A colheita de verão dos Estados Unidos deve inundar o mercado internacional do milho a partir da metade deste mês. O país pretende remeter ao exterior 48,8 milhões de toneladas, 30,3 milhões a mais do que no ano anterior. Tamanha pressão será decisiva para o desempenho do Brasil, que precisa exportar 3 milhões de t por mês até dezembro para atingir a meta do ano (20 a 21 milhões de t).
O milho brasileiro está saindo em maior volume, mas ainda não alcançou o ritmo das exportações desta época de 2013, mostram os números de agosto. Foram embarcadas 2,46 milhões de toneladas, bem mais que as 592 mil de julho, porém menos que as 3,05 milhões do oitavo mês do ano passado. O cereal ainda perde para a soja, que atingiu 4,12 milhões de toneladas em fase de baixa.
Não é impossível para o Brasil passar de 3 milhões de toneladas/mês agora. Essa média — que, se mantida até o fim do ano, garantiria 20,5 milhões de t exportadas de janeiro a dezembro — foi superada durante setembro de 2012 (3,45 milhões) e de 2011 (3,95 milhões de toneladas).
A questão é que o mercado não tem a mesma predisposição. Embora haja dois navios chineses buscando milho no Porto de Santos, algo que não acontecia até o ano passado, a oferta global voltou à normalidade e está crescendo. O vácuo deixado pela seca que atingiu a safra norte-americana em 2012 — que resultou em dois anos de exportações elevadas de milho brasileiro — foi preenchido.
Pressão dupla
A ampla oferta global derruba os preços. A tonelada de milho em agosto foi vendida pelo Brasil a US$ 193 em média, contra US$ 232 de um ano antes, segundo a Secretaria de Comércio Exterior (Secex).
Como o Brasil é o único grande fornecedor com soja disponível neste momento no mercado mundial, poucas semanas antes da colheita de uma safra recorde nos EUA, os preços em agosto nos portos nacionais não caíram na mesma proporção que os de milho. A tonelada de soja foi negociada a US$ 518 por tonelada no mês passado, ante US$ 538 dólares um ano antes, disse a Secex.
Atualmente, a relação entre estoque global de soja e consumo está em 110 dias, contra 88 dias na média dos últimos cinco anos. Já o estoque final do milho de 2014 será suficiente para 80 dias – ante média de 70 dias no quinquênio. O quadro se agrava porque os EUA preveem colher 12% mais milho (356,4 milhões de t) e 18,5% mais soja (103,8 milhões de t) ante a média dos últimos cinco anos.