Redação (14/06/06)- Os novos mecanismos de apoio à comercialização de soja a serem anunciados nas próximas horas pelo Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa) — e que irão garantir um prêmio de equalização para o produtor — estão sendo vistos como um avanço pelos ruralistas de Mato Grosso no processo de comercialização da safra agrícola.
Estou confiante de que com este novo mecanismo criado pelo governo federal vamos avançar na questão da comercialização e iniciar o processo de recuperação da renda do produtor, que foi corroída ao longo destes últimos anos devido a uma série de fatores, inclusive conjunturais, avalia o presidente licenciado da Federação da Agricultura e Pecuária de Mato Grosso (Famato) e representante da Confederação Nacional da Agricultura (CNA) na comissão mista que estuda a revisão do pacote agrícola do Mapa, Homero Alves Pereira.
Os novos mecanismos a serem anunciados pelo governo são os Prêmios de Equalização para o Produtor de Soja (Pepro) e o de Equalização da Soja (Pesoja). Por meio desses dois instrumentos, o governo federal irá pagar a diferença entre o preço de exercício e o contratado com as tradings. Caso os preços de venda sejam menores que os contratados, o governo cobre a diferença para o produtor, repassando o subsídio para os compradores e exportadores.
Na opinião do representante mato-grossense, a medida é um sinal de que o governo federal está de fato preocupado com a recuperação da renda do produtor. O governo reconhece esta perda e isso é muito importante para que possamos viabilizar a agricultura em nosso país.
Mesmo avaliando de maneira isenta a proposta da União, ele lamenta que a medida tenha chegado tarde, uma vez que mais de 50% da safra de soja já está comercializada.
É AVANÇO, MAS CHEGA TARDE
O diretor executivo da Associação dos Produtores de Soja de Mato Grosso (Aprosoja), Ricardo Tomcyzk, também acha que os novos mecanismos refletem a preocupação do governo federal em relação ao problema de renda no campo. Pena que a medida vem tarde e com prêmios de equalização bem abaixo das necessidades dos produtores, critica.
Para o representante da Aprosoja, o grande problema é o valor de referência que o governo atribuiu para o preço da saca da soja (R$ 22,50), que está bem abaixo do preço médio de custo na maioria das regiões produtoras de Mato Grosso, em torno R$ 27.
Podemos considerar que a medida vai amenizar, mas não resolve o problema porque ainda ficará um vazio para se conseguir a equivalência entre os custos e a receita, frisa Tomcyzk.
Na avaliação dos produtores, o problema crucial do setor está na perda de renda. Atualmente, os preços não chegam sequer a cobrir os custos de produção, assegura o diretor da Aprosoja.
Levantamento da entidade mostra que para produzir um hectare (ha) de soja o produtor gasta cerca de R$ 1,1 mil. No mesmo hectare, a renda obtida pelo produtor gira em torno de R$ 600, tomando-se o preço de R$ 14 por saca e um rendimento médio de 43 sacas/ha, contabilizado antes dos últimos piques do mercado internacional e da reação da taxa de câmbio, antes do final de maio.
Só na região de Primavera do Leste (239 quilômetros ao Centro Leste de Cuiabá), de acordo com o Sindicato Rural do município, as perdas com a safra este ano podem chegar a R$ 250 milhões, considerando uma área plantada de 500 mil/ha e um prejuízo de R$ 500/ha.
Não há como continuarmos na atividade tendo que bancar este prejuízo, diz o presidente do sindicato, José Nardes.
Novas medidas devem ser anunciadas hoje
Os novos mecanismos de apoio à comercialização de soja já receberam sinal positivo da área jurídica e do Conselho de Administração da Companhia Nacional de Abastecimento (Conab) e devem ser anunciados hoje pelo ministro da Agricultura, Pecuária e Abastecimento, Roberto Rodrigues.
Os mecanismos, que irão substituir o Programa de Opções Privada (Prop) para soja, serão oferecidos aos produtores e aos compradores, ou seja, indústria esmagadora e exportadores.
De acordo com informações da Companhia Nacional de Abastecimento (Conab), o papel do governo na operação será bancar a diferença entre o preço de mercado e o valor máximo estabelecido anteriormente. A idéia básica é pagar uma diferença de R$ 2 a R$ 6 em cada saca de 60 quilos, dependendo da região.
O governo federal criou o Prêmio de Equalização para o Produtor de Soja (Pepro) e o Prêmio de Equalização da Soja (Pesoja).
No caso do Pepro, os produtores do Pará, Rondônia e Norte do Mato Grosso, levando-se em conta o preço de exercício de R$ 22,50/saca para estas regiões, caso ele venda a soja por R$ 16,50 irá receber do governo os R$ 6 do prêmio, que são justamente as cifras que representam a diferença entre valor de exercício e de contrato.
No Pesoja, a indústria ou trading receberá R$ 6 do governo federal para comprar a soja por R$ 16,50. Com estes mecanismos, o governo cobre a diferença entre os preços contratados e de mercado para o produtor, evitando um prejuízo maior na hora da comercialização.
CAUTELA NO CAMPO
Para o produtor Orcival Guimarães, que plantou 21 mil hectares (ha) de soja nos municípios de Lucas do Rio Verde, Sorriso e Tapurah (Norte e Médio Norte de Cuiabá) na safra 05/06, o Pepro e o Pesoja representam uma ajuda para o produtor vender sua safra, mas não chegam a ser uma solução definitiva para o problema da comercialização e da perda de renda no campo.
O sojicultor destaca que a medida poderia ter sido anunciada mais cedo. Muitos produtores foram obrigados a vender sua soja por preços irrisórios, que não chegaram a cobrir os custos de produção. Somente aqueles que guardaram algum estoque serão beneficiados, adverte.
Guimarães informa que apenas 15% da sua produção — estoque que ainda não foi comercializado — serão contemplados pelos dois programas a serem anunciados pelo Mapa.
O presidente do Sindicato Rural de Primavera do Leste (239 quilômetros ao Centro Leste de Cuiabá) e produtor rural, José Nardes, vê a medida do governo federal com ceticismo e cautela. Temos que ver para crer, diz, lembrando que o governo federal anunciou recentemente o Prop (contrato de opções privado) da soja, e que até hoje não saiu do papel. Foi uma piada. Agora só acreditamos vendo, destaca. Nardes plantou 6 mil/ha de soja e já comercializou mais de 50% da sua safra.