As retenções (imposto sobre exportações) e os efeitos negativos do clima estão fazendo com que grandes grupos argentinos intensifiquem um movimento migratório, expandindo sua área de produção no Brasil e no Uruguai. MSU, El Tejar e Los Grobo são exemplos de empresas que estão apostando no cultivo de soja para além da fronteira e, ampliando, em média, 80% da área plantada no Brasil. O fenômeno se apresenta de forma tão significativa que em alguns casos a Argentina deixou de ser a principal plataforma de plantio.
Oscar Alvarado, presidente da El Tejar, afirmou ao jornal La Nación que a aposta no plantio em países vizinhos tem um claro significado para a companhia. “Incrementamos nossa presença no Brasil e no Uruguai. No Brasil, com um incremento de 80%. No Uruguai, subimos entre 15% e 20%”, disse. A empresa luta para manter a produção na Argentina, o que está cada dia mais difícil em razão das altas taxas para exportação cobradas pelo governo e pela estiagem. No final do mês de novembro, a El Tejar irá promover uma reunião junto a outras entidades agrícolas para avaliar as oportunidades na produção e comercialização da soja no País além do curto prazo.
A Los Grobo, segunda maior produtora de soja da Argentina, também divulgou que pretende duplicar a extensão de suas terras em um período de três a quatro anos e o Brasil será o principal foco dessa expansão. Hoje a companhia realiza 50% de sua produção na Argentina, 30% no Uruguai e 20% no Brasil. “O crescimento terá de ser feito principalmente através do Brasil, porque o Brasil é onde há a maior parte do espaço físico disponível para crescer”, avaliou Gustavo Grobocopatel, presidente da Los Grobo. “Nossas terras atualmente ocupam 250 mil hectares e acreditamos que a empresa deveria operar o dobro dessa área no prazo de três a quatro anos”, destacou o presidente do grupo. A empresa produz 2,5 milhões de toneladas de soja ao ano, e pretende colher pelo menos 4 milhões de toneladas até a safra 2013/2014.
Grobocopatel explica que a produção na Argentina caminha para a estagnação e restam apenas 3 ou 4 milhões de hectares para expandir as lavouras, e essas são áreas, na maioria, de qualidade inferior, enquanto no Brasil há 20 milhões de hectares de áreas de primeira qualidade prontas para serem desenvolvidas. O principal executivo da Los Grobo salienta que o preço da terra é importante, mas o grau de desenvolvimento do setor agrícola no Brasil é um grande atrativo.
A Los Grobo, de controle familiar, já opera no Brasil em parceria com o fundo de investimento Vinci Partners.
Outra empresa familiar, a MSU, também quer continuar mantendo a Argentina como seu principal foco, no entanto, segundo Manuel Santos Uribelarrea, presidente da companhia, a empresa irá crescer 90% no Brasil; 15%, no Uruguai e 31%, no Paraguai. A companhia tem ainda projeção de crescimento para outros países da América do Sul.
Assim como o Brasil, o Uruguai também sofre uma verdadeira invasão argentina. De acordo com levantamento feito pela Federação Rural do Uruguai cerca de 35% do 1 milhão de hectares cultiváveis no País pertencem a produtores argentinos. Os uruguaios até criaram a expressão “sojização” para apontar o fenômeno.
“Nossa produção de soja vem se superando ano a ano e irá atingir um recorde nessa safra. Grande parte disso se deve a entrada de produtores argentinos no Uruguai. É uma presença cada vez mais importante e que acontece de forma crescente”, avaliou Diego Risso, secretário-geral da Associação de Sementes das Américas (SAA), órgão uruguaio que controla a comercialização de sementes no País.
Safra argentina
Além das altas taxas para exportação cobradas pelo governo argentino, o clima também tem se mostrado um importante complicador. Dez dos 30 milhões de hectares agrícolas da Argentina correm risco de não produzirem nada este ano.
A persistente estiagem que prejudica o País há meses, especialmente na região oeste, começa a colocar em dúvida até mesmo a produção recorde de soja. Na Bolsa de Cereais de Buenos Aires as expectativas são negativas. “Há um estado de alerta pelo clima ruim”, disse Ricardo Baccarin, vice-presidente da corretora Panagrícola. Ele comentou que restam cerca de dez dias para semear a soja de primeira (a de maior rendimento) na região central do País.
A região de maior preocupação é a Província de Córdoba, onde a água é escassa até para o consumo da população. Dos 19 milhões de hectares projetados para a plantação de soja na Argentina na safra 2009/2010, segundo a Associação de Produtores de Soja da Argentina, 4 milhões estão em Córdoba.
Por falta de umidade, somente 15% da área foi instalada. “Se dentro dos próximos 15 dias não cair a chuva necessária para os solos, grande parte desses hectares serão plantados com a soja de menor rendimento”, alertou Baccarin. As projeções de uma colheita de soja de 52 milhões de toneladas já estão sendo rebaixadas para 50 milhões de toneladas. Se a seca persistir, a revisão para baixo também vai continuar.