O mercado futuro da soja e do milho interrompeu ontem (24) uma sequência de três altas e escorregou para o terreno negativo na Bolsa de Chicago. Os investidores aproveitaram a notícia do rebaixamento do rating do Japão para vender contratos agrícolas e embolsar parte dos lucros acumulados ao longo do mês.
Com leve baixa de 3 pontos, o novembro/11 da soja encerrou a quarta-feira valendo US$ 13,935 o bushel (27,2 quilos), ou US$ 30,74 por saca. Praticamente estável, o dezembro/11 do milho terminou os negócios cotado a US$ 7,43 o bushel (25,4 quilos), ou US$ 17,55 a saca. Mesmo com a queda, acumulam alta de, respectivamente, 2% e 10% em agosto.
Para especialistas, a desvalorização foi resultado de um movimento de correção técnica e não reverte a tendência de alta dos grãos. “O patamar de preço mudou claramente em agosto. A soja, que até o mês passado trabalhava na casa dos US$ 13, deve romper os US$ 14 nos próximos dias e, dependendo o resultado da safra dos Estados Unidos, pode avançar a US$ 15. O milho, que vinha oscilando entre US$ 6 e US$ 7, tende a se aproximar cada vez mais dos US$ 8 e se estabilizar por lá”, prevê o analista Carlos Cogo.
“Acho muito difícil a soja voltar a US$ 13”, concorda o economista Stefan Tomkim. Segudo ele, o aumento do número de contratos em aberto na Bolsa de Chicago nos últimos dias indica que o movimento de alta é consistente e só deve ser revertido se houver “alguma notícia muito ruim no cenário macroeconômico”.
As projeções de preços em alta se sustentam no desempenho ruim da safra norte-americana de grãos. Em relatório divulgado na segunda, o USDA, o departamento de agricultura do país, revelou que a parcela de lavouras de soja em boas condições caiu de 61% para 59% na última semana. No milho, o índice de boas plantações recuou de 60% para 57%.
Desde o início do ciclo, os EUA já enfrentaram todo tipo de problema climático: chuva no plantio, alagamentos em junho, calor em julho e estiagem em agosto. “No milho, que passou pelo seu período decisivo no mês passado, os prejuízos já são irreversíveis e a soja, que, em teoria, ainda poderia se recuperar, também deve ter produtividade menor”, aponta Cogo.
A quebra é vista por especialistas como um estímulo ao plantio da nova safra de grãos brasileira, que está em fase final de planejamento. “Se as perdas forem muito fortes nos EUA, será uma oportunidade para o Brasil se firmar como exportador de milho”, analisa Tomkim. De acordo com Cogo, o cereal deve avançar sobre o feijão no Sul, pastagens degradadas no Centro-Oeste e arroz no Centro-Norte e contabilizar incremento de mais de 5% na área de cultivo em 2011/12. “Mas a soja também deve crescer uns 5%”, destaca.