Da Redação 10/07/2003 – Dois meses após o fim da colheita, os agricultores ainda aguardam o melhor momento para vender a soja e estendem a comercialização da safra 2002/03. Com os bons preços do segundo semestre do ano passado na memória, eles esperam contar com a ajuda do câmbio e da entressafra. Mas o atual cenário não é favorável: o real resiste diante do dólar e os preços na bolsa de Chicago estão sensíveis às perspectivas de uma safra recorde nos Estados Unidos. Diante disso, analistas começam a acreditar em erro de estratégia por parte do produtor.
Acompanhamento da Safras & Mercado mostra que 70% da safra brasileira de soja 2002/03 foram comercializadas até agora contra 80% em igual período do ano passado. O atraso registrado pela Céleres/MPrado é menor. Segundo a consultoria, até a última sexta-feira haviam sido comercializadas 72% da safra, estimada entre 51 milhões e 52 milhões de toneladas. O percentual está abaixo dos 73% de igual época de 2002 e da média de 75% dos últimos cinco anos.
Mas há diferenças regionais. Enquanto 85% da safra do Centro-Oeste já foram vendidas – ante 80% no mesmo período em 2002 -, a comercialização no Sul está em 56%, abaixo dos 61% do ano passado. “O agricultor do Centro-Oeste precisa de recursos para investir na fazenda e abrir novas áreas”, explica Anderson Galvão, analista da Céleres.
“Estava aguardando um preço melhor no segundo semestre. Mas Chicago e o dólar têm caído muito”, reconhece Vanderlei Basegio, agricultor que vendeu apenas 10% dos 1,2 mil hectares de soja que plantou em Coxilha (RS). “Espero que o câmbio volte um pouco”.
Desde o início do ano, os preços cederam no mercado interno, pressionados pela entrada da safra e pela valorização do real. A saca de soja, que iniciou o ano em R$ 44 em Paranaguá, caiu para R$ 42 em março e bateu R$ 38 em maio, segundo a Agência Rural. Os preços se recuperaram e fecharam em R$ 39,20 ontem.
Normalmente, as cotações no Brasil se descolam de Chicago na entressafra. Ano passado, a grande surpresa foi a forte desvalorização do real, que impulsionou o preço da soja ao recorde de R$ 50 em novembro em Paranaguá. Além disso, os Estados Unidos enfrentavam uma das piores secas da história. Mas neste ano, além da maior produção brasileira não permitir uma entressafra rigorosa, o cenário é o inverso de 2002.
Desde o início de 2002, o real se valorizou 23,82% ante o dólar. E com a ajuda do clima, 70% da safra americana de 29,8 milhões de hectares estão em condições boas ou excelentes, conforme o Departamento de Agricultura dos Estados Unidos (USDA).
Alguns analistas acreditam em safra recorde de 80 milhões de toneladas para o país. “Se tudo der certo com a safra americana, o mercado trabalha com preços mais baixos no segundo semestre em Chicago”, explica Renato Sayeg, da Tetras Corretora.
Após bater o pico de US$ 6,4 por bushel em maio, os preços devem variar entre US$ 5 e US$ 5,5 de agosto a dezembro. “Está certo o produtor escalonar a venda. Mas essa postura rígida pode se transformar em perda de mercado”, avalia Flávio França Jr, da Safras. Em setembro, a safra americana chega aos importadores.