A esperança dos produtores brasileiros de que a forte disparada nos preços da soja no ano passado possa se repetir em 2013 ainda “segura” as negociações com a oleaginosa no país. Há um ano, a cotação do produto nacional foi turbinada por problemas climáticos que derrubaram a oferta da commodity nos Estados Unidos, e agora o temor com a possível volta de um tempo mais quente e seco no cinturão produtor americano aumentou a expectativa de novas valorizações.
“Os negócios estão realmente lentos, e como o produtor está capitalizado, há mesmo uma opção por segurar a soja”, afirma Jerson Carvalho Pinto, da Diversa Corretora de Cereais, em Rondonópolis (MT). Atualmente, o preço oferecido pela saca na região está em torno de R$ 52 para o produto com entrega em fevereiro (já referente à safra 2013/14, que começa a ser plantada em setembro) e R$ 60 pela saca disponível no mercado. Segundo o corretor, entretanto, o valor pedido está entre R$ 62 e R$ 63 no disponível, e R$ 53 e R$ 54 no futuro, o que trava as vendas. “O pessoal vai comercializar em doses homeopáticas até onde aguentar”.
No auge da tensão climática nos Estados Unidos em 2012, entre agosto e setembro, a oleaginosa chegou a ser negociada a mais de R$ 70 por saca em Mato Grosso. Ocorre que, à época, muitos agricultores haviam vendido boa parte da safra antes desse pico de valorização, o que os impediu de tirar proveito máximo do tombo da colheita americana. Por isso, nesse momento a palavra de ordem entre os produtores é paciência.
Levantamento feito pelo Instituto Mato-grossense de Economia Agropecuária (Imea) ilustra bem a apatia na comercialização. Atualmente, as vendas antecipadas da safra 2013/14 de soja no Estado chegam a 26,7% (ou quase 7 milhões de toneladas), atraso de significativos 28,3 pontos percentuais ante o mesmo período do ciclo 2012/13. Na comparação com a média das últimas três temporadas, as vendas estão 6,2 pontos percentuais atrás. Nem mesmo a recente valorização do dólar em relação ao real, que se refletiu no aumento dos preços da oleaginosa no mercado futuro, foi suficiente para a volta às vendas: os produtores elevaram a comercialização em apenas 5 pontos percentuais em julho ante junho, diz o Imea.
Já as vendas da safra 2012/13 mato-grossense avançaram 4,4 pontos percentuais em relação ao mês passado, para 93% de um total de 23,58 milhões de toneladas. Ainda assim, o valor fica 6,7 pontos percentuais abaixo do ano anterior, quando praticamente toda a soja já havia sido negociada. Em boletim divulgado no início da semana, o Imea classificou como “arriscada” a postura de reter a produção “pois os preços podem vir a cair e piorar ainda mais a remuneração dos produtores”.
No Paraná, segundo maior produtor de soja do país, um corretor relata que as vendas antecipadas da safra 2013/14 não chegam nem a 10%, em relação aos 25% a 30% do mesmo período da temporada passada. Da safra já colhida, a 2012/13, ainda restam em torno de 25% (ou cerca de 4 milhões de toneladas) para serem negociados no Estado; a essa altura, no ano passado, toda a produção já havia sido contratada. “O produtor está com medo de perder dinheiro se a soja subir e tem preferido aproveitar para vender apenas quando há algum repique de preços”, relata.
No momento, a soja disponível está cotada a R$ 70 no porto de Paranaguá. As entregas programadas para março saem a R$ 63 por saca. “Com esse valor, descontado o frete e demais custos, o produtor está recebendo no interior R$ 53 ou R$ 54 por saca, mas gostaria de uns R$ 55”, afirma o corretor.
Já a soja gaúcha com entrega em maio no porto de Rio Grande tem sido negociada a R$ 67 por saca, mas o frete elevado – em torno de R$ 5 por saca – acaba por tornar a venda menos atrativa para os cerealistas. No mercado físico, as cotações estão em torno de R$ 68 em Passo Fundo, mas o produtor espera algo acima de R$ 70 para fechar negócio.
Segundo Claiton dos Santos, sócio-diretor da TS Corretora, do município de Passo Fundo, as vendas são pontuais, apenas para o cumprimento de compromissos financeiros. “No fim do mês, há alguns vencimentos de financiamentos de custeio das lavouras do ano passado, mas o governo já tem liberado verbas da próxima safra. Então, parte dos produtores pode utilizar esses recursos para quitar dívidas e ir segurando o grão, em busca de cotações ainda melhores”, explica.
Na ponta compradora, o mercado também esfriou nos últimos 15 dias no Rio Grande do Sul. “Existe liquidez, há compradores interessados, mas não tem uma euforia de compra a qualquer custo”, afirmou dos Santos. A percepção do corretor é que entre 15% e 20% da nova safra já foi vendida no Estado; da temporada 2012/13, devem restar em torno de 30% para serem negociados.
De forma geral, a expectativa é que, conforme a situação da safra americana ganhar contornos mais definidos, entre o fim de agosto e o início de setembro, as negociações da soja no Brasil caminharão a passos mais largos.