Redação (17/07/2008) – Mato Grosso está infestado por fungos que provocam a doença ferrugem asiática nas lavouras de soja. A disseminação da doença será apenas uma questão de tempo, a partir da chegada das primeiras chuvas e a manutenção de um clima quente durante o dia. A 60 dias do início do plantio da safra 08/09 o nível de infestação, ou seja, a presença de fungos vivos em plantas de soja chega a 84% em 18 municípios que foram visitados por técnicos e engenheiros agrônomos representantes de entidades estaduais. Dos 50 pontos vistoriados, 42 apresentaram a doença com o fungo vivo na planta.
O alerta foi feito ontem pela Associação dos Produtores de Soja e Milho do Estado (Aprosoja), Comissão de Defesa Vegetal da Superintendência Federal da Agricultura (SFA), em Mato Grosso e pelo Instituto de Defesa Agropecuária do Estado (Indea), após anúncio dos resultados da primeira rodada de avaliação do Vazio Sanitário no Estado, período em que fica proibido o plantio de soja – teve início em 15 de junho e prossegue até 15 de setembro – como forma de eliminar a existência de plantas que possam abrigar os fungos, fazendo a chamada ‘ponte verde’ de uma safra a outra. O roteiro foi acompanhado pelo consultor PhD em fitopatologia, José Tadashi Yorinori.
”O que encontramos foi um cenário adverso do que tínhamos visto no ano passado neste mesmo período, quando havia a mancha da doença, mas não o fungo vivo”, aponta o fitopatologista.
Ele explica que o clima e a falta de atenção do sojicultor foram as misturas perfeitas à fixação do fungo Phakopsora pachyrhizi, já que choveu até mais tarde neste ano e o produtor, que desviou a atenção para as safrinhas de milho e algodão, acabou deixando para trás as plantas de sojas guaxas, ou tigüeras, que nascem de forma involuntária, mas se desenvolvem naturalmente e servem de abrigo ao fungo. As guaxas que deveriam ter sido destruídas estão à beira das estradas e também muito próximas dos talhões onde a nova safra de soja será produzida. “Em julho do ano passado tínhamos machas de ferrugem com fungo morto, diferente do que vimos nesta viagem. Uma boa safrinha é sempre um indicador de que o ambiente está favorável à doença, o que certamente vai demandar muito mais atenção do produtor ao monitorar a sua lavoura e até, investir mais em fungicidas”, explica Tadashi.
O presidente da Aprosoja, Glauber Silveira, aponta que com a certeza da presença dos fungos, “aumentam as incertezas do produtor em relação ao novo ciclo, já que a doença poderá exigir mais investimentos nas lavouras e de antemão sabemos que 20% dos produtores rurais do Estado estarão sem crédito oficial para iniciar a safra”. Com esta realidade, Silveira frisa que diante de uma safra mais pobre em relação à aquisição de fertilizantes, que vão impactar na produtividade, surge a ferrugem com a ameaça de mais impactos à produção. “Fora o fato de que sem saber realmente quais fungicidas têm mais ou menos eficácia, teremos de fazer um teste de misturas na prática, ou seja, na nossa própria lavoura, até se chegar a uma mistura ideal”.
O coordenador da Comissão de Defesa Vegetal da Superintendência Federal da Agricultura (SFA), em Mato Grosso, Wanderlei Dias Guerra, é mais enfático. “Muito se discute sobre a eficácia dos fungicidas nas lavouras mato-grossenses e pelas condições do ambiente, o fungo que está ai vivo, certamente é aquele mais resistente e seus esporos estão ai, por todos os lados do Estado”.
Dos 50 pontos visitados, apenas oito pertenciam às propriedades que obtiveram licença para plantar durante o período do Vazio, pois produzem sementes. “Todos os outros tinham fungos vivos”, frisa.
Para os representantes das entidades o cenário é grave para este primeiro mês de vazio sanitário. “Como se não bastassem os fungos existentes na vizinha Bolívia, que podem sim, chegar às lavouras na próxima safra, em menor escala, mas podem, há muitos pontos infestados aqui no Estado”.
“A destruição das plantas voluntárias que se desenvolvem fora de época (guaxas) é de responsabilidade do produtor. O Estado mal conseguiu se beneficiar do Vazio Sanitário e já há o relaxamento do sojicultor, pois ele se esqueceu que no ano passado as condições climáticas ajudaram a amenizar o surgimento dos focos da doença”, frisa Guerra.
ECONOMIA
De acordo com a Comissão, a adoção do vazio sanitário em Mato Grosso na safra 07/08 propiciou uma economia de R$ 700 milhões aos sojicultores pela redução no volume de fungicidas aplicados nas lavouras. A safra 08/09 será a quarta em que o Vazio é adotado.
Como as condições de clima permitem que o fungo se mantenha vivo por até 50 dias, os sojicultores têm a última chance nos próximos dias para se livrar da ferrugem, eliminando as plantas tigüeras por meio de herbicidas ou com a utilização de tratores fazendo a gradear o solo. “O produtor vai ter de investir para eliminar a ponte verde, pode chegar até a R$ 40 R$ 50 por hectare, porém, nada se compara os gastos que ele poderá ter com a alta incidência da ferrugem, que por aplicação vai consumir cerca de US$ 20 por aplicação em cada hectare. Segundo Tadashi, em lavouras precoces o ideal são duas aplicações e em lavouras mais tardias podem ser necessárias até sete.