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Gaúchos se preparam para safra de soja quase 100% transgênica

Produtores confiam em saída para a comercialização do produto no ciclo 2004/05.

Da Redação 01/09/2004 – Enquanto o governo federal e o Congresso discutem se a Lei de Biossegurança será votada em setembro ou se será preciso prorrogar ou editar nova Medida Provisória (MP) para legalizar a safra 2004/05 de soja transgênica, produtores gaúchos devem plantar entre 90% e 95% da área destinada à cultura com sementes geneticamente modificadas multiplicadas nas propriedades.

A projeção é da Federação das Cooperativas Agropecuárias do Rio Grande do Sul (FecoAgro) e da Associação dos Produtores e Comerciantes de Sementes do Estado (Apassul). Na safra passada, que rendeu 5,388 milhões de toneladas, a adesão aos transgênicos ficou entre 80% e 85% dos 3,896 milhões de hectares plantados. Para 2004/05 a área deve atingir 4 milhões de hectares, prevê a FecoAgro.

O aumento da área reflete a confiança dos gaúchos na liberação do cultivo. Embora não contem com a aprovação da Lei de Biossegurança em tempo hábil para o plantio, no fim de setembro, Federação da Agricultura do Estado (Farsul) e Fecoagro confiam na prorrogação ou na edição de uma nova MP.

Se nenhuma das alternativas for adotada, o vácuo legal em torno da soja transgênica poderia causar “embaraço” na comercialização da próxima safra, explica Rui Polidoro Pinto, presidente da Fecoagro. O Rio Grande do Sul também produziu 200 mil sacos de sementes modificadas para empresas como Coodetec e Embrapa, que esperam a legalização para entrar no mercado.

O comportamento dos produtores reflete-se na venda de sementes convencionais certificadas no Estado. Loureiro da Silva, da Apassul, diz que a venda não deve passar 5 mil das 65 mil toneladas produzidas neste ano em terras gaúchas. Outras 35 mil toneladas serão enviadas para outros Estados e o restante irá para as indústrias. Silva observa que há seis ou sete anos as sementes convencionais cobriam 70% da área de soja no Estado. Na safra 2004/05, não ultrapassará 10%.

Jorge Rodrigues, coordenador da comissão de grãos da Farsul, diz que a aprovação da Lei de Biossegurança é importante para a recuperação do setor de sementes. Iwao Miyamoto, presidente da Associação Brasileira de Sementes e Mudas (Abrasem), concorda e diz que o ritmo mais lento das vendas de sementes convencionais no Brasil neste ano deve-se, em parte, à maior procura por sementes modificadas.

Segundo Miyamoto, até meados de agosto, 90% das sementes de soja e 75% das de milho já haviam sido vendidas. No ano passado, até o final de julho, todas as sementes produzidas foram comercializadas. Em função da lentidão, ele reviu para baixo a meta de vendas para o ano de 1,7 milhão para para 1,5 milhão de toneladas, contra 1,47 milhões em 2003. A meta de receita foi reduzida de R$ 5,3 bilhões para R$ 4,5 bilhões – R$ 400 milhões a menos que no ano passado.

“As vendas pararam em julho e agosto e agora os produtores voltam a comprar sementes para a nova safra”, diz Miyamoto. O aumento do ritmo em agosto foi confirmado pela Bayer Seeds e Syngenta Seeds.

“As vendas devem acelerar mais em setembro”, diz Fabricia Andrade, coordenadora de marketing da Bayer Seeds. Até ontem, a empresa havia vendido 41% das sementes de milho, contra 58% no mesmo período de 2003, e 75% das sementes de soja, contra 61% no ano passado. A empresa prevê vendas maiores de milho (8%) e soja (46%).

Ademiro Capelaro, diretor de marketing e vendas da Syngenta Seeds, diz que o volume de sementes de milho estava 20% menor até o final de agosto, mas o volume de vendas no ano deve ser igual ao de 2003. No caso da soja, 90% da produção foi vendida e a previsão é concluir a comercialização em setembro. Em 2003, a empresa vendeu sementes até novembro. “A opção por sementes de ciclo mais curto, que sofre menos com a ação da ferrugem asiática aqueceu as vendas”, observa Capelaro. Ele prevê volume de 5% a 7% este ano.