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Menor ritmo desde 2000 nas vendas antecipadas de soja

<p>O dólar prejudicou a venda do insumo.</p>

Redação (15/09/06)- O paulista José Roberto Bortolozzo plantou 12,5 mil hectares de soja em Uruçuí (PI) e já negociou com tradings a entrega de 10% de sua lavoura em troca de insumo. “Mantive a área com um esforço danado. Mas está difícil vender a soja por causa do câmbio. O dólar judiou demais”, afirma. A reclamação de Bortolozzo é igual à dos demais sojicultores do país. Mas ele conta com um ponto a seu favor: planta em uma região onde as indústrias estão mais dispostas a fazer a compra antecipada de soja.

Levantamento feito pela Agência Rural aponta que as vendas de soja da safra 2006/07 estão mais lentas este ano. Em torno de 6% da área plantada (estimada em 25,5 milhões de hectares) foi contratada por esmagadoras e indústrias de insumos, contra 7% em setembro de 2005 e ante média de 30% desde 2000. Nas regiões Norte e Nordeste, o ritmo acelerou de 2% para 9%.

No Piauí, praticamente não havia venda antecipada o ano passado e agora chega a 5% da área (230 mil hectares). “A proximidade com os portos foi um fator que aproximou as indústrias dos produtores do Norte e Nordeste”, diz Seneri Paludo, analista da Agência Rural.

Levantamento da Associação Nacional dos Exportadores de Cereais (Anec) aponta crescimento dos embarques de soja pelos portos do Norte e Nordeste. O porto de Santarém (PA) embarcou até setembro 640 mil toneladas, 34% mais que em igual período de 2005. O porto Ponta da Madeira (MA), elevou os volumes em 585%, de 967 mil para 1,411 milhão de toneladas. No Brasil, a expansão foi de 20%, para 19,5 milhões.

José Luiz Glazer, diretor do complexo soja da Cargill, reconhece a proximidade com os portos como facilitador das negociações. Ele diz que a empresa está mantendo o mesmo ritmo de compra antecipada do ano passado, em torno de 15% do que pretende negociar no ano safra. “A preferência é negociar com produtores com quem a empresa já atua há muitos anos e tem garantias de recebimento.”

Nos últimos 30 dias, no entanto, as negociações estão paradas. Fernando Pimentel, analista da Agrosecurity Gestão de Agro-Ativos, observa que os preços internacionais caíram 60 centavos nos últimos 30 dias. O contrato com entrega em março negociado em Chicago está agora a US$ 5,55 por bushel. “O preço inviabiliza a rentabilidade dos produtores, que preferem não fechar negócios. A tendência é que a safra seja comercializada em ritmo muito lento este ano”, afirma Pimentel.

Leandro Mussi, que planta 940 hectares em Lucas do Rio Verde (MT), afirma que o preço pago pelas indústrias para contratar um hectare está mais baixo, por conta dos preços internacionais em queda. Segundo ele, ano passado, as indústrias adiantavam US$ 6 a US$ 7 por saca e pagavam 45 sacas por hectare. “Este ano elas pagam US$ 5 por saca e 42 sacas por hectare. O financiamento baixou de US$ 315 por hectare para US$ 210”, compara. Mussi negociou este ano 50% de sua área, contra 70% em 2005. Mussi diz que está mais difícil fechar contratos este ano. A maior parte das vendas foram feitas com as indústrias de insumos e esmagadoras, que contratam uma parte da lavoura em troca de sementes, defensivos e adubos.

Antônio Galvan, que planta 1 mil hectares de soja em Sinop (MT), observa que as indústrias estão exigindo mais garantias reais de pagamento, como hipoteca de imóveis e terrenos. E se antes as indústrias financiavam parte da safra em dinheiro, agora o fazem apenas com insumos. “A indústria dá adubo, semente ou defensivo, para garantir que produtor vai usar o dinheiro para plantar, e não para pagar dívidas”, diz.

A situação não é diferente com os bancos. Até a safra passada, eles exigiam uma garantia real no valor equivalente à dívida. Agora, querem o dobro da garantia (por exemplo, para um crédito de R$ 1 milhão, um imóvel no valor de R$ 2 milhões), além da exigência de seguro rural e plantio nas áreas zoneadas pelo governo. Tudo para evitar que o produtor não pague por quebras de safra.