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Paranaguá perdeu soja para Santos e São Francisco

<p>Números mostram que porto catarinense teve alta de 205% no embarque de grãos, em 2 anos.</p>

Redação (25/09/06)- De janeiro a agosto deste ano, o porto de Paranaguá embarcou 3,2 milhões de toneladas de soja em grão. O volume é 21,8% menor que as 4,1 milhões de toneladas embarcadas em igual período do ano passado, e 27,2% mais baixo que nos primeiros oito meses de 2004. Os números, fornecidos pela Secretaria de Comércio Exterior (Secex) do Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior (MDIC), mostram que a soja anteriormente exportada via Paranaguá segue hoje por outros caminhos: Santos (SP) e São Francisco do Sul (SC).

[Paranaguá] era o maior porto graneleiro do país e está deixando de ser, porque é mal administrado, avalia o assessor da diretoria da Federação da Agricultura do Estado do Paraná (Faep), Carlos Augusto de Albuquerque. Para ele, a batalha travada pelo governador Roberto Requião desde 2002 contra a exportação de grãos transgênicos é responsável por afugentar os exportadores. Desde abril, uma decisão judicial permite o embarque desse tipo de produto por um dos berços de atracação na semana passada, uma decisão liminar ampliou a permissão para mais dois berços (como são chamadas as áreas de cais onde os navios encostam para carregar e descarregar).

Ainda assim, a recente mudança não deve ser suficiente para fazer Paranaguá recuperar, já neste ano, a movimentação de grãos que perdeu.

Além das restrições, há um desajuste provocado na gestão do porto. A falta de entrosamento da Appa [Administração dos Portos de Paranaguá e Antonina] assustou os exportadores, diz Wilem Manteli, da Associação Brasileira de Terminais Portuários. Os embarcadores procuraram desviar para São Francisco e Santos, mesmo tendo que fazer investimentos nestes outros portos, afirma Albuquerque, da Faep.

Nos primeiros oito meses deste ano, os embarques de soja no porto de São Francisco do Sul cresceram 61,7% na comparação com igual período de 2005. Em dois anos, esse aumento chega a 205,4%. Já o porto paulista teve incremento de 7,5% nos embarques de soja em grão até agosto deste ano em compração com o mesmo período de 2005, e acréscimo de 18,2% na comparação com 2004.

Paranaguá deixou de ser um porto confiável, considera Luiz Antônio Fayet, do Conselho da Autoridade Portuária de Paranaguá (CAP). Se não há segurança operacional, as empresas mandam seus navios direto para outros portos. É muito caro manter um navio parado sem que se saiba se a carga será realmente embarcada. Mesmo que a soja não seja transgênica, o exportador tem receio, completa.

Os dados do Ministério mostram ainda que Paranaguá não perdeu somente carga agrícola de outros estados como Mato Grosso , mas principalmente soja produzida pelo Paraná. Foram exportadas 1,7 milhão de toneladas até agosto, contra 2,7 milhões de toneladas em igual período de 2005. Parte desta carga foi absorvida por São Francisco do Sul, que passou a embarcar 528 mil toneladas este ano, contra 432 mil no ano passado.

Retenção

De acordo com Flávio Turra, gerente técnico-econômico da Organização das Cooperativas do Paraná (Ocepar), o volume que deixou de sair pelo Paraná não corresponde ao exportado por Santa Catarina (nem toda a carga que deixou de sair pelo porto paranaense foi para lá) porque o produtor ainda espera para comercializar parte da última safra. Há retenção de soja. O produtor acompanha nesta época a safra americana. Pode haver quebra lá, e é preciso esperar para ver se o preço melhora para então vender.

Movimento total
O movimento total de Paranaguá cresceu 3% de janeiro até a última terça-feira, na comparação com igual período do ano passado. Parte deste crescimento é explicado pela modéstia da base de compração referente ao embarque de milho. A operação cresceu 354% neste ano, mas no ano passado a quebra da safra fez as exportações do produto caírem 75% na comparação com 2004. Até a semana passada, foram 2,5 milhões de toneladas contra 549 mil no mesmo período, em 2005. O Porto de Paranaguá responde por 95% da exportação de milho do Brasil.

Grandes empresas investem em portos de Santa Catarina
O aumento da movimentação de cargas nos portos catarinenses desencadeou uma série de investimentos em terminais do estado vizinho. Até a metade de 2008, Santa Catarina deve ter dois novos terminais em operação Itapoá e Navegantes além de ter concluídas as obras de ampliação nos portos de Itajaí, São Francisco do Sul e Imbituba.

As empresas que investem nos novos terminais catarinenses negam que haja relação dos negócios com a performance do Porto de Paranaguá, mas concordam que é preciso diversificar as opções de operação e apostam na gestão de terminais privados (como Itapoá, Navegantes e Imbituba).

A Hamburg Süd, maior grupo na operação de contêineres na América do Sul (e 15. no mundo), está investindo US$ 195 milhões na construção do Porto de Itapoá, em parceria com o grupo Tecon Santa Catarina. A empresa garante que vai continuar operando em Paranaguá o movimento atual da Hamburg Süd/ Aliança é de 24 navios/mês e diz que os investimentos em Santa Catarina se justificam pela demanda, pelo calado natural do porto e pelo clima de Itapoá, favorável para a navegação.

A partir de 2008 a Hamburg Süd vai trabalhar com uma nova geração de navios, que precisam de maior profundidade para navegar na área de cais. O calado natural de Itapoá é de 16 metros, sem a necessidade de dragagem. O calado de Paranaguá é de 14 metros, e necessita de dragagem constante, embora há mais de um ano o trabalho que no momento está subjudice não seja realizado.

Além da Hamburg Süd, empresas paranaenses também apostam nos terminais catarinenses. A Standard Logística, do grupo Demeterco, venceu a licitação para a concessão do terminal de Imbituba em parceria com a carioca Libra, que opera dois terminais no Porto de Santos. A Libra Standard vai investir um total de R$ 20 milhões no terminal de Imbituba, que tem foco em carga frigorífica e vai atender o Paraná, Santa Catarina e norte do Rio Grande do Sul.

A Rocha Top, empresa paranaense que opera em Paranaguá, fechou, há menos de um mês, um acordo com a espanhola Dragados para ampliação de um terminal multi- uso (para contêineres e outras cargas) em São Francisco do Sul. Já tínhamos um arrendamento e o grupo Dragados queria investir em portos no Brasil. Escolheu São Francisco do Sul, diz Hélio Freire, diretor da Rocha Top. Mas, segundo Freire, os investimentos da Rocha Top em Paranaguá vão continuar. Os novos portos em Santa Catarina são resultado de uma demanda reprimida. Mesmo com as ampliações, Paranaguá ainda vai continuar sendo o porto mais importante da região, completa.