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Múltis de transgênicos ainda tentam ''seduzir'' consumidor

<p>As empresas que desenvolvem transgênicos querem evitar repetir, no lançamento de novos produtos funcionais oriundos da biotecnologia, erros de comunicação e marketing do passado.</p>

Redação (05/12/06) – Desde 1996, quando a primeira semente de soja transgênica foi lançada comercialmente no mundo, as indústrias que desenvolvem organismos geneticamente modificados (OGM) focaram as ações de divulgação em agricultores e pesquisadores, em tese seus os “clientes” diretos, e deixaram em segundo plano os consumidores finais, onde ainda estão concentrados os principais focos de resistência a esses produtos.

Muitas delas preferiram desenvolver produtos anonimamente, escapando às críticas de instituições e consumidores, que declaravam publicamente sua preocupação sobre o avanço dos transgênicos no mercado. Para especialistas, restam no consumidor resquícios de uma visão negativa sobre os transgênicos, que podem voltar a ganhar vulto com a chegada, no médio prazo, dos transgênicos de terceira geração – com características medicinais ou funcionais.

Prestes a lançar produtos dessa categoria, algumas indústrias já estão preocupadas em iniciar ações de marketing voltadas ao consumidor, antes que a percepção negativa vinculada à imagem de transgênicos trave a aprovação dos produtos de terceira geração.

A americana Monsanto, primeira empresa a ter um produto transgênico aprovado no Brasil e também a única a assumir publicamente sua aposta em sementes geneticamente modificadas, já tem uma estratégia avançada nesse sentido. A empresa prepara ações para informar o consumidor final sobre a tecnologia que utiliza.

No momento, no Brasil, a múlti faz uma pesquisa sobre sua imagem perante os diferentes públicos para desenvolver ações específicas. A Monsanto também desenvolve um informativo que será divulgado em seu site, e pretende reforçar a distribuição de folders e o patrocínio de palestras sobre biotecnologia para professores do ensino médio.

“A resistência aos transgênicos decorre mais do desconhecimento e de questões comerciais do que de fatos. Existe um grande desafio que é comunicar mais e melhor aos consumidores os benefícios que a biotecnologia pode proporcionar”, afirma Lucio Pedro Mocsanyi, diretor de comunicação da Monsanto.

Mocsanyi observa que, ainda que tenha realizado campanha publicitária em emissoras de TV em 2003, a empresa tem preferido concentrar as estratégias de marketing em agricultores e cientistas. Mas agora considera necessário se comunicar melhor com outros públicos. No Brasil, a Monsanto foi por muitos anos reconhecida como a única empresa desenvolvedora de transgênicos, por conta da adoção ilegal da tecnologia RR por produtores gaúchos desde 1996.

Mocsanyi diz que a empresa enfrentou uma série de resistências no país, como invasões de seus campos experimentais no Rio Grande do Sul e dificuldades de aprovação de produtos pela Comissão Técnica Nacional de Biossegurança (CTNBio). Por muitos anos, seus funcionários não puderam usar camisas, bonés, ou qualquer material contendo a marca da empresa. Alguns chegaram a sofrer agressões físicas em visitas de campo. A companhia também chegou a ser acusada de monopólio no país, por conta do uso das sementes RR e do herbicida glifosato.

O lobby contra transgênicos também trouxe problemas a outras empresas do segmento. Neste ano, a Aracruz teve um de seus campos de pesquisa destruído pelo movimento social Via Campesina, no Rio Grande do Sul. À época, a empresa estimou perdas com material genético entre US$ 5 milhões e US$ 20 milhões.

A Syngenta também teve a sua estação experimental no Paraná invadida e destruída pelo Movimento dos Sem Terra neste ano. A empresa européia luta na Justiça contra o governo do Estado, que recusa-se a devolver o terreno à empresa e informa que pretende desapropriá-la.

A Bayer CropScience também enfrentou na semana passada uma “invasão pacífica” do Greenpeace, que protestou contra uma eventual aprovação pela CTNBio do milho transgênico desenvolvido pela empresa, que não aconteceu. Peter Ahlgrimm, diretor de relações institucionais da empresa, confirma que existe preocupação em informar melhor os consumidores sobre a adoção de transgênicos, mas que a empresa prefere esperar a aprovação comercial de seus produtos pela Comissão Técnica Nacional de Biossegurança (CTNBio) para levar informações aos diferentes públicos.

Fora a Monsanto, as demais empresas não desenvolvem ações de marketing voltadas ao consumidor final e nenhuma delas possui orçamento previsto para projetos nessa área. O mesmo ocorre com o Centro de Informações sobre Biotecnologia (CIB), criado em 2001 com recursos privados para prestar informações a diferentes públicos sobre o tema. Até agora, a instituição concentrou-se em divulgar informações à imprensa e a professores do ensino fundamental – que considera multiplicadores de informação aos demais públicos. Alda Lerayer, diretora-executiva do CIB, reconhece a dificuldade em explicar temas complexos à sociedade.

Decio Zylbersztajn, professor titular da Fundação Instituto de Administração da Universidade de São Paulo (FIA/USP) analisa a questão como uma “falta de diplomacia corporativa”. Para ele, as empresas começam a perceber que precisam dialogar com os diferentes públicos, mesmo os que fazem oposição vigorosa a transgênicos. “Negá-los não é a melhor solução.”