Nem as primeiras estimativas (ainda muito preliminares) favoráveis do USDA (Departamento de Agricultura dos Estados Unidos) sobre o abastecimento durante o ano agrícola 2011/12 nos Estados Unidos foram capazes de esfriar o mercado internacional de milho. Após alguns dias de queda, verificados na véspera do anúncio das previsões, os números, que indicam uma situação mais favorável do que a do ano agrícola que está se encerrando, não foram suficientes para manter os preços em um nível mais baixo. Poucos dias depois as cotações do milho na Bolsa de Chicago voltaram aos patamares anteriores, ao redor de US$ 7,50 por bushel (cerca de US$ 295,00 por tonelada). As boas novas não foram suficientemente boas para alterar as condições de mercado.
Como a produção de milho nos Estados Unidos tem papel primordial no estabelecimento dos preços da Bolsa de Chicago, o avanço do plantio do cereal nesse país tem contribuído para a situação de preços elevados. A demora no plantio ainda se verifica e o atraso em importantes estados produtores ainda é maior do que o atraso médio do país. Além disso, embora a área plantada com milho prevista para esta safra nos EUA seja inferior apenas à de 2007/08, e a produção esperada se constitua em um novo recorde, a situação final dos estoques americanos continua crítica. Para finalizar, em alguns estados a emergência das plantas está muito abaixo da média histórica, o que indica que o avanço do plantio ocorreu muito recentemente.
A safra argentina já está em processo de comercialização, porém com o controle das exportações implantado pelo governo argentino o mercado interno está desorganizado, fazendo a alegria dos compradores e certamente desagradando aos produtores. Esta situação, no longo prazo, desestimula os agricultores e retira a competitividade do milho frente a outras culturas.
Situação Interna
No Brasil, após a colheita do milho da safra de verão no Centro-Sul os preços continuam se situando na faixa entre R$ 22,00 e R$ 24,00 o saco nas principais regiões consumidoras, muito acima do verificado há um ano.
Duas praças merecem comentários. Em Luiz Eduardo Magalhães (região de Barreiras) os preços caíram consideravelmente indicando que a safra do Nordeste foi boa e a demanda regional necessitará de pouco milho vindo de fora da região (isto confirma os números favoráveis de safra coletados pela Conab, Companhia Nacional de Abastecimento). Nesta região chama a atenção o crescimento da produção de milho no estado de Sergipe, onde têm sido obtidas produtividades muito superiores a outras regiões similares do Nordeste em função do incremento no uso de sementes com maior potencial produtivo, insumos químicos e novas técnicas de condução das lavouras.
A outra praça é Lucas do Rio Verde, onde os preços nem se comparam aos míseros valores da safra passada. Como o mercado foi enxugado pelas exportações e existe uma perspectiva de redução da produção na safrinha de Mato Grosso, aparentemente teremos menos problemas de comercialização na época da colheita do que os verificados na safra de 2010/11. Grande parte da produção inclusive já foi comercializada no mercado futuro.
Com relação à safrinha, a Conab revisou para cima tanto a produção quanto a estimativa de área plantada, porém reviu para baixo a produtividade esperada. De qualquer forma, a produção de milho prevista para esta época de plantio é apenas cerca de 300.000 toneladas a menos do que o obtido na safra passada. O problema é o clima, pois já está completando quase um mês sem chuvas no estado de Mato Grosso, e isto certamente afetará a produtividade das lavouras. Como conforto, o Imea (Instituto Mato-grossense de Economia Agropecuária) informou que apenas cerca de 30% das lavouras foram plantadas fora do período mais recomendado, o que diminui a área com potencial de redução na produtividade das lavouras de milho. Estimativas preliminares de diversas fontes indicam uma redução na produção da safrinha em Mato Grosso no intervalo entre 20% e 40% em relação à safra passada, muito acima dos levantamentos da Conab, que estão em cerca de 8%.
No Paraná, a estimativa da área plantada com milho na safrinha está agora mais próxima dos 1,7 milhão de hectares, porém as condições climáticas em algumas regiões do estado também estão desfavoráveis, embora não na magnitude do que ocorre em Mato Grosso.
Se as condições da safrinha ainda estão indefinidas, a safra de verão ocorreu de forma satisfatória e as preocupações com o abastecimento do mercado interno se transferem para o segundo semestre. A não ser que ocorram problemas muito sérios de produção na safrinha, as exportações ainda serão necessárias para regularizar o mercado interno, evitando que os preços caiam a níveis desestimuladores para a implantação da próxima safra. A este respeito, as exportações de milho pelo Brasil recuaram novamente em abril (foram exportadas apenas 116 mil toneladas, a menor quantidade exportada nesse mês, desde 2006), com uma leve redução do preço médio para US$ 252,00 por tonelada. Com a valorização do real frente ao dólar americano, o mercado interno passou a ser mais interessante.
Com base nas informações sobre exportações brasileiras de milho no primeiro quadrimestre de 2011, é possível verificar os mercados que são consumidores estáveis do milho brasileiro e aqueles mercados eventuais que existem em função de ocorrências como a quebra na safra de países do leste europeu, no ano de 2010. No primeiro grupo estão países como o Irã, Malásia, Colômbia, Vietnã e Marrocos. No segundo estão os países da Europa, Japão, Venezuela e Emirados Árabes. A conquista destes mercados é essencial para viabilizar as exportações brasileiras de milho, que deverão existir mesmo em anos normais.
Por João Carlos Garcia e Jason de Oliveira Duarte, pesquisadores da área de economia agrícola da Embrapa Milho e Sorgo