Redação (29/03/07) – A pergunta é se as cotações se sustentarão nos atuais níveis – na faixa dos US$ 4 por bushel – ou recuarão se houver um forte crescimento da safra.
Conforme o Outlook Forum, realizado pelo Departamento de Agricultura dos Estados Unidos (USDA) no início deste mês – considerado uma prévia das projeções para o plantio e colheita -, a área de milho americana deve ser de 87 milhões de acres na safra 2007/08, 11% mais do que no ciclo anterior. Para a produção, a previsão é de 307, 3 milhões de toneladas, bem acima dos 267,6 milhões da safra passada.
Analistas, no entanto, já consideram que a área pode crescer ainda mais, devido aos preços altos do grão. "Já se fala em 88 milhões de acres", afirma Jack Scoville, da Price Futures Group, em Chicago. André Pessôa, da Agroconsult, estima que o aumento do plantio pode ser de 17% sobre 2006/07. "Pode haver mais milho do que o USDA esperava", diz Pessôa. Na visão de Leonardo Sologuren, da Céleres, "[a bolsa de] Chicago já absorveu esse aumento" da área de plantio. "O que vai mexer com Chicago é o clima".
E mais do que nunca o mercado deve ficar atento ao clima, fator determinante para um bom desempenho da produção. No Outlook Forum, a previsão do USDA é de uma produção de 307 milhões de toneladas, mas analistas estimam que esse número pode ser maior num cenário de clima favorável. Scoville cita estimativas de 327 milhões de toneladas, um recorde de produção. Se o número impressiona, mais impressionante, diz o analista, é que os Estados Unidos vão precisar de todo esse volume para atender ao crescimento da demanda por causa do etanol.
Segundo o USDA, o consumo de milho para produção de álcool deve alcançar 80,6 milhões de toneladas em 2007/08, 49% mais do que no ciclo anterior. Isso significa um forte aumento no uso doméstico no país – inclui ração, alimentos, etanol, sementes e outros – , de 240 milhões de toneladas em 2006/07 para 262,1 milhões de toneladas em 2007/08.
Diante dessa demanda, Sologuren afirma que uma produção de 300 milhões de toneladas não seria suficiente. O resultado, prevê, deve ser um recuo "drástico" das exportações de milho dos Estados Unidos. Mais forte do que o previsto pelo Outlook, que fala em embarques de 56,7 milhões de toneladas em 2006/07 e 48,5 milhões no ciclo 2007/08.
Tanto Sologuren quanto Pessôa não acreditam em recuo expressivo dos preços do milho em Chicago, mesmo com uma produção na casa de 315 milhões de toneladas nos EUA. O motivo é que, com a demanda crescente, a relação estoque/consumo seguirá apertada. Em 2006/07 foi de apenas 6,4% ante 17,5% no ciclo anterior. O outlook previu 5,2% em 2007/08.
"Os preços devem ter um recuo de 10% em relação aos valores atuais mesmo com uma safra espetacular", afirma Pessôa. Ele observa que os estoques de milho dos EUA seguem baixos enquanto o consumo avança. Saíram de 49,6 milhões de toneladas em 2005/06 para 19,1 milhões na safra seguinte. E, conforme as estimativas do Outlook, cairão ainda mais, para 16,1 milhões de toneladas em 2007/08. Grande parte dessa queda se deve ao aumento de consumo do grão por causa dos novos projetos para produção de etanol nos EUA.
"O problema é que o ritmo de crescimento da produção é menor do que o da demanda", concorda Leonardo Sologuren.
Scoville avalia que os preços do milho podem ficar "mais perto" de US$ 3,00 se a produção americana do grão alcançar o recorde de 327 milhões de toneladas. Mas não devem voltar aos patamares de US$ 2,00 por bushel vistos até o ano retrasado.
Na contramão, Paulo Molinari, da Safras&Mercado, não descarta cotações abaixo de US$ 3,00 em setembro, se a produção atingir 325 milhões de toneladas. Quadro que ele considera viável diante do forte investimento em adubação e plantio de variedades transgênicas de milho nos EUA. "Se não houver problema [climático] pode ficar abaixo disso [US$ 3,00] antes de setembro", prevê Molinari.
Para ele, "o etanol já é um dado" e a forte valorização dos preços do milho ocorreu a partir do momento em que se soube que a safra 2006/07 era pequena.
Se a produção ficar em cerca de 300 milhões de toneladas, porém, o "mercado internacional explode", reconhece Molinari. Mas, "com 330 milhões, volta tudo" porque haveria uma recomposição dos estoques, diz.