Situação Mundial
A primeira das boas notícias é que os preços nos Estados Unidos se mostram resistentes às notícias de uma grande safra que está em processo de colheita por lá. É certo que parte dessa resistência vem da especulação sobre o efeito do clima sobre as operações de colheita da safra. Notícias de geadas ou de chuvas fazem o preço subir, com bom tempo o preço desce. É disso que vive a bolsa. Mas, mesmo no meio destas flutuações de curto prazo, o preço do milho nos EUA parece bem comportado, estando no intervalo entre US$ 3,00 e US$ 4,00 por bushel. Esse valor é semelhante ao verificado na safra de 2007, anterior à do ano de 2008, que não pode ser levada em consideração para efeito de acompanhamento. A diferença entre o comportamento dos preços nas safras de 2007 e de 2009 está no movimento maior de depressão desses preços no período posterior à definição do tamanho da safra nos Estados Unidos. Essa depressão foi maior em 2009 (lógico, se considerarmos que esta safra ocorre em um período pós-crise e a quantidade a ser colhida é maior do que a de 2007). Porém, mesmo com as definições favoráveis referentes a esta safra, os preços não caíram abaixo dos US$ 3,00 por bushel e se encontram em tendência de alta por aproximadamente dois meses.
O outro preço de referência, o do petróleo, também se mostra em tendência de alta, o que dá suporte ao preço do etanol, fortalecendo um setor de produção que hoje é vital para o escoamento da safra de milho. Nos últimos três anos, a produção de milho aumentou em cerca de 60 milhões de toneladas nos EUA. Dessas, 50 milhões foram destinadas à produção de etanol. Tal consumo tende a se intensificar, tendo em vista o previsto na política americana de aumento do uso de etanol de 10,5 milhões de galões neste ano para 12 milhões no ano que vem e para 15 milhões em 2015. Haja milho!
O relevante é que, a partir de uma visão rápida da situação dos preços atuais em comparação aos verificados há um ano, observa-se que a maioria deles já se encontra em níveis superiores aos verificados naquela época, indicando aparentemente que o pior já passou e que entramos novamente em um período de normalidade e de recuperação.
Na Argentina, continua o processo de redução de área plantada com milho (menos 500 mil ha, para uma área projetada em 1.870 mil ha). Apenas para comparação, essa projeção de área plantada é inferior à da região Sudeste do Brasil (a vantagem deles é o rendimento de campo, ainda superior ao nosso). A relevância da Argentina como produtor continua em seu baixo consumo, o que libera produto para exportação, que, nos níveis atuais, já se mostra semelhante à dos brasileiros (ao redor de 6 milhões de toneladas). Parte dessa diminuição na participação da Argentina no mercado internacional de milho é decorrente da política de retenções implantada pelo governo a fim de controlar os preços internos (sobrando a conta, como sempre, para os produtores agrícolas).
Na Europa, continuam as notícias da queda de braço entre os países que optaram por permitir a importação de transgênicos (normalmente países consumidores) e os países que são contrários (principalmente os produtores de milho, como a França). Cada um deles tem suas razões, uns desejando adquirir milho mais barato em um mercado mais livre e outros perpetuando a postura protecionista, via reserva de mercado e subsídios. Com a introdução do milho transgênico no Brasil, praticamente se extinguem as possibilidades de aquisição de milho não transgênico no mercado internacional, visto que os três maiores exportadores (EUA, Argentina e Brasil) não segmentam a produção e não segregam no armazenamento.
Situação Interna
Como a colheita já terminou, as preocupações no Brasil derivam para a comercialização e para as perspectivas da nova safra.
No lado da comercialização, a reação dos preços começa a aparecer com a proximidade do fim do ano, período de maior consumo pela indústria de carnes (principalmente suínos e aves). A reação tem se verificado principalmente em dois estados consumidores, Santa Catarina e São Paulo, onde os preços em algumas regiões já atingem valores ao redor de R$ 19,00 / sc. Entretanto, os preços nas regiões produtoras do Centro-Oeste ainda continuam muito baixos, com a situação mais dramática se verificando no Mato Grosso, onde os preços andam pela casa dos R$ 10,50 / sc.
Na área governamental, a política implementada de sustentação de preços tem contribuído para a retomada das exportações. No mês de setembro, foram exportadas 715 mil toneladas (quase o dobro do mês de agosto), com o total do ano ultrapassando as 4,5 milhões de toneladas. Do total exportado em setembro, cerca de 510 mil toneladas foram oriundas do Mato Grosso e são resultado da política de sustentação de presos implantada, principalmente neste estado, após a colheita da safrinha. Do total exportado durante o ano de 2009, cerca de 2,5 milhões de toneladas vieram do Mato Grosso. O problema é que, se as exportações estão crescendo, as importações também estão acontecendo e, de certa forma, reduzindo os efeitos das exportações sobre o mercado interno. No mês de setembro, foram importadas 128 mil toneladas de milho do Paraguai (um total de cerca de 700 mil toneladas durante o ano).
Apesar de crescentes, as exportações não são suficientes para retirar o excesso do produto do mercado e continuamos com um estoque relativamente grande, com um alto potencial para afetar o mercado ao longo do próximo ano.
Com relação à nova safra de verão, as estimativas de redução da área plantada são uma constante. A primeira estimativa da Conab (Companhia Nacional de Abastecimento) para a safra de verão no Centro-Sul indica uma redução de área variando em todas as regiões produtoras: tanto no Sul (entre 10 e 14 %), como no Sudeste (entre 4 e 9 %) e no Centro-Oeste (entre 12 e 16 %). Apesar das reduções, a produção não sofreria tanto, devido à recuperação da produtividade na região Sul (em comparação com o péssimo verão de 2009). Nessas condições, e de forma ainda muito preliminar, a variação da produção ficaria entre menos 2,5 % e mais 1,2 % em relação ao verão de 2008/09 no Centro-Sul do Brasil.
No tocante à produtividade das lavouras, as condições vigentes neste início de safra estão perto de muito boas. Parte considerável das lavouras de milho da região Sul já foi plantada e está em boas condições. No Sudeste e no Centro-Oeste, as precipitações que estão ocorrendo de forma antecipada neste ano permitirão o plantio com boas condições de umidade no solo, o que favorecerá o desenvolvimento das plantas em suas fases iniciais. Essas condições também permitiram o plantio antecipado da soja, o que pode favorecer o plantio do milho safrinha em uma época mais favorável. É um bom começo nessas condições climáticas.
A grande novidade da safra de 2009/10 é que ela é, de fato, a primeira safra dos transgênicos de milho no Brasil. A disponibilidade de sementes é adequada, assim como o número de cultivares de milho com versões transgênicas possibilita uma escolha consciente pelos agricultores. Entretanto, deve-se considerar que as cultivares transgênicas são principalmente híbridos simples, o que restringe o número de agricultores que as utilizarão, em decorrência do sistema de produção mais tecnificado associado a seu uso. Números ainda preliminares divulgados pela APPS (Associação Paulista de Produtores de Sementes) indicam uma participação de 28 % no mercado dos transgênicos de milho na região Sul. Considerando as estimativas de área plantada elaboradas pela Conab, esse percentual está bem perto de se constituir uma informação segura. No caso do Sudeste, o percentual vai para 29 %; porém, a quantidade de sementes vendidas (à data do levantamento) ainda é muito inferior à área estimada pela Conab. No Centro-Oeste, o percentual é de 39 % e o mesmo problema com relação à área acontece. Por serem as cultivares transgênicas principalmente híbridos simples, os produtores de milho do Centro-Oeste e do Sudeste que usam híbridos duplos e triplos podem ter deixado para adquirir as sementes mais tarde e os percentuais para as duas regiões podem sofrer alguma modificação nos próximos meses.