A agência federal de saúde da China suspendeu um de seus pesquisadores na esteira das investigações que apuram se de fato dezenas de crianças do país serviram de “cobaias” em pesquisas sino-americanas não autorizadas com arroz geneticamente modificado. Os experimentos, na Província de Hunan, vieram à tona em meio à indignação pública com o histórico recente da segurança alimentar chinesa e deverão arraigar as dúvidas da população sobre os transgênicos, que já arrefeceram a disposição do governo em permitir sua comercialização.
O Centro Chinês para o Controle e Prevenção de Doenças divulgou na segunda-feira à noite que a agência e suas afiliadas não permitiram nem participaram do projeto “Arroz Dourado”, de 2008, organizado em conjunto por pesquisadores da China e da Tufts University, de Massachusetts, cujos detalhes estão em artigo científico publicado na edição de agosto do “American Journal of Clinical Nutrition”. O artigo descreve testes de uma variedade de arroz transgênico enriquecido com vitaminas em 24 crianças de seis a oito anos da zona rural de Hunan. O objetivo do projeto era testar se o alimento seria capaz de reduzir a deficiência de vitamina A nas crianças em países em desenvolvimento.
“O conteúdo da pesquisa descrita no artigo não está de acordo com as regulamentações sanitárias”, informou a agência chinesa em comunicado. A agência suspendeu seu pesquisador Yin Shi’an, um dos três autores do artigo, e segue a esquadrinhar seu trabalho. Segundo a agência, as explicações de Yin durante as investigações foram inconsistentes com as do principal autor do artigo, Tang Guangwen, pesquisador da Tufts. Tang, que liderou o projeto, afirmara que os testes haviam sido pré-aprovados, segundo a agência estatal de notícias “Xinhua”. Como parte do projeto, as crianças teriam sido alimentadas com arroz transgênico, espinafre e cápsulas de caroteno por 35 dias. O centro pediu que a Tufts também investigue o caso.
Segundo a “Xinhua”, a diretora-assistente de relações públicas da Tufts, Andrea Grossman afirmou que os protocolos da pesquisa estão sendo checados. “Sempre demos a maior importância à saúde humana e tomamos todas as medidas necessárias para garantir a segurança dos objetos de pesquisa humanos”, disse ela, conforme a agência de notícias.
O Greenpeace foi o primeiro a chamar a atenção para o artigo da Tufts, em 31 de agosto. A ONG promove há sete anos campanha na China contra o arroz transgênico, argumentando que a engenharia genética “contamina organismos naturais de forma incontrolável e imprevisível”. O grupo apoia movimento similar nas Filipinas, onde exige o fim dos testes de campo com o “arroz dourado”, assim chamado por sua tonalidade, em três províncias. Ainda não há consenso se os alimentos modificados geneticamente podem ser nocivos ou não para o consumo humano ou em rações.
A maior parte da soja importada pela China é transgênica, e o país é o maior produtor mundial de algodão modificado geneticamente. Os chineses também permitem a importação de algumas variedades de milho transgênico, usadas apenas em rações. O governo aprovou a segurança dos grãos transgênicos, incluindo o arroz, em 2009, mas não deu sinal verde para a produção comercial plena das variedades. Apesar da assinatura de um acordo fitossanitário com a Argentina no fim de 2011 para permitir a importação de milho, o Ministério da Agricultura chinês reluta em dar sua aprovação final para certas variedades produzidas no exportador sul-americano.