Da Redação 07/04/2003 – O governo admite que poderá criar facilidades de crédito aos produtores que cultivarem não-transgênicos. A possibilidade foi levantada nesta quinta-feira (03) pelo ministro da Agricultura, Roberto Rodrigues, no caso de o Congresso definir regras para plantio e comercialização de organismos geneticamente modificados (OGMs) e o mercado não privilegiar “naturalmente” o cultivo convencional.
Ainda sob a hipótese de o Congresso legislar sobre os transgênicos, Rodrigues considerou “interessante” o zoneamento do plantio de soja. O ministro expôs suas opiniões durante fórum organizado pelo Partido Popular Socialista (PPS), na Câmara dos Deputados.
Rodrigues comemorou o fato de “o país” estar debatendo com atenção o caso dos transgênicos. “Um dos grandes méritos da MP 113 (que trata da comercialização da soja transgênica que está sendo colhida em vários estados) foi chacoalhar o Congresso, que agora está debruçado sobre o tema”.
No mesmo seminário, o presidente da Embrapa, Clayton Campanhola, anunciou que a empresa obteve autorização para retomar algumas pesquisas em transgenia que estavam paradas por falta de registros técnicos do Ibama e da Anvisa.
Assim, o governo terá a possibilidade de desenvolver sementes resistentes a herbicidas, vírus e insetos de feijão, algodão, soja, batata, alface, milho e mamão.
Campanhola ainda apresentou um levantamento sobre o impacto econômico da rotulagem em produtos que tenham OGMs em sua composição. Segundo ele, a cadeia produtiva seria onerada em cerca de US$ 483 milhões no caso da rotulagem com qualquer nível de transgenia.
Para índices de até 1%, esse custo seria de US$ 350 milhões. Para rotular produtos com até 5% de transgênicos, os aportes somariam US$ 262,5 milhões.
O professor Ernesto Pasterniani, da Universidade de São Paulo (USP), detalhou a economia nos custos de produção de transgênicos. Segundo ele, estudos recentes mostram que a economia no plantio de soja chega a US$ 50/hectare. Para o mamão papaya, esse valor sobe para US$ 2.625/hectare.
“É um fator de economia brutal que nós precisamos levar em conta. A oposição aos transgênicos muitas vezes vem de países desenvolvidos que não querem que outros desenvolvam tecnologia”, conceituou.
As melhorias da plantação, continuou Pasterniani, provocam, ainda, o seqüestro de carbono da atmosfera e reduzem em até 88% as condições que provocam aquecimento global.
Sérgio Arouca, vice-presidente do PPS e secretário de Gestão Participativa do Ministério da Saúde, ressaltou que a discussão sobre o tema não deveria tratar exclusivamente de aprovar ou reprovar os transgênicos. “Transgênicos é apenas uma técnica de produção. Devemos discutir como o país vai se preparar para analisar cada caso, pois a produção de OGMs é a maior interferência que o homem já fez na natureza”, afirmou.
A comissão interministerial que analisa a legislação sobre o assunto realizou nova reunião, na noite de quinta-feira, na Casa Civil da Presidência da República, para começar a debater o decreto que vai regulamentar a Medida Provisória.