Para o mercado de grãos não-transgênicos, o uso de sementes de milho geneticamente modificadas passou de ameaça constante para realidade na safra 2008/09, quando seu plantio passou a ser autorizado no Brasil. Como o uso dos transgênicos já é fato consumado, as empresas que exploram o filão da não-transgenia preocupam-se não mais com a autorização, mas com a velocidade com que a tecnologia será adotada no país.
Os levantamentos ainda não são taxativos, mas mostram a velocidade de adoção que tanto preocupa as companhias que exploram um mercado de grande aceitação, por exemplo, na Europa e no Japão. A consultoria Agroconsult atestou a presença de milho transgênico em apenas 1,5% da área ocupada pelas lavouras do grão na safra de verão – que, segundo o levantamento mais recente da Companhia Nacional de Abastecimento (Conab), totalizou 9,2 milhões de hectares.
Para a safrinha, a estimativa já era de 30% de área ocupada pelas variedades geneticamente modificadas. Segundo o relatório mais recente da Conab, apresentado em maio, a safrinha de milho ocupará 4,8 milhões de hectares no país. Estimativa semelhante para a área de milho safrinha com transgênicos é feita pela Associação Brasileira dos Produtores de Grãos Não-Geneticamente Modificados (Abrange).
“A velocidade de adoção da soja transgênica foi muito grande. No milho, o que preocupa é que essa rapidez parece que vai ser ainda maior”, diz Ricardo Souza, secretário-executivo da Abrange. “Temos feito um trabalho para mostrar que o transgênico como uma ferramenta a mais para o produtor, e não como um fim em si. O Brasil ainda é o único país com excedente de não-transgênico para exportar. Na Argentina e nos Estados Unidos não existe mais oferta. Com o não-transgênico, o Brasil ganhou mercados que não tinha”.
Projeções de mercado, entre elas a da própria Abrange, falam que a área dedicada ao milho geneticamente modificado pode chegar a até 70% já na temporada 2009/10. Preocupação adicional do setor ocorre em função de relatos de que compradores de grãos já têm tratado transgênicos e não-transgênicos sem diferenciação. Caso, por exemplo, da cooperativa goiana Comigo, de acordo com o dirigente. “Qualquer milho que entra no pátio já tem sido automaticamente considerado transgênico”, afirma Ivan Paghi, gerente técnico da entidade.
Na época da liberação da transgenia na soja, imbróglio semelhante ocorreu. A soja convencional conseguiu abrir flancos e se sustentar, entre outros motivos, porque as exportações brasileiras do grão estão em estágio bem mais desenvolvido. A oleaginosa é o principal produto na pauta de exportações do agronegócio brasileiro. O milho, por sua vez, até hoje não conseguiu manter constância nos embarques. No Brasil, a cultura sofre ainda com baixa produtividade em comparação com a obtida em outros países.
A soja convencional conseguiu ainda criar “bolsões” de produção – caso, por exemplo, da região de Campo Novo do Parecis (MT), onde cerca de 80% da terra ocupada pelas lavouras do grão é de não-transgênicos, segundo a Abrange.