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Milho e carnes

Milho dobra de preço em Chicago e amplia os custos da cadeia da carne no Brasil. Estoques apertados fazem cotações baterem o recorde de US$ 7,85 por bushel.

Milho e carnes

A escalada das cotações do milho parece não ter fim. O aperto nos estoques da safra 2011/12 dos Estados Unidos, promovido pelo Departamento de Agricultura do país (USDA) na semana passada, levou o grão para o mais alto patamar registrado na Bolsa de Chicago (CBOT): US$ 7,85 por bushel (25,4 quilos). Nos últimos 12 meses, o valor médio do produto mais que dobrou no exterior, para a alegria dos produtores agrícolas. A cadeia de carnes, porém, em especial os criadores de suínos, amargam prejuízos cada vez maiores diante do encarecimento da principal matéria-prima da ração animal. No Brasil, a dificuldade do dólar em ultrapassar a barreira dos R$ 1,60 no câmbio interno impede que os preços do cereal subam na mesma proporção, embora remunerem mais do que há um ano. Se comparado a junho de 2010, o preço médio mensal do grão acumula alta de 70% no Paraná, contra 122% na bolsa norte-americana.

Mesmo com fundamentos mais positivos que em 2008, ano histórico para as commodities agrícolas, a forte alta do milho deixa, por outro lado, os participantes do mercado mais suscetíveis a uma liquidação financeira, avalia Glauco Monte, consultor em gerenciamento de risco da FC Stone, de São Paulo. Principais responsáveis pelos altos e baixos na bolsa, os fundos de investimento detêm hoje cerca de 470 mil contratos de milho, o equivalente a cerca de 60 milhões de toneladas do produto, revela o consultor. “É um valor muito alto. Diante de qualquer crise, eles (fundos) podem vender parte desse volume e causar pressão sobre os preços”. Para se prevenir de eventuais desvalorizações, Monte recomenda que os produtores que ainda não venderam nenhuma parte da safra fechem negócios equivalentes ao custeio e carreguem maior parcela da produção de safrinha para frente.

A perspectiva otimista do mercado se deve a um desequilíbrio no quadro de oferta e demanda norte-americano. “Ainda não conseguimos enxergar um ‘teto’ para o milho. O contrato julho, por exemplo, precisa subir até conseguir segurar definitivamente a demanda”, analisa Monte. Ele lembra que as exportações de milho dos Estados Unidos já foram reduzidas, mas há somente rumores de que o consumo interno no país esteja em desaceleração. Em seu último relatório, o USDA aumentou sua estimativa de uso de milho para a fabricação de etanol combustível, de 127 milhões de toneladas para 128 milhões de toneladas. Para a indústria de ração, contudo, houve redução do consumo, provocado pela alta do milho. De acordo com Monte, a valorização do cereal vai fomentar a substituição do grão por outros produtos, como o trigo e o sorgo, por exemplo, na fabricação de ração animal.

Apesar de manter uma projeção de safra recorde para o milho, o USDA cortou cerca de 8 milhões de toneladas da estimativa divulgada mês passado. Com isso, a atrasada safra 2011/12 dos Estados Unidos deve alcançar 335,3 milhões de toneladas, volume que é insuficiente para deixar a relação de estoque e consumo do país em situação confortável. O recuo na produção fez com que os estoques finais do ciclo fossem reduzidos em 5 milhões de toneladas.

A queda na estimativa de produção está atrelada à menor área plantada com o cereal no país. O excesso de chuvas não permitiu que cerca de 5% do terreno ao grão fossem semeados. O diretor da Informa Economics FNP, José Vicente Ferraz, lembra, contudo, que os preços altos deixam os norte-americanos valentes a ponto de assumir maior risco em plantar fora da janela ideal. “Tecnologia eles têm se quiserem plantar o que faltou”, complementa.

O analista da Safras & Mercado, de Porto Alegre (RS), Élcio Bento, concorda que há possibilidades de os norte-americanos ultrapassarem a janela de plantio e complementa que as volatilidades em Chicago são comuns para esta época do ano. “É tempo de colheita da safra de inverno de trigo e de desenvolvimento da de primavera. Por isso o mercado de clima ‘corre solto’. A alta recorde do milho, aliás, é que segura as valorizações do trigo neste momento”, conclui. A soja, que é plantada ao mesmo tempo em que o cereal nos Estados Unidos, também tem no milho um fundamento altista, embora sofra desvalorizações. “Não fosse o milho, a soja e o trigo estariam caindo mais”, conclui.