Redação (23/03/2009) – O milho geneticamente modificado foi a novidade durante os Encontros Técnicos da Cultura do Milho realizados pela Fundação Bahia nos dias 14 e 21, em Roda Velha e Garganta, respectivamente, nos municípios de São Desidério e Formosa do Rio Preto, reunindo mais de 700 produtores, técnicos e especialistas.
Esta é a primeira safra em que o milho transgênico, denominado de Bt (Bacillus thuringiensis), resistente a lagartas, foi plantado no Brasil legalmente. A estimativa é que menos de 10% da área total esteja ocupada com o milho geneticamente modificado. A expectativa, no entanto, é que, para a safra 2009/2010, entre 80% e 90% do milho plantado na região seja do tipo Bt.
O milho Bt produz uma proteína tóxica a determinados insetos, notadamente as lagartas, que são a principal praga da cultura e que podem representar prejuízos de 30% na produtividade.
Ao ingerir partes da planta geneticamente modificada, que contém a bactéria Bacillus thuringiensis, a lagarta morre por inanição.
Comodidade
De acordo com o engenheiro agrônomo André Luiz, na região de cerrado da Bahia, a aceitação pelo milho transgênico "é muito boa, principalmente pela dificuldade que os produtores têm em controlar as lagartas. Com essa tranquilidade e comodidade, pois, ao adotar o milho Bt eles economizam na aplicação de inseticidas, os agricultores podem dar mais atenção a soja e algodão, que são as principais culturas do cerrado".
Já o professor Antônio Fancelli, com 30 anos dedicados ao estudo da cultura do milho no Brasil, enfatiza que, nesta safra, apesar de o milho transgênico alcançar poucas lavouras, foi possível comprovar sua eficiência com redução significativa de uso de agrotóxicos, "o que é bom para o produtor e o meio ambiente".
Mas, para a próxima safra, ele prevê que vai faltar semente do produto no mercado.
Para o produtor e consultor Celito Breda, o custo dos royalties a serem pagos para as empresas detentoras da tecnologia dos transgênicos é compatível com o milho irrigado, "onde a incidência de lagartas é maior". A média de gasto com a tecnologia é de R$ 100 a R$ 110 por hectare "que fica puxado para as áreas de sequeiro, mas, mesmo assim, proporciona tranquilidade e a maioria dos produtores vai aderir já para a safra 2009/2010".
Produtividade
No cerrado da Bahia, o milho é a cultura que ocupa o terceiro lugar em área plantada, alcançando nesta safra 180 mil hectares. Apesar de ter alta produtividade (ultrapassando a média de 100 sacas por hectare) e ser importante para a rotação de culturas – que consiste em evitar a repetição de uma mesma cultura em safras sucessivas em um determinado pedaço de terra, de modo a minimizar a ocorrência de pragas e doenças -, o milho tem uma área bem menor que a soja (plantada em 965 mil hectares) e o algodão (plantado em 282.142 hectares).
Em relação à safra 2007/2008, a área foi reduzida em 3%, com estimativa de colher, este ano, 1,2 milhão de toneladas. Na safra passada, a média foi de 1,3 milhão de toneladas. A perspectiva inicial é que a produtividade também seja menor, passando de média de 118 sacas/ha, na safra 2007/2008, para 110 sacas na atual safra como reflexo da economia no pacote tecnológico.
A explicação para redução de área está no preço baixo que o produto vem alcançando historicamente.
Com custo de produção elevado em relação à safra anterior, "este ano deveríamos colher entre 10 e 15 sacas a mais por hectare que ano passado para ter equilíbrio nas contas", diz o consultor agrícola Celito Breda.
Antes de começar a colheita, frisa o consultor agrícola, a saca de milho (de 60 kg), que chegou a R$ 29 em janeiro, já caiu para R$ 17". Para Breda, o preço ideal seria de no mínimo R$ 20 a R$ 21 para o milho produzido no sequeiro e R$ 24 para o produzido sob irrigação, cujo custo de produção é maior.
Nas plantações de Bt, os produtores são orientados a plantar uma faixa de milho convencional, para preservar plantações tradicionais vizinhas. Além disso, tem a função de fazer com que as pragas não fiquem resistentes ao Bt. Esse tipo de milho tanto é utilizado para consumo humano quanto animal.
"Os produtores buscam variedades que permitam melhores resultados econômicos, mas também para a implantação do Plantio Direto, pela capacidade de produção de palhada, fundamental para maximizar a matéria orgânica do solo", diz Stracci.
"Pelo lado econômico, a cultura não é interessante porque a comercialização é diferente de soja e algodão, que têm contratos futuros e outras vantagens" Amauri Stracci, presidente da Fundação Bahia