Redação (21/01/2009)- Mudanças climáticas e turbulências da crise financeira internacional provocaram queda na produção de grãos no ano passado, especialmente no fim do período. E, segundo análise do Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada (Cepea), é possível que esses dois fatores continuem impactando o setor neste ano.
Com isso, disse o pesquisador Lucílio Alves, o ano de 2009 começou com muita preocupação em relação à situação das lavouras de grãos no país. Alves citou entre os problemas as restrições ao crédito, a alta dos insumos e o decréscimo da demanda. Em decorrência disso, em algumas regiões, já estão ocorrendo demissões de funcionários nas fazendas.
“Há estimativas do IBGE [Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística] apontando menor produtividade agrícola em virtude desse fatores. E, o mais preocupante, tudo indica que, na safra seguinte, 2009/2010, a situação possa ser pior no campo para o agronegócio brasileiro”, disse o pesquisador do Cepea, em entrevista ao programa Revista Brasil, da Rádio Nacional.
De acordo com Alves, o cerrado foi a região que mais sofreu com as dificuldades de acesso ao crédito, o que levou muitas fazendas a demitir grande parte dos funcionários e a restringir as tecnologias usadas nas lavouras de grãos. “Nas grandes fazendas do cerrado, houve dispensa de funcionários em grande quantidade, uma situação realmente complicada.”
A falta de chuvas em 2008 foi também fator significativo para a queda da produtividade das lavouras de grãos, principalmente em partes do oeste da Região Sul, acrescentou o pesquisador, que ressaltou também o problema da seca em Mato Grosso do Sul. “Isso pode diminuir a oferta dos produtos agrícolas. Estamos vendo colheitas com produções extremamente baixas, talvez as menores da história”, observou Alves.
Ele destacou outro ponto relevante na análise do Cepea: a menor demanda internacional pelos produtos agrícolas brasileiros. “Isso pode afetar em parte a entrada de recursos no Brasil, tanto do setor de grãos quanto do setor de cargas.”
Para o pesquisador, a intervenção do governo, embora considerada viável, é uma opção impossível, pois o país não está preparado, nem tem recursos suficientes para implementar a medida. “Em 2009, a rentabilidade do setor vai ser extremamente apertada, e aí volta-se para o governo. Provavelmente será necessária alguma intervenção, mas não há recursos disponíveis para que a intervenção se faça em grandes volumes para que alivie a renda do setor agrícola”.