Da Redação 15/02/2005 – No primeiro mês de 2005, o Brasil exportou 84 mil toneladas de milho, pouco mais de 14% do volume embarcado em janeiro de 2004, quando 590 mil toneladas do grão brasileiro foram destinadas ao mercado externo. A distância entre esses dois números dá uma idéia das dificuldades que o setor enfrenta para exportar neste início de ano em decorrência dos preços deprimidos no mercado internacional e do câmbio valorizado no Brasil. Diante deste cenário, a expectativa geral é de recuo nas vendas externas de milho em 2005. Mas a intensidade de queda varia conforme o grau de pessimismo ou otimismo do interlocutor.
Em 2004, as exportações do produto totalizaram 5,031 milhão de toneladas, de acordo com a Secretaria de Política Agrícola do Ministério da Agricultura. A previsão da Conab para este ano é de 2,5 milhões de toneladas, ou seja, metade do embarcado ano passado.
A Céleres estima que o país possa embarcar 4 milhões de toneladas, número compartilhado por especialistas do governo. Mas a Safras & Mercado, que utiliza como base de comparação o período entre fevereiro de 2004 e janeiro de 2005, quando a exportação somou 4,6 milhões de toneladas, está bem menos otimista. A consultoria revisou sua estimativa de embarques para o intervalo entre fevereiro de 2005 a janeiro de 2004 – que era de 2,8 milhões de toneladas – para 1,3 milhão de toneladas. Os números podem variar, mas as razões apontadas por analistas são as mesmas: cotação baixa por causa da grande oferta internacional e real valorizado.
“Nos últimos três anos, o que tornou o Brasil competitivo [nas exportações] foram os preços altos e o câmbio desvalorizado”, observa Paulo Molinari, da Safras. Sem esses dois componentes, o Brasil deve perder espaço nos mercados para países como Estados Unidos e Argentina, tradicionais exportadores.
Leonardo Sologuren, da Céleres, concorda que os dois fatores beneficiaram as vendas externas brasileiras, mas afirma que o país precisará exportar em busca de liquidez. “A demanda do Brasil não absorve todo o excedente”, pondera Sologuren. Ele lembra, ainda, que a produção na safrinha do milho será determinante na definição sobre a exportação. Para Sologuren, com uma safrinha de 9,6 milhões de toneladas – pouco abaixo de 2004/05 -, o país terá um excedente de 3 milhões de toneladas.
“Hoje a exportação [de milho] serve para enxugar os excedentes”, reitera José Cícero Aderaldo, gerente comercial de grãos da Cocamar, de Maringá (PR). Ele também avalia que a safrinha – ainda uma incógnita, já que é bastante suscetível a riscos climáticos – vai determinar os volumes exportados. Além disso, também é preciso levar em conta a quebra na safra do Rio Grande do Sul, estimada em 37,7% pela Emater.
Mesmo concordando que o momento é menos favorável para as exportações de milho, o coordenador-geral da Secretaria de Política Agrícola do Ministério da Agricultura, Sílvio Farnese, avalia que as regiões produtoras próximas a portos vão exportar milho na safra em busca de liquidez. O especialista estima exportações entre 3,5 milhões e 4 milhões de toneladas, num quadro de produção de 43,1 milhões de toneladas (safra mais safrinha).
O certo, no momento, é que a cotação do milho na exportação não é convidativa, e os preços internos estão acima da paridade de exportação. De acordo com Paulo Molinari, exportadores tentam vender milho a US$ 102 no transferido do porto de Paranaguá, o que equivale a R$ 14,90 por saca no oeste do Paraná. Os preços em Chicago, no entanto, indicam, uma cotação US$ 10 menor, o que significa que liquidaria a R$ 13,40 no oeste do Paraná, considerando o atual nível do dólar. Enquanto isso, no mercado disponível do oeste, as ofertas estão em R$ 14,50.
Em 2004, quando o Brasil chegou a exportar milho por US$ 150 por tonelada em janeiro, a remuneração animava mais o produtor. “A realidade é muito diferente. No ano passado, o produtor chegou a receber R$ 18 a R$ 19 por saca. Hoje recebe R$ 12 a R$ 13”, lamenta Aderaldo, da cooperativa Cocamar.
Para Farnese, da Secretaria de Política Agrícola, à medida em que a safra nova de milho entrar no mercado – o que ocorre com mais intensidade a partir deste mês -, os preços internos devem ser pressionados, caindo abaixo da paridade de exportação e viabilizando novamente as vendas externas.