da soja no curto prazo, tanto no mercado externo, quanto no mercado interno. “A colheita da safra recorde dos Estados Unidos e a queda do dólar no Brasil dão maior estabilidade às cotações no curto prazo. No longo prazo, entretanto, a soja deve subir, seguindo o rastro das cotações do milho e do trigo, embaladas pelo ajuste entre oferta e demanda mundial, baixa relação entre estoques/consumo mundial e riscos climáticos oriundos do fenômeno La Niña sobre a safra de soja 10/11 da América do Sul, além da sólida demanda mundial prevista para o próximo ciclo”.
Competitividade – Estudos realizados pelas cooperativas mostram que a queda do dólar está provocando perda de competitividade e rentabilidade do agronegócio brasileiro, principalmente nos produtos com maior presença no mercado internacional. É o caso do complexo soja, com cerca de 70% negociado em contratos de exportação. O trabalho revela que uma desvalorização cambial de 10% reduz os custos de produção da soja em 5,3%. Em contrapartida, provoca uma queda de 9,1% nos preços. “Considerando o valor da soja em patamares históricos, a taxa de câmbio de equilíbrio necessária seria de R$ 2,21, o que amenizaria as perdas para os produtores”, afirma o estudo.