Quando há dúvida entre soja e milho, o produtor norte-americano aposta no cereal, por tradição e pela confiança na força da demanda, relatam os técnicos que orientam o setor no Corn Belt, o cinturão da produção de grãos. E a expectativa é de ampliação do plantio nas próximas temporadas, pelo crescimento do mercado internacional e devido à previsão de aumento no consumo interno em até 25% a partir de 2011 – quando deve ter efeito a elevação da mistura de etanol à gasolina de 10% para 15%, dentro da política de ampliação do uso de energia renovável.
Apesar da quebra de 3,6% na produção em relação a 2009/10 prevista pelo departamento de agricultura, o USDA, o país deve destinar 37% das 321 milhões de toneladas de milho, às plantas de etanol (120 milhões de t). Se o E15 já estivesse sendo distribuído, esse volume passaria de 140 milhões de toneladas.
“O potencial de incremento na demanda é bastante expressivo. Mesmo que se configure parcialmente, abre espaço para ampliar a produção e reduz o milho disponível no mercado internacional”, aponta o assessor técnico-econômico da Organização das Cooperativas do Paraná (Ocepar), Robson Mafioletti. Se as plantas de etanol realmente absorverem 20 milhões de toneladas a mais, estarão tirando do mercado o equivalente a um quarto do volume comercializado internacionalmente, cita Robson.
Produzir milho é o que os agricultores norte-americanos mais sabem fazer. A soja rende menos e ainda é plantada em larga escala porque, no sistema de rotação, ajuda a elevar a produtividade do cereal nos anos seguintes, afirma o cerealista Craig Stevens, da Ceres Solution (Rensselear, Indiana). Problemas como a síndrome da morte súbita, que se alastrou pelas áreas dedicadas à oleaginosa neste ano, contribuem para a predominância ainda maior do cereal, acrescenta. “Não temos outra opção sustentável que permita rotação. O que acaba ocorrendo é o plantio de milho sobre milho.”
Os altos custos de produção fazem com que os agricultores corram para a alternativa mais lucrativa, que é o milho, afirma Bryan Arndorfer, que presta assistência a 80 produtores no cultivo de 24 mil hectares. Os custos das regiões mais produtivas também são maiores, conforme o agricultor Stewart Ohrtman, que cultiva 810 hectares ao norte de Iowa. Em Bancroft, onde comumente se alcança mais de 13 toneladas de milho por hectare, o aluguel da terra (que representa até um terço do custo) chega a R$ 820/ha, relata, quase o dobro do preço de regiões menos produtivas.
A permissão para distribuição do E15 foi aprovada na última semana pela Agência de Proteção Ambiental dos Estados Unidos (EPA, na sigla em inglês). É opcional e vale para veículos com até 3 anos de uso. A aceitação do combustível em modelos de 2001 a 2007 ainda vai passar por novos testes.