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Mercado Interno

Para a FGV, alta dos preços dos grãos não chegou totalmente ao varejo

O economista Salomão Quadros diz que pressão está localizada em soja, milho e trigo, commodities com grande potencial de repasse ao consumidor.

O impacto do choque de oferta de grãos em virtude da seca nos Estados Unidos deve ter atingido seu pico na leitura atual do Índice Geral de Preços – Mercado (IGP-M), que avançou de 0,66% para 1,34% entre junho e julho, avaliou nesta segunda-feira o coordenador de análises econômicas da Fundação Getulio Vargas (FGV), Salomão Quadros. Ele observou que os efeitos defasados desse movimento no atacado ainda não chegaram plenamente ao varejo. “Os impactos diretos [da subida dos preços dos grãos] podem estar chegando ao seu limite, mas temos que observar o que vem mais adiante”, disse Quadros durante apresentação dos dados de julho.

A taxa registrada no mês foi a maior desde novembro de 2010, quando o IGP-M havia subido 1,45%, após duas altas seguidas acima de 1%, em setembro e outubro. Naquele período, lembrou o economista, as commodities estavam avançando de forma generalizada com a perspectiva de recuperação da economia mundial e a atividade doméstica aquecida, fundamentos econômicos que hoje não estão presentes. “Estamos observando uma subida imensa e sem precedentes das commodities, mas ela é parcial”, afirmou. Assim, em sua avaliação, é pouco provável que o IGP-M se situe acima de 1% em três leituras consecutivas.

No cenário atual, destacou Quadros, a pressão está localizada em três commodities, cujo potencial de repasse ao consumidor não é desprezível: soja, milho e trigo. No caso do trigo, os preços não estão sendo diretamente afetados pela estiagem, mas sim por um deslocamento da demanda, já que, na falta dos dois grãos, ele também serve de insumo para rações animais.

Na atual leitura do IGP, o complexo soja — que, além do grão, engloba o farelo e o óleo — foi responsável por 60% da aceleração de 1,81% do Índice de Preços ao Produtor Amplo (IPA), ou 1,09 ponto percentual. No mês passado, o indicador havia subido 0,74%. Já o milho foi responsável por 0,15 p.p. da taxa do atacado, deixando queda de 3,9% em junho para elevação de 6,7% em julho.

A soja, ao avançar de 4,3% para 14,89% no período, marcou sua maior alta mensal desde outubro de 2002. No ano, o grão acumula aumento de 62,6%, maior taxa para o período desde o início da série histórica do IGP-M após o início do Plano Real, em 1995, também como efeito das quebras de safra que ocorreram no início do ano no Brasil e na Argentina. “O entendimento completo do problema tardou no primeiro trimestre e os preços reagiram rápido a previsões de colheitas menores. Acho que agora estimativas não estão mais afetando os preços, por isso acredito que eles possam estar perto do pico”, explicou o coordenador.

Quadros acrescentou que os impactos defasados da alta dos grãos no atacado ainda não repercutiram totalmente nos preços ao consumidor, movimento que deve ser observado nos índices ao varejo nos próximos meses.

A ração animal, ressaltou, aumentou de 1,15% para 3,33% entre junho e julho, o que pode pressionar os preços das carnes. Já a alta de 1,29% para 1,91% do trigo, de acordo com Quadros, já está chegando ao varejo. Dentro do IPC, o pão francês subiu de 0,42% para 1,95%. O óleo de soja, que desacelerou de 2,81% para 1,35%, por sua vez, ainda não sentiu o impacto da elevação da matéria-prima. “A nova onda de reajustes [das matérias-primas] mal chegou nos produtos derivados”, disse.

Na visão de Quadros, o novo cenário para preços de alimentos está por trás das previsões mais pessimistas do mercado para o IPCA. Divulgado nesta segunda-feira pelo Banco Central, o boletim Focus mostrou que a mediana de expectativas para o indicador passou de 4,92% para 4,98% entre a semana passada e a atual, terceira revisão para cima consecutiva. “Há dois meses não havia uma percepção exata desse movimento. Mas isso não reverte a política de redução de juros porque a economia está muito fraca”, analisou.

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