O primeiro semestre de 2010 foi marcado pelo excedente de oferta nos mercados interno e externo de milho, o que pressionou as cotações do cereal no período. Já no segundo semestre, houve forte recuperação dos preços, impulsionados pelo aquecimento nas demandas brasileira e mundial.
Para o Brasil, no primeiro semestre, o governo favoreceu escoamento dos estoques, por meio de leilões, o que manteve a renda do produtor. No último quadrimestre do ano, as exportações brasileiras decolaram, reduzindo a disponibilidade interna e elevando as cotações do cereal. Com isso, no final do ano, o governo efetuou vendas do milho de estoques públicos, na tentativa de disponibilizar o produto para regiões deficitárias (como Norte e Nordeste), além de limitar o ritmo de alta nos preços. Em termos mundiais, a demanda firme, por conta do crescente uso de milho na produção de etanol nos Estados Unidos, deu o tom altista.
De modo geral, desde início do ano, as atenções de agentes estiveram voltadas ao clima e às atividades de campo. Em janeiro, o elevado volume de chuva atrasou a colheita da safra de verão e o plantio da safrinha em algumas regiões. Para a temporada de verão, a produtividade mostrava-se satisfatória, enquanto a comercialização estava lenta e os preços, em queda. Diante desse cenário, produtores ficaram indecisos quanto ao que cultivar no período de inverno.
Entre março e abril, período de pico de colheita de grãos no Brasil, houve escassez de fretes para o escoamento do milho e da soja. Com isso, em pleno período de trabalho de campo e de expressiva oferta de milho no mercado interno, as negociações com o produto não deslancharam. Produtores preferiram deixar o grão estocado, ao passo que compradores adquiriram apenas o necessário para o consumo de curto prazo. Nesse cenário, produtores voltaram suas atenções à colheita e à comercialização da soja em detrimento do milho.
Quanto aos preços, no primeiro semestre, as cotações ficaram abaixo dos valores mínimos estipulados pelo governo. Assim, as intervenções tiveram início em maio, através de leilões de Prêmio de Escoamento de Produto (PEP). O objetivo do governo foi escoar o milho ao mercado externo, evitando pressionar ainda mais as cotações e a liquidez do físico brasileiro.
Nos leilões governamentais realizados entre janeiro e agosto de 2010, foram negociadas quase 12 milhões de toneladas de milho, sendo 11,07 milhões pelo Prêmio de Escoamento do Produto (PEP) e 755,1 mil pelo Prêmio Equalizador Pago ao Produtor Rural (Pepro).
Diante das intervenções, as cotações do milho começaram a reagir no mercado brasileiro. A partir do segundo semestre, as cotações caíram somente em alguns momentos. Nesses períodos, os valores foram pressionados pelo avanço da colheita da segunda safra e pela demanda interna retraída. Além disso, a dificuldade de estocagem em algumas regiões, especialmente do Centro-Oeste, fizeram com que produtores se dispusessem a negociar maiores quantidades. Com isso, em julho, as cotações registraram os menores patamares nominais do ano.
Em seguida, porém, os preços do milho subiram fortemente, surpreendendo boa parte dos agentes consultados pelo Cepea. O impulso veio das altas expressivas nas paridades de exportação e de importação, que foram favorecidas pelos aumentos nos preços internacionais. O aumento na cotação externa, por sua vez, foi influenciado pela valorização do trigo. Além disso, a demanda no Brasil estava mais firme, mesmo que para pequenas quantidades. Diante desse cenário, vendedores nacionais se retraíram, à espera de novas altas nas cotações.
Interessante observar que, de modo geral, até julho, indústrias consumidoras adquiriam o necessário apenas para o consumo de curto prazo. Naquele momento, estimativas apontavam altos estoques e, com a colheita da safrinha no Brasil, era esperado que os preços continuassem em queda. Além disso, alguns agentes consultados pelo Cepea acreditavam que a intervenção governamental não teria um efeito tão positivo.
Porém, no segundo semestre, a demanda aqueceu, favorecida pela presença de agentes dos setores de carnes. Ao contrário do observado no primeiro semestre, esses compradores acabaram encontrando dificuldade em adquirir o milho.
No último relatório da safra 2009/10, em setembro, a Conab aumentou a estimativa de oferta total de milho, mas a de demanda foi mantida em 45,8 milhões de toneladas. Tendo em vista que a oferta total (verão e safrinha) subiu para 56,1 milhões de toneladas e o ano-safra começou com estoque de 11,4 milhões de toneladas, o estoque de passagem da safra 2009/10 deve ser de 12,7 milhões de toneladas, segundo a Conab. Isso significa o maior estoque de passagem da história.
Esses números chegaram a causar pressão momentânea sobre os preços. Porém, no último trimestre de 2010, os preços do milho tiveram altas expressivas na Bolsa de Chicago (CME/CBOT), impulsionando as cotações no Brasil. Além da demanda firme, agentes de mercado futuro foram às compras, devido à preocupação com os baixos estoques de passagens mundiais. Para dar ainda mais ânimo ao mercado, a Agência de Proteção Ambiental dos Estados Unidos (EPA, na sigla em inglês) aprovou a elevação na mistura de etanol à gasolina de 10% para 15%. Com isso, os preços de milho no porto brasileiro aumentaram, influenciando o repasse aos valores nas praças do interior do País.
Como conseqüência, o governo brasileiro passou a realizar leilões de venda para atendimento de regiões deficitárias e para limitar as altas observadas. Mesmo assim, a procura pelo produto dos leilões foi baixa, devido à exclusão da participação de comerciantes e cerealistas dos leilões.
No acumulado de 2010 (janeiro a dezembro), as exportações brasileiras de milho somaram 8,9 milhões de toneladas, volume 36% maior que o do mesmo período de 2009, conforme dados da Secex. Somente em novembro/10 foram embarcadas 1,825 milhão de toneladas de milho, quantidade 15% acima da de outubro/10 e 67,8% maior que a de novembro/09. Esta foi a segunda maior quantidade embarcada em um único mês, ficando abaixo apenas do volume de setembro de 2010 (1,913 milhão de toneladas).
Quanto aos preços, entre 30 de dezembro de 2009 e 29 de dezembro de 2010, o Indicador ESALQ/BM&FBovespa (região de Campinas – SP) teve forte alta de 41%, fechando a R$ 28,39/sc de 60 kg. Na média das regiões pesquisadas pelo Cepea, os preços subiram 44,4% no mercado de balcão (ao produtor) e 51,7% no de lotes (negociação entre empresas).
Na BM&FBovespa, o primeiro vencimento subiu 40,6% entre 30 dezembro de 2009 e 29 de dezembro de 2010, fechando a R$ 28,20/sc. Para o mercado externo, na Bolsa de Chicago (CBOT/CME), o primeiro vencimento acumulou expressiva alta de 50,5%, indo para US$ 6,24/bushel no mesmo período, o maior valor do ano.