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"Mapitoba", a mais nova fronteira agrícola brasileira, ganha maturidade nesta safra

Na região que abrange Maranhão, Piauí, Tocantis e Bahia, a colheita de soja deverá aumentar 35% na temporada 2013/14, segundo cálculos da Conab.

"Mapitoba", a mais nova fronteira agrícola brasileira, ganha maturidade nesta safra

A despeito da irregularidade nas chuvas, a expectativa é que a safra de soja na região de Cerrado conhecida como “Mapitoba”, na confluência entre os Estados de Maranhão, Piauí, Tocantins e Bahia, registre forte aumento e colabore com a colheita recorde nacional prevista em 90 milhões de toneladas nesta safra 2013/14. Nos cálculos da Companhia Nacional de Abastecimento (Conab), os quatro Estados, juntos, devem colher 9,2 milhões de toneladas da oleaginosa, 35% mais que no ciclo 2012/13, quando as lavouras foram afetadas por uma grave seca.

Proporcionalmente, a maior reação será no Piauí, onde a Conab estima que a produção vai dobrar, de 917 mil para 1,754 milhão de toneladas, volume também bem superior ao de 2011/12 (1,263 milhão de toneladas). “Viemos de dois anos seguidos de problemas com estiagem. No ano passado, sofremos também com a lagarta helicoverpa. Mas, nesta safra, fizemos um manejo preventivo contra a praga, que está instalada mas não tem causado danos às lavouras”, disse Sérgio Bortolozzo, produtor em Uruçuí, um dos principais polos piauienses de produção, e vice-presidente da Aprosoja Brasil.
 
Parte do Piauí foi declarada em estado de emergência fitossanitária por conta da helicoverpa no início de dezembro. Com a lagarta sob controle, a expectativa é que a produtividade no Estado supere 50 sacas (3 toneladas) por hectare, ante 35 sacas (2,1 toneladas) na safra passada e uma média histórica de 45 sacas (2,7 toneladas). “Estamos com o plantio adiantado em 15 dias em relação ao ano passado. Os trabalhos já foram concluídos em 80% da área prevista”, afirmou Bortolozzo.

Em Balsas, principal polo de produção de grãos do Maranhão, a semeadura já alcançou 95% da área total prevista e a perspectiva é que o rendimento também supere as 50 sacas por hectare e chegue a 52 (3,12 toneladas), aposta Valdir Zaltron, presidente do sindicato rural do município. A Conab previu uma produtividade média de 2,97 toneladas por hectare para o Estado, 3,3% superior a da temporada anterior.

O custo de produção, por sua vez, também subiu, em parte por conta da helicoverpa. “A praga está bem controlada aqui na região. Mas todo mundo fez uma reserva de defensivos para usar caso a infestação fique mais agressiva”, disse Zaltron. O gasto para a implantação de um hectare de soja ficou em R$ 1,3 mil hectare este ano, em média, ante R$ 1,2 mil em 2012. A Conab estima uma produção de 1,84 milhão de toneladas de soja no Maranhão, crescimento de 9,5% em relação ao ciclo passado.

Na Bahia, fronteira mais antiga do “Mapitoba”, a expectativa é de uma colheita 36% maior, de 3,66 milhões de toneladas. Assim como o Piauí, parte da Bahia também entrou em emergência fitossanitária por conta da praga – aliás, foi justamente no oeste do Estado que os primeiros relatos de danos mais significativos causados pela lagarta surgiram na safra passada, com prejuízos estimados em R$ 2 bilhões. Mas, para satisfação dos produtores, as chuvas recentes têm contribuído para o combate à helicoverpa, na medida em que ajudam a derrubar a lagarta dos galhos e danificar os casulos.

“Houve um volume de chuvas satisfatório nos últimos dez dias e as lavouras estão vindo bem. O pessoal está até querendo que dê uma folguinha [na umidade] para plantar mais”, disse Luiz Stahlke, assessor de agronegócio da Associação dos Agricultores e Irrigantes da Bahia (Aiba). A semeadura na região oeste, onde se concentra o plantio, começou no fim de outubro, mas foi interrompida por uma estiagem durante dez dias no mês passado. No fim de novembro, as chuvas voltaram e os produtores avançaram com os trabalhos, agora já encerrados.

Em Tocantins, muitos produtores ainda temem as consequências das chuvas inconstantes. O centro do Estado é o mais prejudicado pela escassez das precipitações. “As chuvas começaram, mas depois deram uma trégua quando parte das lavouras já estava em pleno desenvolvimento vegetativo”, afirmou José Américo Vasconcelos, supervisor de desenvolvimento vegetal da Secretaria da Agricultura e Pecuária de Tocantins.

O produtor João Damasceno de Sá Filho já encerrou a semeadura de 1,170 mil hectares no município de Pedro Afonso, mas está tenso com a ausência de umidade. “Plantamos cerca de 50% da área com soja precoce, que sofre muito com a falta de chuvas nessa época. Em novembro, ficamos 14 dias sem precipitações”.

Este ano, Sá fez uma adubação mais pesada na primeira safra, o que acabou por elevar seus custos de produção de R$ 1,3 mil por hectare, na temporada passada, para R$ 1,6 mil em 2013/14. A expectativa inicial era de uma produtividade média de 3,4 toneladas por hectare. “Mas talvez não consigamos expressar o potencial máximo da produção, por conta do clima”.

Vasconcelos está mais otimista e acredita que, com o retorno das chuvas esta semana, a produção de Tocantins não ficará comprometida. A previsão da Conab é que o Estado colha 1,94 milhão de toneladas de soja neste ciclo, um incremento de 26%.

Para Marco Antônio dos Santos, da Somar Meteorologia, essa semana será um divisor de águas nas condições do clima no país. “A partir de agora, as chuvas diminuem no Sul e aumentam no Centro-Norte. Para esse início de desenvolvimento das lavouras, não estão descartadas quebras de produção localizadas, como acontece todo ano no Mapitoba. Mas as chuvas devem ficar dentro da normalidade, sem estiagens muito prolongadas”, disse.

Estimativas divulgadas ontem pelo Ministério da Agricultura indicam que o Valor Bruto da Produção (VBP) da soja nos Estados de Maranhão, Piauí, Tocantins e Bahia deverá somar R$ 6,785 bilhões em 2013, 12,3% menos que em 2012 (R$ 7,737 bilhões) por conta sobretudo dos problemas climáticos. A expectativa é de forte aumento em 2014.