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Mercado para não-transgênicos deve diminuir

<p>Afirmação é do economista agrícola Graham Brookes, da empresa britânica de consultoria em agricultura e alimentação PG Economics.</p>

Da Redação 27/09/2005 – O economista agrícola Graham Brookes, da empresa britânica de consultoria em agricultura e alimentação PG Economics, afirmou na manhã desta segunda, dia 26, durante o IV Congresso Brasileiro de Biossegurança, que nos próximos anos o cultivo de grãos transgênicos deve aumentar, ao passo que a demanda por produtos tradicionais sofrerá queda. Conforme Brookes, isso acontece porque a produção com cultivares geneticamente modificadas (GM) é mais vantajosa economicamente, tornando os alimentos produzidos de forma tradicional mais caros para o consumidor final.

Brookes destacou que 85% dos grãos importados pela Europa para a produção de ração animal e de alimentos são transgênicos, e que os 15% restantes são utilizados por indústrias voltadas para um mercado consumidor mais exigente, que faz questão de não consumir organismos geneticamente modificados. O economista lembrou que a segurança de alimentos transgênicos para a saúde humana não é sua especialidade, mas que até hoje não foram encontradas evidências concretas de que OGMs representam algum perigo para o ser humano.

Conforme o especialista, o mercado de soja não-transgênica deve se resumir a 5 ou 6 milhões de toneladas anuais, e o restante será suprido por culturas de grãos geneticamente modificados menos dispendiosas porque exigem menores gastos e cuidados com a lavoura.

No futuro, se um agricultor brasileiro tiver que escolher entre organismos geneticamente modificados ou não, ele vai escolher o que dá maior retorno financeiro. Se a Europa não quiser grãos GM, terá que pagar um prêmio por isso, o que vai tornar o produto muito caro.

Brookes apresentou a um grupo de jornalistas os principais resultados de um estudo intitulado Lavouras GM: Impactos econômicos e ambientais globais Os primeiros nove anos, 1996-2004″. O trabalho, desenvolvido por Brookes em parceria com Peter Barfoot, aguarda revisão e publicação na revista especializada norte-americana The Journal of Agrobiotechnology, Management, & Economics AgBioForum, e deve ser divulgado integralmente em outubro. 

Questionado sobre a existência de risco de danos à biodiversidade e eventuais prejuízos ao meio ambiente, e também sobre o motivo de tanto temor em torno dos transgênicos por parte da população, Brookes afirmou que as Organizações Não-Governamentais (ONGs) que militam contra os organismos geneticamente modificados trabalham com mitos, e não com dados científicos.

Com todas evidências que mostram menos danos ao meio ambiente, talvez os governos e as pessoas devessem ouvir menos as ONGs, porque elas estão levando a políticas que são negativas para o meio ambiente. 

Os dados apresentados por Brookes apontam benefícios econômicos e ambientais que cultivos geneticamente modificados proporcionaram entre 1996 e 2004. Conforme o estudo, o plantio de variedades transgênicas contribuiu para a redução da emissão de gases do efeito estufa como conseqüência do menor uso de máquinas e combustível no preparo do solo, promovendo ainda seqüestro de carbono pelo uso do plantio direto.

Brookes destacou que as culturas transgênicas reduziram o volume de pesticidas utilizados globalmente em 6% desde 1996, e que no Brasil este decréscimo foi de 3,2 milhões de quilos de agroquímicos o que equivaleria a uma redução de 4% no impacto ambiental associado ao cultivo da soja, conforme metodologia que mede os efeitos de cada elemento químico dos pesticidas no meio ambiente elaborada pela universidade de Cornell, nos EUA.

O economista apresentou benefícios econômicos no nível de produção, afirmando que desde 1996 a renda agrícola global cresceu US$ 27 bilhões o equivalente a uma adição de 3% a 4% ao valor da produção global das quatro principais culturas biotecnológicas (soja, milho, algodão e canola). No Brasil os produtores de soja ganharam um valor adicional de US$ 829 milhões ou 3% do valor da produção nacional.

Graham Brookes rechaçou a possibilidade de encarecimento do cultivo de alimentos em função do pagamento de royalties e da concentração das pesquisas em agrobiotecnologia apenas nas mãos de algumas grandes empresas.

Não podemos subestimar a inteligência do agricultor. O produtor não é burro, e se ele não tiver retorno, ele não vai usar a semente transgênica.

Brookes explicou que por motivos econômicos as grandes empresas que detêm a patente de sementes transgênicas não têm interesse em investir em culturas localizadas e produzidas em menor escala, e devem concentrar seus esforços principalmente no aperfeiçoamento de variedades transgênicas de soja, milho e algodão.

A criação de variedades transgênicas para produtos de menor interesse comercial, produzidos em pequena escala, ou que são de pouca apropriabilidade pela empresa porque o agricultor pode guardar a semente, vai ficar a cargo das empresas públicas de pesquisa concluiu.

O IV Congresso Brasileiro de Biossegurança e IV Simpósio Latino-Americano de Produtos Transgênicos ocorre em Porto Alegre, no Rio Grande do Sul, até a próxima quinta-feira, dia 29. O evento é promovido pela Associação Nacional de Biossegurança ANBio.