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Indústrias começam a paralisar em Mato Grosso

<p>Falta matéria-prima e já sobram farelo e óleo nas esmagadoras por causa do boicote.</p>

Redação (05/05/06) – A Archer Daniels Midland (ADM) deve paralisar nesta sexta-feira (05-05) sua esmagadora de soja em Rondonópolis (MT) em razão dos protestos de agricultores contra a crise de renda no campo. Uma colheitadeira de 13 toneladas está na frente da fábrica, impedindo a chegada da soja em grão e a saída do óleo e farelo produzidos.

“Vamos parar porque não temos mais matéria-prima para processar nem espaço nos armazéns para guardar tanto óleo e farelo”, diz Stephen Geld, diretor de processamento de soja da ADM do Brasil. “A mercadoria está parada e isso é prejuízo na certa, porque estamos no pico da safra de soja e deveríamos estar trabalhando a todo vapor”, afirma.

“As estradas estão bloqueadas, impedindo o escoamento da safra. Mas a reivindicação é procedente e somos solidários aos agricultores”, diz Carlo Lovatelli, presidente da Associação Brasileira das Indústrias de Óleos Vegetais (Abiove). Ele não soube informar quantas fábricas estão paradas, nem qual é o prejuízo às exportações.

“Não houve ainda uma ruptura efetiva das exportações, mas nossos clientes internacionais, cientes do movimento, entraram em contato preocupados com o cumprimento dos contratos”, diz. “Há empresas de transporte marítimo preocupadas em enviar navios para o Brasil com medo de que a embarcação volte vazia e eles percam a taxa do frete de retorno”, completa.

O governador do Mato Grosso, Blairo Maggi, diz que foi informado pelas lideranças do movimento que as indústrias interromperam as atividades. “As 30 mil toneladas que são esmagadas diariamente no Mato Grosso estão deixando de ser transformadas em farelo e óleo”, conta. O governador diz não ter conhecimento se o Grupo André Maggi, do qual é acionista, também suspendeu o esmagamento de soja. “Não tenho conversado com o pessoal da Maggi”, diz. Estima-se que o plantio de soja no estado caia 30% na safra 2006/07. “A situação pode se agravar mais se os produtores continuarem sem apoio. O agronegócio é tudo o que nós temos no estado”, afirma Maggi.

Os protestos do chamado “Grito do Ipiranga” já reúnem produtores de 70 municípios do Mato Grosso e Mato Grosso do Sul. Ontem, produtores da região de Alto Araguaia (MT) interromperam o trânsito da Ferronorte. “Os produtores colocaram tratores sobre os trilhos da ferrovia”, conta o vice-presidente da Associação dos Produtores de Soja do Mato Grosso (Aprosoja), Glauber Silveira. Segundo ele, 56 vagões carregados com farelo de soja foram impedidos de seguir pela ferrovia, que liga o Mato Grosso ao Porto de Santos. A paralisação da Ferronorte agrava o escoamento da soja e de seus derivados – farelo e óleo -, cada vez mais prejudicado pelo movimento que bloqueia estradas e interrompe o carregamento de caminhões nos armazéns do Centro-Oeste. “Ainda não há atrasos nos embarques em Paranaguá, devido aos estoques das empresas, mas isso poderá ocorrer a partir do fim de semana”, diz Renato Sayeg, da Tetras Corretora.

Em Goiás, a expectativa é que as manifestações dos produtores se concentrem no dia 16, quando representantes dos estados levarão suas reivindicações a Brasília. A goiana Selecta, empresa que produz farelo de soja para o mercado interno e exporta soja em grão pelo Porto de Tubarão, em Vitória, não teve problemas de abastecimento até ontem, segundo o diretor administrativo e financeiro, Hugo Alexandre S. Braga. “Aumentamos o estoque no porto, para nos prevenirmos contra eventuais dificuldades. Intensificamos o movimento diário de transporte de soja até o porto em relação ao previsto em até 20%”, diz.