O bom volume da última safra de inverno de milho no Mato Grosso, cerca de 8 milhões de toneladas colhidas, vai garantir abastecimento para a indústria alimentícia do produto não transgênico até o mês de fevereiro do próximo ano. Segundo o gerente administrativo da indústria de milho da Cooperativa Integrada, Aldo Sérgio Alves, apesar do crescimento de área plantada de grãos geneticamente modificados (OGMs) – na última safrinha foi de 25% – a empresa tem conseguido comprar matéria-prima não transgênica, fazer estoque e repassar para a indústria.
O setor, por sua vez, tem evitado de todas as formas o uso de OGMs para não ter que rotular a embalagem e, consequentemente inibir o consumo, pois o uso desses produtos ainda é bastante polêmico. Por outro lado, a Integrada tentava que a indústria pagasse um plus pelo produto ”OGM free” (não transgênico), mas não conseguiu. ”A ideia era que, já que a indústria quer o produto convencional, que pagasse um prêmio para isso”, observou Alves.
Ainda não foi dessa vez, mas pelo caminhar da produção de milho no País – na última safra de verão a área plantada foi de 5% de OGMs e a expectativa para o ciclo 2009/10 é de 65% – o comportamento será diferente. Além disso, conforme Alves, uma alteração na emenda que trata sobre a rotulagem de transgênicos em produtos alimentícios industrializados no País, e que pode ser votada até fevereiro, gera expectativa no setor.
Ele explica que um grupo de líderes de partidos está definindo matérias de urgência, que deverão ser votadas pela Câmara, e uma delas é a que derruba a rotulagem, ou seja, não haverá mais necessidade de se incluir um T em negrito dentro de um triângulo em amarelo, quando o uso de matéria-prima OGM for acima de 1% do total do produto. Será necessário, se a emenda for alterada, fazer apenas uma menção de que há no conteúdo da embalagem produto transgênico.
”Até lá ficaremos na expectativa e, se nada for modificado, algumas ações terão que ser definidas para a comercialização do milho convencional”, aponta o gerente da Integrada, lembrando que a tendência é uma área cada vez maior de plantação de milho transgênico. Entre as medidas, o pagamento de prêmio aos produtores que permanecerem plantando as cultivares ”OGM free”. ”Acredito que a própria indústria terá consciência de que deverá pagar mais pelo produto convencional”, diz. Todo o volume de milho transformado pela Integrada é 100% convencional. A expectativa até o final deste ano é transformar 170 mil toneladas do grão. Segundo o gerente da cooperativa, quem planta milho segregado tem garantia de venda.
Alves ressalta que a tendência é que no futuro não exista mais milho totalmente não-transgênico. ”Estamos avaliando que em dado momento o mercado não vai mais oferecer um produto 100% convencional”, pontua ele, destacando que isso poderá acontecer por conta da contaminação de culturas – por exemplo, por pólens de materiais plantados próximos. ”A tendência natural é que se migre para o transgênico”, diz, destacando que os produtores buscam nos OGMs custo menor e produtividade maior. Alves lembra que, atualmente, nos Estados Unidos os produtores são obrigados a plantar 20% do convencional para que os transgênicos continuem resistentes à doenças.