Redação (16/05/06)- A Comissão de Produtoras Rurais da Farsul deu início, ontem, às manifestações do setor primário, que serão intensificadas a partir de hoje no RS, com um protesto inusitado. Reunidas na churrascaria Barranco, na Capital, 46 produtoras lançaram o “Dia do Produto”, pagando a conta de um almoço no valor de R$ 1.045,00 com 2.590 quilos de grãos e lã.
Para chamar a atenção da população, especialmente da zona urbana, as produtoras desembolsaram 750 kg de arroz a um custo de R$ 240,00, 480 kg de soja por R$ 172,00, 360 kg de milho a R$ 63,00, 160 kg de lã por R$ 184,00, 240 kg de feijão a R$ 208,00 e 600 kg de trigo a R$ 180,00, todos calculados conforme o preço praticado na sexta-feira.
Os protestos continuam hoje em todo o Estado, com bloqueio de estradas, acampamentos, tratoraços e manifestações públicas. Enquanto isso, lideranças do agronegócio gaúcho e nacional estarão em Brasília, juntamente com o governador Germano Rigotto e outros nove governadores, discutindo a crise do agronegócio no Congresso Nacional. O ministro da Agricultura, Roberto Rodrigues, deverá participar da audiência. À tarde, os líderes partidários serão recebidos pelo presidente Lula. Entre as pautas, está a conversão das dívidas da safra 2005/2006 dos produtores rurais em títulos públicos e a desoneração dos insumos, conforme a CNA.
Ainda pela manhã, a Fetraf-Sul será recebida pelo Ministro do Desenvolvimento Agrário (MDA), Guilherme Cassel, e, à tarde, pelo Ministro do Desenvolvimento Social (MDS), Patrus Ananias.
Amanhã, a entidade terá audiência no Ministério da Saúde e, na quinta, no da Fazenda. A Contag, terá encontro, hoje à tarde, com o Ministério da Fazenda, a Casa Civil, o MDA e a Secretaria Geral da Previdência.
Paraná
Desde a tarde de ontem grupos de agricultores começaram a se organizaram para fechar estradas e fazer passeatas em todas as regiões do Paraná. Os atos também ocorrerão em outros estados, como Mato Grosso, Mato Grosso do Sul, Goiás e São Paulo. Durante a manhã, enquanto os produtores protestam, as entidades que os representam apresentarão os dados sobre as perdas das últimas duas safras para congressistas. Depois, serão recebidas por ministros e está prevista uma reunião com o presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Fazem parte da comitiva 12 governadores. O Paraná será representado pelo vice-governador, Orlando Pessuti.
As praças de pedágio e os entroncamentos das principais rodovias do estado serão os pontos preferidos para as manifestações. Na região de Arapongas, por exemplo, a praça de pedágio que liga o município a Rolândia será fechada a partir das 8 horas. Em Cascavel, os agricultores farão no início da manhã uma carreata com caminhões e máquinas agrícolas e fecharão as rodovias de acesso à cidade, incluindo a BR-277.
Conseguimos fazer uma mobilização ampla, com apoio de diversos setores da sociedade, diz o presidente da Faep, Ágide Meneguette. Queremos mostrar para o governo que os problemas no campo são muito graves. Ele explica que as entidades agrícolas levarão a Brasília uma pauta de assuntos já conhecidos pelo governo federal. Ela inclui o alongamento das dívidas dos produtores rurais, o cumprimento da legislação sobre o preço mínimo dos produtos e a reversão do processo de valorização do real ante o dólar.
Representantes das cooperativas farão parte da comitiva em Brasília. Elas dependem da negociação com o governo federal para reverter a queda na rentabilidade de seus negócios e para evitar os efeitos da falta de crédito para o plantio da próxima safra. De acordo com o presidente da Organização das Cooperativas do Paraná (Ocepar), João Paulo Koslovski, serão pedidas medidas estruturantes, além da ajuda emergencial para a rolagem da dívida. Precisamos da desoneração dos insumos, como herbicidas e adubos, a garantia do preço mínimo e investimento em infra-estrutura, diz Koslovski.
O setor agrícola apresentará ao governo federal um pedido de ajuda amplo, com a renegociação de dívidas com prazos de até 20 anos e carência de três anos para o início dos pagamentos. O grande obstáculo para obter um aval em Brasília está na área da Fazenda. Conversei com diversos ministros e com a diretoria do Banco do Brasil e eles se mostraram abertos às reivindicações, conta o vice-governador Orlando Pessuti. Mas acho que haverá resistência no Ministério da Fazenda e no Banco Central. Pessuti destaca que o setor agrícola brasileiro acumulou perdas de quase R$ 30 bilhões no ano passado.