O fenômeno La Niña poupou a safra gaúcha, e a colheita das culturas de verão está começando em clima de otimismo no Rio Grande do Sul. A chuva voltou em fevereiro e mesmo durante o período mais severo da estiagem, de novembro até o mês passado, a seca concentrou-se na metade sul do Estado, onde predominam as plantações de arroz irrigado. Na parte norte, que responde pela maior parte da produção de milho e soja, a umidade foi suficiente para o bom desenvolvimento das lavouras.
“Está indo tudo muito bem”, afirma o gerente técnico da Emater-RS, Dulphe Pinheiro Machado Neto. Segundo ele, em breve será divulgada nova estimativa de produção no Estado e no caso do milho, que está com 26% da área colhida, há boas chances de a projeção inicial de 4,6 milhões de toneladas ser superada. No ciclo 2009/10, a cultura rendeu 5,6 milhões de toneladas, 500 mil a mais do que a previsão original, graças ao clima favorável do período.
Na soja, as primeiras plantações começaram a ser colhidas nesta semana, e Machado Neto ainda não arrisca prever se a estimativa inicial de 9,1 milhões de toneladas será superada. No ciclo passado, o Estado produziu 10,5 milhões de toneladas do grão, ou 25% a mais do que a Emater-RS projetou no início do plantio. Mais otimista, o analista Antônio Sartori, da Brasoja, acredita que a safra gaúcha será ainda maior do que 10,5 milhões de toneladas.
A colheita também começou nesta semana nas plantações de arroz. Em algumas áreas, chegou a haver problemas de germinação em novembro, mas os produtores puderam recorrer aos mananciais para irrigar as sementes. “Os problemas foram sanados e se houver perdas de área elas serão irrisórias e localizadas”, explica o presidente do Instituto Riograndense do Arroz (Irga), Cláudio Brayer Pereira.
O Irga prevê uma produção de 8,8 milhões de toneladas de arroz em 1,17 milhão de hectares plantados no Rio Grande do Sul. Em 2009/10, a safra atingiu 6,8 milhões de toneladas em 1,05 milhão de hectares colhidos, segundo o instituto. A área semeada havia sido de 1,09 milhão de hectares, mas enchentes destruíram algumas lavouras.
Com a produção em alta, a principal expectativa dos agricultores, agora, é com a recuperação das cotações pelo menos até o preço mínimo de R$ 25,80 (para o arroz tipo 1 com 57% a 59% de grãos inteiros), conforme o presidente da Federação dos Arrozeiros do Estado (Federarroz), Renato Rocha. Os produtores também reclamam das importações do Mercosul. Conforme a Emater-RS, o preço médio da saca está em R$ 22,18, 36,4% a menos do que no mesmo período do ano passado.
A situação levou o governo federal a socorrer os arrozeiros, e ontem a Conab iniciou as operações de aquisição do produto (AGF) pelo preço mínimo. No total, serão adquiridas 360 mil toneladas de arroz no Estado e em Santa Catarina. Também haverá leilões de Prêmio de Escoamento de Produto (PEP) de mais 1,02 milhão de toneladas.
Nas demais lavouras de verão, a situação é inversa. Com a saca a R$ 45,93, alta de 13,2% em 12 meses, os produtores gaúchos de soja já comercializaram 2,5 milhões de toneladas da safra 2010/11, ante menos de 1,5 milhão de toneladas do ciclo 2009/10 vendidas em fevereiro do ano passado, afirma Sartori, da Brasoja. Pelo milho, os agricultores estão recebendo R$ 23,44 por saca, alta de 37,6% em um ano.