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MT: custo da lavoura de soja tem alta de 600%

<p>Ferrugem asiática é a principal responsável pelo aumento.</p>

Redação AI (27/03/06)- Os custos para o combate à ferrugem asiática aumentaram em cerca de 600% em Mato Grosso, nas últimas quatro safras. Na safra 02/03 o investimento do sojicultor era de US$ 10 por hectare (ha) e no atual ciclo, são necessários US$ 70/ha. Ao mesmo tempo que contabiliza a alta para a contenção da ferrugem, o produtor mato-grossense amarga a derrocada dos preços da soja, que, no mesmo período de quatro safras, sofreu defasagem de 42% em real e de 38% em dólar.

Utilizando o mesmo período, observa-se que em março de 2003 a saca obtinha cotação média, em Primavera do Leste (239 quilômetros ao Centro Leste de Cuiabá) região que registra forte incidência da doença – R$ 32,62. Nesta safra, durante este mês, a saca atinge preços médios de R$ 18,80, ou seja, perda de 42%, em real. Já em dólar, as perdas somam 38%. Em março de 2003 a moeda norte-americana obteve cotação média de R$ 3,44 e até a última sexta-feira, a cotação média de março de 2006 era de R$ 2,14.

A doença surgiu na safra 02/03. Os produtores foram pegos de surpresa e o tratamento da ferrugem ficou restrito a apenas uma aplicação de fungicidas na maioria das lavouras, conta o diretor da Associação Mato-grossense dos Produtores de Soja (Aprosoja), Ricardo Tomczyk. Levantamentos da entidade confirmam que a média de gastos naquela (02/03) safra foi de US$ 10/ha.

Naquela época não se fazia mais do que uma aplicação, pois a ferrugem ainda não estava disseminada. Como ainda era uma novidade, muitos produtores pagaram para ver e tiveram prejuízos logo no primeiro ano.

No ano seguinte (safra 03/04), o custo dos produtores para controlar a ferrugem em um hectare saltou para US$ 30, com incremento de 200% em apenas um ano.

Neste segundo ano da ferrugem foram feitas em média duas aplicações de fungicidas, tendo sido observada a presença da doença em praticamente todas as regiões do Estado.

Na safra 04/05 os produtores desembolsaram US$ 50/ha, com uma média de 2,5 aplicações. Em algumas regiões, como Primavera do Leste, Paranatinga e Santo Antônio do Leste, por exemplo, os sojicultores chegaram a fazer quatro aplicações para controlar a doença. Mesmo assim, obtiveram pouco resultado.

Na atual safra, os custos com a aplicação de fungicidas para combater a ferrugem atingiram o pico, US$ 70/ha.

Nesta safra, a pressão da ferrugem foi maior, conta o diretor da Aprosoja, lembrando que os produtores tiveram que fazer em média mais de três aplicações.

Na região da Grande Primavera do Leste que engloba os municípios acima citados – muitos produtores chegaram a fazer até cinco aplicações para minimizar o ataque do fungo, que reduz a produtividade das lavouras.

Este foi o pior ano para os produtores, pois a ferrugem se instalou em todas as lavouras e tivemos uma redução de 10% na produtividade, relata Tomczyk.

Demanda de fungicidas passa de 6 milhões/l
De acordo com informações da Fundação de Apoio à Pesquisa Agropecuária de Mato Grosso (Fundação MT), as empresas de defensivos agrícolas estimam que nesta safra a demanda de fungicidas chegue a 6,2 milhões de litros. Na safra passada, foram comercializados cerca de cinco milhões de litros.

O custo de uma aplicação de fungicida nesta safra correspondeu a duas sacas e meia de soja (R$ 45, considerando a cotação de R$ 18/saca).

Em algumas regiões do Estado, nas proximidades dos municípios de Campo Verde e Primavera do Leste, a alta incidência da ferrugem da soja fez com que o produtor fizesse até de seis aplicações. Comparada ao ano passado, muitos produtores tiveram que aumentar mais uma aplicação.

O principal motivo do aumento da doença nas lavouras de Mato Grosso foram as condições climáticas, afirma Fabiano Siqueri, do setor de Proteção de Plantas da Fundação MT.

Segundo o pesquisador, a ferrugem este ano foi muito mais agressiva que em 2005 por causa da chuva, que começou mais cedo.

A recomendação de Siqueri para este momento, de colheita e pós-colheita, é a destruição das plantas nascidas a partir dos grãos deixados no solo.

“É preciso manejar a soja tigüera para não servir de fonte de ferrugem para o próximo plantio”, recomenda o pesquisador. Siqueri alerta ainda que durante a entressafra o produtor tem que manter a área livre de doenças e pragas.

Para os produtores que têm soja até o estágio R7 – início a 50% de amarelamento de folhas de grãos e mais de 76% de folhas e vagens amarelas a recomendação é para que se faça mais uma aplicação para garantir o controle e manter a soja livre de ferrugem.

MT registrou 29 focos na safra 04/05
No ano passado, Mato Grosso foi o segundo Estado com maior número de focos de ferrugem asiática identificados pelo Consórcio Anti-Ferrugem, coordenado pelo Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa), perdendo apenas para o Paraná. No Estado, foram identificados 29 municípios com focos da doença.

Para o engenheiro agrônomo Antônio Carlos Cecari Júnior, é preciso muita atenção às lavouras que entram na fase de enchimento de grão porque esta é a mais crítica para o aparecimento da doença.

Os produtores devem estar prontos para aplicar fungicidas, se necessário, exclama, lembrando que a ferrugem, se não controlada, pode reduzir drasticamente a produtividade das lavouras de soja e exterminar as plantações em sete dias.

Na safra 04/05, a ferrugem asiática esteve presente em quase todas as áreas de plantio de Primavera do Leste. E, este ano, atingiu 100% da lavoura, segundo levantamento do Sindicato Rural do município.

A ferrugem foi encontrada nos 500 mil hectares de área destinado ao cultivo de soja na Grande Primavera, que inclui ainda os municípios de Santo Antônio do Leste, Paranatinga e Poxoréo. Só em Primavera foram 260 mil hectares infestados pela ferrugem na atual safra.

Os produtores procuraram controlar a doença com aplicações de fungicidas e monitoramento constante das lavouras, porém todos tiveram perdas durante a colheita.

Com 2,8 mil hectares de soja plantados nos municípios de Primavera do Leste e Poxoréo, o sojicultor Márcio Vilela da Rocha constatou focos em todos os módulos plantados. Segundo ele, a pressão na sua lavoura foi menor devido à aplicação do fungicida logo no período da floração.

Desde o ano passado venho trabalhando com aplicações preventivas. Na safra 03/04 administrei a ferrugem com o acompanhamento e monitoramento da lavoura. Em 04/05 o tratamento preventivo deu resultado e este ano mantive a estratégia para diminuir as perdas,.

MUNICÍPIOS

No ano passado, os municípios que registraram maior incidência de ferrugem em Mato Grosso foram Primavera do Leste, Campo Verde, Pedra Preta, Poxoréo, Rondonópolis, Itiquira, Santa Carmem, Santo Antônio do Leste, Alto Garças, Alto Taquari, Campo Novo do Parecis, Diamantino, Guiratinga, Lucas do Rio Verde, Nova Mutum, Sapezal, Sorriso, Tangará da Serra e Tapurah.

Na safra passada, cidades localizadas ao Sul e Centro Leste da Capital, contabilizaram ainda perdas de produtividade em função da estiagem na região. Em algumas lavouras onde se colhida média de 50 sacas por hectare, houve produtor que colheu menos de 30 sacas.

Ações preventivas para 2006
Com a colheita da soja praticamente no fim, restando apenas 20% para o encerramento da safra 05/06, pesquisadores, agrônomos e técnicos agrícolas recomendam para o próximo ano a aplicação preventiva de fungicidas nas lavouras de soja, para evitar o surgimento de focos e a propagação da ferrugem asiática.

Deve-se fazer a aplicação preventiva para evitar problemas maiores, pois a ferrugem, quando ataca as plantações, traz prejuízos e dor de cabeça para os produtores, afirma o agrônomo Celso de Almeida.

Para o técnico agrícola Antônio Pereira da Silva, o surgimento de focos logo no início do plantio é muito preocupante a doença pode se propagar com maior intensidade daí a necessidade de se fazer o controle imediato, com monitoramento permanente antes do desenvolvimento da doença.

O agrônomo Antônio Cecari Júnior explica que o tempo chuvoso e quente é propício para o avanço da ferrugem pelos campos e, por outro lado, acaba dificultando as aplicações de fungicidas, já que o produtor pode acabar tendo um resultado prejudicado em decorrência das chuvas.

O pesquisador da Fundação Rio Verde, Clayton Bortolini, recomenda precaução por parte dos produtores em 2007: Todos devem ficar de olho para evitar que a doença se instale nas lavouras. Seria um caos para os produtores, que vivem momentos de angústia com a crise no agronegócio, assinala.

O pesquisador lembra que os produtores devem fazer as aplicações preventivas e realizar a vigilância permanente da lavoura durante a floração, período crítico para o aparecimento da ferrugem

Perdas na safra podem ser de R$ 1,37 bilhão
As perdas dos produtores mato-grossenses com a ferrugem asiática – doença provocada por um fungo que ataca as folhas da soja e reduz a produtividade do grão – alcançaram a cifra de R$ 1,37 bilhão só na safra 05/06. Este número leva em conta a queda da produtividade (em torno de 10%) e os custos com a aplicação de fungicidas para controlar a ferrugem. As informações são da Associação dos Produtores de Soja do Estado (Aprosoja).

Ano após ano a ferrugem tem sido mais agressiva, exigindo maiores investimentos para ser controlada, conta o diretor administrativo da entidade, Ricardo Tomczyk. Segundo ele, só nesta safra os produtores tiveram que desembolsar algo em torno de US$ 860 milhões para combater a ferrugem.

Além disso, a nossa expectativa era colher três mil quilos [de soja] por hectare (ha), média de 50 sacas registradas em 2003, e não vamos chegar a 45 sacas/ha devido ao ataque da ferrugem. Diante deste cenário, não é nenhum exagero afirmar que a área plantada no Estado poderá cair até 40% na próxima safra, alerta Tomczyk.

Segundo estimativas de órgãos oficiais como Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) e Companhia Nacional de Abastecimento (Conab), a área plantada de soja em Mato Grosso é de 5,7 milhões/ha, com uma previsão de colheita próxima a 15,4 milhões de toneladas (t) de soja, contra a estimativa inicial de 17 milhões/t.

Uma redução de 1,6 milhão/t que irá se refletir nesta safra em um prejuízo de R$ 510 milhões para os produtores. Somando-se aos R$ 860 milhões com os gastos com fungicidas, as perdas dos sojicultores chegam a R$ 1,37 bilhão.

Este ano os produtores sofreram dois golpes da ferrugem: o primeiro foi a queda da produtividade e, o segundo, os custos com os fungicidas, lembra Tomczyk. E, para complicar ainda mais a situação do sojicultor, o custo médio de produção em Mato Grosso de 25 saca/ha nesta safra, ficou bem acima do preço pago pelo mercado no momento, que em cerca de R$ 14 e R$ 18, fruto da defasagem cambial. 

EPIDEMIA

 O governo (União) vai ter que entender que existe uma epidemia no campo. Sem uma intervenção oficial, a doença pode tomar uma proporção que irá inviabilizar a cultura da soja em Mato Grosso, adverte o diretor da Aprosoja.

Na avaliação de Tomczyk, o quadro é dramático e o governo deve intervir imediatamente, importando o fungicida e fornecendo-o aos produtores. Não há outra saída, pois os sojicultores estão descapitalizados. Ou o governo dá este socorro ou a agricultura ficará definitivamente inviabilizada.

Na avaliação do presidente do Sindicato Rural de Primavera do Leste, José Nardes, este é um péssimo momento para os produtores, pois estão amargando perdas com a safra anterior e pagando as conseqüências da ferrugem. Nesta safra estamos quebrados e não vemos luz no fim do túnel, afirma, desesperançado.

A maior autoridade em ferrugem asiática do país, o fitopatologista da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa/Soja Londrina), José Tadashi Yorinori, visitou este ano diversas lavouras de soja em Mato Grosso e ficou espantado com o que viu.

O especialista chegou à conclusão de que só é possível enfrentar a ferrugem asiática o grande terror dos sojicultores – se houver união dos produtores e uma ação efetiva do governo que os possibilitem fazer um melhor controle e monitoramento das lavouras: Sem estas medidas a agricultura estará fadada ao fracasso, podendo sucumbir à força deste fenômeno chamado ferrugem.

Fundação Centro-Oeste constata queda de produtividade em MT 
A Fundação Centro-Oeste (FCO), que desenvolve trabalhos de pesquisa e melhoramento genético em parceria com a Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa), acompanhou a evolução da ferrugem asiática em Mato Grosso durante esta safra, constatando sérios prejuízos para os agricultores. O principal deles é o aumento dos custos de produção, com perda de renda para o produtor, associado à queda da produtividade.

Segundo a pesquisadora Carla Bertagnolli, o custo de cada aplicação gira em torno de três sacas de soja por hectare.

Se considerarmos uma média de quatro aplicações em uma lavoura, o produtor terá que desembolsar o equivalente a 12 sacas de soja só para pagar as despesas com fungicidas por hectare cultivado, lembra a agrônoma. Isso significa uma perda de 20% na produção.

Na safra passada, segundo ela, foi feita uma média de quatro aplicações durante a safra, mesmo volume de aplicações verificado neste ano.

Em Mato Grosso, as lavouras que tiveram os maiores prejuízos no ano passado foram as localizadas nas regiões Leste e Sul do Estado, com destaque para o município de Primavera do Leste (239 quilômetros ao Centro Leste de Cuiabá), onde muitos produtores tiveram que fazer até cinco aplicações do químico.

Este ano, a preocupação foi antecipar a ocorrência da ferrugem, com aplicações preventivas nas plantações. Mesmo assim, os produtores tiveram custos elevados e grandes perdas.

Produtores não utilizaram linha de crédito do FCO
Os produtores de Mato Grosso praticamente não utilizaram a linha de crédito do Fundo Centro-Oeste (FCO) para o combate à ferrugem asiática.

Na opinião do presidente do Sindicato Rural de Primavera do Leste (239 quilômetros ao Centro Leste de Cuiabá), José Nardes, de nada adiantou o Banco do Brasil ter criado a linha de crédito de R$ 200 milhões, uma vez que não houve interesse do produtor devido ao alto nível de endividamento e a incapacidade de contrair novos empréstimos pela condição de inadimplente.

O presidente da Associação dos Produtores de Soja do Estado (Aprosoja), Rui Otoni do Prado, afirmou que apesar da necessidade de financiamento para combater a ferrugem da soja, os produtores não acessaram à linha de crédito do FCO por dificuldades financeiras.

Se considerássemos o custo de cada aplicação de fungicida, a necessidade de Mato Grosso para combater e controlar a ferrugem nos cerca de seis milhões de hectares de soja ultrapassaria R$ 1 bilhão.

A verdade é que o produtor ainda não conseguiu liquidar todas suas contas e está com sua capacidade de endividamento esgotada, completa o sojicultor Rogério Salles, que plantou 10 mil hectares (ha) de soja nos municípios de Rondonópolis e Campo Verde, ao Sul e Centro Leste da Capital, respectivamente.

Na safra passada, ele financiou a compra de fungicidas junto às tradings e empresas fornecedores. Do Banco do Brasil ele não tomou qualquer empréstimo.