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Milho prospera nos planaltos do Piauí

O insumo vem ganhando espaço nas últimas safras no Piauí por conta do crescimento da demanda no mercado nordestino.

Redação (27/03/2009) – Quem passa pelas estradas estreitas ao pé da Serra Grande, no cerrado do Piauí, dificilmente imagina o que há no topo delas. São milhares de hectares plantados nos platôs por produtores rurais que começaram a chegar ao local há cerca de 20 anos.

O cerrado da região, conhecida como Mapito por compreender áreas de Maranhão, Piauí e Tocantins, tornou-se uma nova fronteira para a soja na última década, e agora mostra também um forte potencial para o plantio de milho. Utilizado inicialmente para a rotação de culturas, o milho vem ganhando espaço nas últimas safras no Piauí por conta do crescimento da demanda no mercado nordestino.

Na atual safra, por exemplo, o plantio de milho no Estado subiu 14%, para 331,6 mil hectares, segundo a Conab. Para a produção, a expectativa é de um avanço de 28,4%, para 414,5 mil toneladas.

Os números indicam uma produtividade média de 1.250 quilos por hectare, ainda bem baixa no Estado, sempre lembrado por suas paisagens áridas. Mas isso não é uma realidade no cerrado piauiense, onde grandes produtores já obtêm rendimentos próximos às médias dos Estados Unidos, o maior produtor mundial de milho, com rendimento médio de 161 sacas por hectare – ou 9.660 quilos por hectare na safra atual.

O paranaense de Campo Mourão Darci Peteck, por exemplo, produziu 150 sacas (9 mil quilos) por hectare na safra passada e espera colher 170 sacas (ou 10.200 quilos) no atual ciclo em sua propriedade em Baixa Grande do Ribeiro, na Serra Grande. Com uma área plantada de 4.600 hectares, Peteck destinou 1.340 hectares para o milho, e planeja ampliar. A área de soja ficou em 2.160 hectares e diminuiu por causa da rotação de culturas, explica o produtor, que vive na região desde 1994.

Outros 1.070 hectares foram destinados ao algodão, cultura que Peteck pretende reduzir pela dificuldade de comercialização na região. "Se não plantar algodão, vou aumentar muito o milho". O plano dele é deixar 50% da área para a soja e 50% para o milho. "Milho é uma oportunidade", observa Peteck, acrescentando que consegue comercializar a saca por R$ 27,00 para clientes de outros Estados do Nordeste.

De acordo com o pesquisador da Embrapa Meio Norte em Teresina, Milton Cardoso, as condições topográficas e climáticas estimulam o plantio de milho na porção sudoeste do Piauí e também no sul do Estado do Maranhão. Ele explica que a região é caracterizada por plantios nos platôs (ou planaltos) das serras, o que permite a mecanização da colheita. "O solo é pobre, mas vem sendo corrigido, e a produtividade do milho vem melhorando". Uma das razões para isso é o plantio direto.

Cardoso observa que o regime de chuvas na região – entre 1.000 e 1.400 milímetros no período de novembro a maio – é favorável ao cultivo de lavouras de 120 a 130 dias, que é o caso do milho. Muito diferente do regime do semi-árido piauiense, com 400 a 700 milímetros de chuvas mal-distribuídas.

As temperaturas mais amenas na região de serra também favorecem o milho, de acordo com o pesquisador. Com altitudes entre 400 e 500 metros, as áreas têm temperaturas noturnas na faixa de 22 graus, um alento para a produtividade do grão.

Outro que pretende ampliar a área do cereal é o produtor Amilton Bortolozzo, que, com os irmãos, planta milho e soja em Uruçuí, principal pólo no cerrado do Piauí, fortalecido pela presença de uma unidade da multinacional Bunge. "Estamos perto do mercado consumidor", diz.

Na Canel, fazenda da família Bortolozzo, a área de milho foi de 865 hectares na safra 2008/09, mas a intenção é semear mais mil hectares na próxima temporada. De acordo com Bortolozzo, metade da área de milho é de transgênico (Bt). "O milho sempre foi uma necessidade para rotação de culturas, mas antes, não havia variedades adaptadas e uma produtividade de 100 sacas [por hectare] era muito", afirma Bortolozzo. Atualmente, garante, é possível alcançar 150 sacas.

Mas não fosse a demanda crescente por milho na região Nordeste, talvez as condições climáticas e topográficas sozinhas não conseguissem estimular o plantio. Segundo Milton Cardoso, da Embrapa, o que alimenta o avanço do milho no Piauí é a demanda da avicultura do Ceará e de Pernambuco, principalmente.

É essa demanda que gera preços elevados para o produto do Piauí, bem acima dos verificados em outras regiões do país. De fato, é como se o mercado nordestino estivesse descolado do restante do mercado doméstico de milho, afirma Marcos Rubin, analista da Agroconsult.

Ele afirma que a demanda por milho cresceu na região também pelo fato de as importações da Argentina estarem praticamente paradas, já que o vizinho vende produto transgênico, cuja importação pelo Brasil tem restrições e depende da autorização da Comissão Nacional Técnica de Biossegurança (CTNBio).

Por razões logísticas e de custo, o milho argentino é competitivo para o Nordeste. Além disso, a compra de milho da região Centro-Oeste por clientes do Nordeste só vale a pena se subsidiada, o que ocorre nos leilões de PEP (prêmio para escoamento da produção) feitos pelo governo.

Rubin nota que os produtores da região aproveitam o que chama de "janelas de oportunidade" para vender e que a comercialização do produto "é picada" – ou seja, em volumes menores. "O produtor vai conseguir R$ 25 a R$ 30 [pela saca de milho] na entressafra", afirma ele.

O analista aponta, ainda, algumas restrições e diz que a capacidade de plantio dos produtores está limitada à capacidade de armazenagem. "O produtores tentam superar os limites técnicos e depois os de infraestrutura porque economicamente é viável".

Cálculos realizados pela Agroconsult mostram que na atual safra a cultura rendeu, líquidos, R$ 521 por hectare no Estado, considerando uma produtividade média de 130 sacas por hectare (7.800 quilos), um custo de produção de R$ 2.470 por hectare e um preço médio de R$ 20,70 ao produtor ao longo da temporada. Essa margem, de acordo com as contas da consultoria, está no patamar obtido por produtores tecnificados do Paraná, Estado que tem uma das maiores produtividades de milho no país.