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Problema nacional

O Brasil colhe mais uma safra recorde. Mas a boa notícia também traz uma preocupação: faltam meios para armazenar e transportar a produção.

Da Redação 25/02/2004 – 04h55 – A safra brasileira de grãos vai bater um novo recorde em 2004. A produção vem crescendo rapidamente, mas a capacidade de armazenamento e de transporte não.

Em Passos, no sul de Minas, por exemplo, a colheita está para começar e os silos das cooperativas permanecem lotados com milho da Conab e dos agricultores. O produtor José Luiz tem guardado até hoje o milho da safra passada. “Eu pensei que, se armazenasse na entressafra, o preço poderia melhorar, mas não foi o que aconteceu”, diz.

A falta de armazéns também é um problema no oeste do Paraná. Uma cooperativa de Palotina guarda 60 mil toneladas de milho do governo desde setembro do ano passado. “Se não tivermos no médio e longo prazo políticas consistentes em relação a investimento e infra-estrutura e armazenagem, nós podemos chegar ao ponto de orientar o produtor para não produzir em função de não ter capacidade estática para receber a produção”, lamenta João Paulo Koslovski, presidente da Ocepar.

Para diminuir o prejuízo, cooperativas e produtores vêm instalando novos armazéns pra guardar a safra. Em Nova Aurora, uma cooperativa investe quatro milhões de reais na construção de seis silos. Nas propriedades, os agricultores também procuram ampliar a capacidade de armazenagem.

Poder esperar para vender a produção no momento certo e conseguir um preço melhor. É por esse motivo que muitos agricultores estão construindo silos e armazéns particulares, um investimento alto, mas que segundo eles vale a pena.

O produtor Laurindo Tasca decidiu investir dois milhões de reais para construir três silos na fazenda. “A nossa estrutura aqui é em torno de seis mil toneladas – seis mil sacas – e nós usamos a produção em torno de 60% dessa capacidade. O restante a gente presta serviço a outros produtores”, diz.

Em Mato Grosso, outro problema grave do escoamento prejudica a safra: as estradas. Mato Grosso deve produzir 15,7 milhões de toneladas de soja; 27% da safra nacional. Apenas 5% ficam no Estado.

A BR-163 é usada no escoamento da soja produzida no norte do Estado. Na estrada, é preciso ter habilidade e muita paciência. Num dos trechos, por exemplo, desviar dos buracos é quase impossível.
Nas estradas de terra as condições são ainda piores. Os atoleiros dificultam a passagem dos carros. Como vamos sair daqui?

Precisamos dos canais de escoamento, estradas que nos dêem alternativas para podermos mandar a soja para lá”, diz Mário Rodrigues, agricultor.

Sérgio Ramos, plantou 1.500 hectares de soja, em Diamantino, médio norte do Estado. “Cada buraco a mais na rodovia é um pouco mais que aumenta no custo do frete”, diz Sérgio.

“O frete aumenta muito porque o caminhão demora mais tempo para fazer o percurso, e tempo é dinheiro. Uma viagem que se faria em um dia leva dois dias para fazer, o consumo de combustível aumenta porque o caminhão só anda com marchas pesadas, além do desgaste do veículo, estoura mais pneu, quebra molas, suspensão e a manutenção sobe muito”, explica Etevaldo Azevedo, presidente do Sindicato das Transportadoras de Mato Grosso.

Por causa das condições das estradas o frete já aumentou 20%. Por isso, os agricultores decidiram botar a mão no bolso doando parte da safra para bancar a recuperação das estradas. A contribuição é de duas a três sacas por hectare. Com o dinheiro arrecado os produtores pagam serviços e administram a obra.

O governo entra com metade do óleo das máquinas e a camada de asfalto. Em todo o Estado já foram concluídos 204 quilômetros por meio dessa parceria. “Se cada um entra com a sua parcela não onera cada produtor e beneficia a todos. O ganho é muito grande”, diz Luís Carlos Ticianel, presidente da Associação dos Produtores Rurais de Diamantino.

Para resolver os problemas que o país enfrenta no escoamento da safra seriam necessários investimentos muito maiores do que o orçamento permite. Perguntamos como resolver essa questão ao ministro da Agricultura, Roberto Rodrigues.

Segundo ele, “no curto prazo, muito pouca coisa pode ser feita. Os recursos orçamentários são muito escassos. Nós tínhamos um projeto muito interessante, a Conab preparou um estudo das principais rodovias do país que precisavam ser consertadas rapidamente, mostrando inclusive que tonelagem passaria por cada uma delas. Com isso, fizemos uma priorização de rodovias e um acordo com o Ministério do transporte no final do ano passado, para que os investimentos de R$ 200 milhões fossem aplicados nessas rodovias.

Tudo estava certo quando começou a chover. O excesso de chuva em algumas regiões do país, não só não permitiu fazer as reformas necessárias, mas também criou problemas em outras rodovias que agora têm que ser reformadas. Tudo isso não se faz em tempo de chuva, reforma de estrada tem que fazer na seca. Mas na seca, estávamos com os cofres secos”.