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Milho dos EUA deve frear exportações do Brasil

Com início da colheita americana, embarques domésticos tendem a perder força nos próximos meses.

Milho dos EUA deve frear exportações do Brasil

O início de uma colheita superior a 350 milhões de toneladas nos Estados Unidos deve impor dificuldades às exportações brasileiras de milho. A tendência é que o volume de embarques pelo Brasil, que bateu recorde nos oito primeiros meses do ano, seja reduzido nos próximos meses.

O Brasil exportou quase 12 milhões de toneladas de milho entre fevereiro (início do ano comercial 2012/13) e setembro, um aumento de 41% em relação ao mesmo período do ano passado, de acordo com a Secretaria de Comércio Exterior (Secex).
 
A Companhia Nacional de Abastecimento (Conab) prevê, entretanto, que o volume embarcado até o fim da temporada, em janeiro, não deve ultrapassar as 17,5 milhões de toneladas. O número esperado corresponde a uma queda de 21,5% em relação ao recorde de 22,3 milhões de toneladas apurado no ciclo 2011/12 (encerrado em janeiro deste ano).

Se a previsão da Conab estiver correta, o país deve embarcar mais 4,8 milhões de toneladas até janeiro, ou cerca de 1,2 milhão de toneladas por mês. O volume corresponde a pouco mais de um terço das 13,7 milhões de toneladas embarcadas nos quatro últimos meses da temporada 2011/12.

O salto das exportações brasileiras de milho no ano passado deveu-se em grande parte à janela de oportunidade aberta com a seca que devastou a produção e reduziu à metade as exportações americanas de milho no ciclo 2012/13 (que, nos Estados Unidos, vai de setembro a agosto).

Durante esse período, consumidores tradicionais do milho americano, como Japão e Coreia do Sul, tiveram de se voltar ao Brasil, o que fez do país o maior exportador mundial da commodity.

Contudo, essa janela se fecha a partir deste mês, à medida que a safra 2013/14 dos Estados Unidos começa a chegar aos canais de exportação – até a segunda-feira passada, os americanos haviam colhido 12% (aproximadamente 37 milhões de toneladas) do milho plantado durante a primavera.

De acordo com o Departamento de Agricultura dos Estados Unidos (USDA), os americanos devem exportar 31,12 milhões de toneladas durante o ciclo 2013/14, iniciado em setembro – um aumento de 66%. Na outra ponta, as exportações brasileiras devem encolher 26,5%, saindo de 24,5 milhões na temporada 2012/13 para 18 milhões de toneladas na safra 2013/14.

Isso significa ainda que a participação do Brasil nas exportações globais de milho, que alcançaram 26% em 2012/13, deve cair a 17,5% na nova temporada.

Segundo a consultoria FCStone, as exportações nacionais em 2013/14 (que começam em fevereiro do ano que vem, pelo calendário brasileiro) podem ser maiores do que as registradas na safra 2012/13, embora ainda inferiores às de 2011/12. A previsão é que o país embarque 19 milhões de toneladas na próxima temporada, 8,5% a mais do que na atual.

“Se o Brasil produzir o que se espera (ver texto ao lado), vamos ter um grande excedente de milho no ano que vem. E o país não tem outra alternativa a não ser exportar”, afirma Glauco Monte, analista da FCStone.

Monte afirma que a variável dessa equação será o preço. “O preço está mais baixo. Vamos ter de ser competitivos, disputar mercado com o milho da Argentina e da Ucrânia. Vai ser difícil, mas o país tem condição de se manter no mercado internacional”. Desde agosto do ano passado, quando bateram recorde, as cotações do milho na bolsa de Chicago caíram cerca de 40%.

País deve ter excedente recorde do grão 
Desestimulados pelos preços mais baixos, os agricultores devem reduzir em 3,03% a área plantada com milho na safra 2013/14, diz consultoria.

Desestimulados pelos preços mais baixos, os agricultores devem reduzir em 3,03% a área plantada com milho na safra 2013/14, que começou oficialmente em julho, segundo a consultoria FCStone. A expectativa é que a colheita caia na mesma proporção, a 78,86 milhões de toneladas.

O tamanho da próxima safra ainda depende das oscilações do mercado até o fim do ano, uma vez que os produtores de Mato Grosso só começam a plantar o milho após a colheita da soja, a partir de janeiro.

Mas, se a previsão se confirmar, o país terá de lidar com estoques da ordem de 24,8 milhões de toneladas ao fim da temporada, aumento de 36% em relação ao volume remanescente da safra 2012/13 (18,16 milhões de toneladas) e de 321% sobre os restos de 2011/12 (5,87 milhões).

Com isso, o montante total de milho disponível na safra 2013/14 pode chegar a 96,77 milhões de toneladas, ante uma demanda total (mercado interno mais exportações) de apenas 72 milhões de toneladas.

Caso esse cenário se confirme, a relação entre estoque e consumo – que foi de 7,9% em 2011/12 e de 26,1% em 2012/13 – pode chegar a 34,4% nesta temporada. “O mercado interno não consegue absorver todo esse milho”, afirma Glauco Monte, analista da FCStone. Segundo a consultoria, o uso de milho para a produção de etanol seria uma alternativa para fazer frente a um cenário de superoferta. “Os projetos nesta área ainda estão em uma fase incipiente, mas os preços mais baixos e a grande oferta do cereal podem ser um incentivo ao desenvolvimento dessa alternativa”, diz em relatório.