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Incertezas ''nublam'' projeções para o plantio nos EUA na safra 2009/10

Produtores americanos devem ocupar mais terras com soja do que no ciclo passado (2008/09), ao mesmo tempo em que as tendências para milho e trigo apontam para redução.

Redação (30/03/2009)- Cercado por uma expectativa poucas vezes vista no mercado, o primeiro levantamento do Departamento de Agricultura dos Estados Unidos (USDA) com as intenções de plantio dos produtores americanos de grãos na safra 2009/10, que será divulgado amanhã, alimenta uma gama tão díspar de apostas que revela o quanto a crise financeira que eclodiu no país desnorteou os mercados, inclusive agrícolas.

Para a maior parte dos analistas e empresas especializadas, os produtores americanos ocuparão mais terras com soja do que no ciclo passado (2008/09), ao mesmo tempo em que as tendências para milho e trigo apontam para redução. É para esse movimento que aponta a atual relação de preços desses grãos na bolsa de Chicago, sobretudo no que se refere à tradicional "disputa" entre soja e milho por terras. Mas não há consenso e as diferenças entre as projeções de área que circulam no mercados para as três culturas ão abissais.

Pesquisa realizada pela Dow Jones com 17 empresas, entre as quais Alaron, Citigroup, Fortis, Linn Group e Newedge, mostra que a média das estimativas para a área de soja nos EUA em 2009/10 chega a 32,1 milhões de hectares (recorde histórico), 4,9% acima de 2008/09 (30,6 milhões). O resultado reflete um intervalo que vai de 30,7 milhões a 33 milhões de hectares. Na soja, como mostram os números, pelo menos nenhuma empresa consultada prevê diminuição de área.

Quando a soja avança, normalmente o milho recua, ainda que a oleaginosa também possa ocupar áreas não ocupadas por trigo ou algodão. O resultado médio das projeções das 17 empresas procuradas pela Dow Jones comprova a velha máxima – 34,2 milhões de hectares em 2009/10, ante 34,8 milhões em 2008/09 -, mas o intervalo apurado vai de 32,9 milhões a 36 milhões de hectares. No último caso, assim, haveria aumento, ainda que ele seja considerado improvável.

No caso do trigo, a pesquisa da Dow Jones não captou nenhuma projeção de aumento da área plantada nos EUA. A média (neste caso apenas 14 empresas opinaram) sinaliza 23,8 milhões de hectares, ante 25,6 milhões em 2008/09, em um intervalo que vai de 22,9 milhões a 25,5 milhões de hectares. "A crise e essa falta de consenso torna o relatório do USDA um dos mais aguardados dos últimos tempos", afirma Paulo Molinari, da Safras&Mercado.

Em grande medida, as incertezas estão vinculadas ao futuro comportamento da demanda. Nos EUA, grandes clientes de milho, como frigoríficos e usinas de etanol, enfrentam problemas, ao passo que para a soja há indefinições em torno do consumo de biodiesel. Também há dúvidas relevantes quanto ao apetite de importadores de grãos americanos, como a Europa e a Ásia, diante da desaceleração econômica que ainda se aprofunda.

Não fossem tantas as indefinições, Chicago certamente seria o velho e bom balizador para os produtores dos EUA em dúvida entre plantar milho ou soja, levando-se sempre em consideração que por lá prevalece a "cultura do milho", como realça Renato Sayeg, da Tetras Corretora. Ou seja: na dúvida, mesmo se a margem for um pouco menor, a preferência recai sobre o milho, cuja produção é muito maior.

Historicamente, o ponto de equilíbrio para os indecisos é quando a soja vale duas vezes que o milho em Chicago. Mais que dois, a balança pende para a soja; menos que dois, para o milho. Na sexta-feira passada, no mercado de soja, os contratos futuros de segunda posição de entrega (normalmente o de maior liquidez) fecharam a US$ 9,1525 por bushel, queda de 25,25 centavos de dólar em relação à véspera. No milho, a segunda posição fechou a US$ 3,9750 por bushel, retração de 3,75 centavos. Ou seja, o preço da soja foi 2,32 superior ao do milho.

"O produtor americano não está tão descapitalizado, principalmente se comparado a outros segmentos. Isso pesa na hora da decisão do plantio e pode limitar a migração da soja para o milho", afirma Sayeg. "A soja também pode avançar sobre áreas de algodão, e soja e milho devem dividir áreas de trigo desocupadas", observa Molinari, da Safras&Mercado. Para ele, qualquer previsão do USDA acima de 34,2 milhões de hectares para o milho será considerado "baixista" pelo mercado do grão, enquanto qualquer projeção abaixo de 32,4 milhões de hectares para a soja será encarada como "altista" para os preços.

Sayeg observa, finalmente, que nas últimas cinco safras a primeira estimativa do USDA sobre o plantio no país foi otimista demais para a soja. Ou seja, a área efetivamente ocupada acabou sendo menor. Pode ser um sinal do peso da "cultura do milho".