Redação (01/12/06) – As perspectivas em relação ao quadro de oferta e demanda de etanol nos Estados Unidos em 2007 voltaram a ter forte influência sobre o comportamento das cotações internacionais dos principais grãos em novembro, segundo analistas ouvidos pelo Valor.
Cálculos do Valor Data baseados nos preços médios dos contratos futuros de segunda posição de entrega negociados nas bolsas de Nova York (açúcar, café, cacau, suco de laranja e algodão) e Chicago (soja, milho e trigo) comprovam que, no mês passado, a maior variação positiva em relação à média de outubro foi a do milho – principal matéria-prima do etanol americano -, seguida pela da soja.
Ambos estiveram entre as commodities que mais subiram no exterior também na relação entre outubro e setembro, mas no caso o produto que mais subiu foi o trigo, o que não se repetiu no último levantamento.
Antonio Sartori, da Brasoja, afirma que, para os EUA, a preocupação em relação à oferta de etanol não está mais em 2007, que já conta com estoques em formação, mas em 2008. Poderá haver no país problemas climáticos relacionados ao El Nio, o que gera incertezas, e a grande presença de fundos no mercado de grãos sinaliza grande volatilidade. “O mercado nunca teve tanta liquidez”, afirma.
“E o último relatório do USDA [Departamento de Agricultura dos EUA] surpreendeu e projetou pequena queda da produção de milho naquele país [na safra 2007/08], o que deve tornar o ambiente ainda mais especulativo em 2007”, diz Paulo Molinari, da Safras&Mercado. Pelos critérios do Valor Data, o milho subiu 17,79% em novembro, atingiu a média de US$ 3,7104 por bushel e passou a acumular alta de 79,18% em doze meses – a maior entre as commodities pesquisadas.
Segundo Sartori, foi por isso que a cotação média da soja registrou salto de 11,51% no mês passado, para US$ 6,7695 por bushel, contrariando inclusive os fundamentos do mercado – produção recorde nos EUA e no mundo e estoques elevados. “A soja está sendo rebocada por milho e trigo, e o que surpreende é uma alta como essa nesse momento”, sustenta o analista.
O trigo também permanece em elevado patamar em Chicago, mas caiu 1,09% na comparação entre novembro e outubro, para US$ 5,0818 por bushel. Vinicius Ito, da Fimat Futures, lembra que no mês passado a quebra australiana, já precificada, deixou de pressionar o mercado, o que pode explicar a pequena retração. E que, como o trigo não costuma “disputar” as mesmas áreas de plantio com o milho – como acontece com a soja -, a influência da febre do etanol é menor.
Em Nova York, o café foi a commodity de maior destaque em novembro. No mês passado, seu preço médio subiu 10,48%% e foi a US$ 1,1988 por libra-peso. Segundo Rodrigo Costa, da Fimat, há uma perspectiva de que a safra brasileira 2007/08 de café seja menor por conta da florada prejudicada nas principais regiões produtoras, sobretudo em Minas Gerais. No mercado, estima-se que a colheita poderá oscilar entre 30 milhões e 32 milhões de sacas, ante as 44 milhões previstas para esta safra. Costa não acredita em redução drástica mesmo levando-se em conta a bianualidade da cultura. Para ele, a maior valorização do euro sobre o dólar também ajudou a sustentar o café em novembro. “Para dezembro, há uma perspectiva de forte movimento de compra, o que poderá manter os preços com suporte”, acredita.
Para as cotações do suco de laranja, o céu ainda é de brigadeiro, sem nuvens no horizonte. No mês passado, a alta em Nova York foi de 7,14%, e nos últimos doze meses os ganhos chegaram a 62,99%. Ainda pesam – e pesarão por muito tempo – nesse mercado os problemas de oferta de laranja na Flórida, golpeada por furacões em 2004 e 2005. Isso significa que a tonelada já está perto de US$ 3 mil, ante os cerca de US$ 800 de 2004.
No cacau, as perspectivas também são de que as cotações sigam firmes, já que importantes países produtores , como a Indonésia, podem ter produtividade menor por conta do clima, segundo Thomas Hartmann, da TH Consultoria. “Havia uma projeção de déficit mundial entre 50 mil e 70 mil toneladas, mas ele pode ser maior”. Em novembro, os futuros de segunda posição subiram 2,58%, para US$ 1.520,30 por tonelada.
No algodão, a boa demanda chinesa continua a sustentar as cotações e não há grandes novidades, de acordo com Fernando Martins, também da Fimat. Em novembro, a pluma subiu 1,71%, conforme o Valor Data, e chegou a 52,66 por libra-peso. E no açúcar, finalmente, a baixa volatilidade tirou parte do suporte dos preços, segundo Alexandre Oliveira, da Fimat. A cotação média em novembro ficou em 11,83 centavos de dólar por libra-peso, com alta de 1,36%. “Os países de origem venderam bem nas últimas semanas, o que poderá oferecer sustentação no médio prazo”.