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Palma e China afetam relação entre preços da soja e do óleo

Mudança na relação entre preços impacta margens de esmagamento, diz estudo.

Palma e China afetam relação entre preços da soja e do óleo

Os preços da soja e do óleo subproduto do grão sofreram um descolamento no ano passado. Estudo da consultoria FCStone aponta que a relação entre as cotações das duas commodities, que costumava girar em torno de 3 (preço do óleo era três vezes o da soja), passou à casa de 2,2 vezes, considerando as cotações na bolsa de Chicago. No Brasil, em algumas praças, esse número ficou abaixo de 2, o que impactou as margens dos processadores e desestimulou o esmagamento do grão. “Os dois produtos estão agora encontrando uma nova equivalência, possivelmente mais perto de 2 [óleo valendo o dobro da soja]”, disse Thadeu Silva, diretor do Departamento de Inteligência de Mercado da FCStone, um dos autores do estudo.

O movimento começou a ser observado no início de 2013, quando os preços do óleo iniciaram uma trajetória de queda, enquanto os do grão permaneceram elevados (embora em níveis inferiores aos de 2012, ano marcado por quebras nas safras da América do Sul e dos EUA). Em 2 de janeiro de 2013, a soja era negociada a US$ 14 por bushel na bolsa de Chicago, e o óleo, a US$ 36 por bushel; no fim de dezembro, o grão estava em US$ 13 por bushel, enquanto o óleo havia caído a US$ 27 por bushel. No período comparado, portanto, a soja recuou 7%, e o óleo, 25%.
 
No Brasil, com base nos preços do mercado físico de Ponta Grossa (PR), importante polo de processamento de soja, houve uma queda de 1% dos preços do grão no ano passado, e uma redução de 28% nos preços do óleo. “Com isso, a relação entre o óleo e a soja está próxima de 1,5, sendo que já chegou a ser de 3,5 em 2008, época que coincide com o início da obrigatoriedade da mistura de biodiesel ao diesel no país”, afirma Natalia Orlovicin, analista da FCStone, que também assina o estudo. Situação semelhante foi verificada em outras praças, como Rio Verde (GO), Uberlândia (MG), Rondonópolis (MT) e Porto Alegre (RS).

Assim, enquanto a produção brasileira de soja em 2012/13 cresceu mais de 20%, o consumo interno (processamento) avançou somente 4,8%. Em Ponta Grossa, as margens brutas de esmagamento em 2013 ficaram predominantemente abaixo da média dos últimos cinco anos. Em dezembro, estavam em US$ 50 por tonelada, ante média de US$ 67 por tonelada.

A maior concorrência no mercado global de óleos vegetais, em especial com o óleo de palma, foi um dos fatores que determinaram a baixa do óleo de soja. A palma é uma cultura perene (ciclo longo), que atinge o ápice de produção após 8 anos. Em meados dos anos 2000, os preços do óleo desse vegetal (substituto ideal para o óleo de soja na indústria de alimentos e de biodiesel) estavam vantajosos e houve um estímulo ao cultivo na Ásia. Agora, o mercado está sendo inundado pelo produto.

“Como a palma permite colheitas por até 25 anos, a expectativa é que a oferta permaneça elevada nos próximos anos, independente do que acontecer com os preços”, disse o diretor da FCStone. A produção global de óleo de palma tem crescido à média de 6% nos últimos 5 anos, contra alta de 3,5% do derivado da soja. Com a ampla oferta, as cotações do óleo de palma acabaram deprimidas. A commodity fechou 2013 a US$ 811 por tonelada, 5% abaixo dos US$ 855 por tonelada do óleo de soja.

A recuperação da safra em importantes produtores de soja (como EUA e Brasil), no último ano, também contribuiu para elevar a oferta do óleo, porque ampliou a oferta da matéria-prima. Contudo, os preços do grão não caíram tão significativamente porque foram sustentados pela demanda firme, especialmente da China.

Há, nesse caso, uma particularidade bastante prejudicial ao óleo. A política chinesa de importação prioriza a compra do grão, e não do farelo ou do óleo, em função das metas locais de geração de empregos e renda. “No Brasil, ao contrário, existe um imposto que desonera a soja em grão e onera os subprodutos. Se fosse diferente, teríamos uma justificativa para aumentar nossa capacidade de esmagamento, com vistas à exportação”, explicou Silva. Atualmente, as exportações de óleo do país correspondem, em volume, a cerca de 2% do total dos embarques do complexo soja.

Segundo Natalia, a limitação do mercado de biodiesel, que absorve 35% da produção nacional de óleo de soja mas aguarda uma elevação na obrigatoriedade da mistura ao diesel (hoje em 5%), colabora para agravar o cenário de desalento. “A atual política não tem gerado aumento de demanda, que poderia sustentar o preço”, ressaltou.

Para 2014, a perspectiva da consultoria é de que a oferta de óleos vegetais continue positiva, o que pode manter os preços ainda baixos. Por outro lado, as cotações da soja tendem a recuar com a maior produção esperada na América do Sul e nos EUA, o que pode ajudar na recuperação parcial das margens de esmagamento.