Produtores rurais estão enfrentando dificuldades para comprar milho a preço subsidiado na Companhia Nacional de Abastecimento no Rio Grande do Norte (Conab/RN). O estoque acabou em pelo menos quatro das oito unidades da companhia: Natal, Caicó, João Câmara e Lajes. Nas outras quatro, a situação é considerada crítica. O volume estocado (484 toneladas) não chega nem a 2% da capacidade total de armazenamento (34,1 mil toneladas).
Na segunda-feira (20.01), 790 produtores foram até a unidade da Conab no bairro Cidade Satélite para agendar a compra de milho. Alguns dormiram na porta da unidade para pegar uma ficha e garantir atendimento, mas devido ao estoque baixo, só parte deles foi atendida.
Francisco Canindé Simas, 42, produtor rural de Canguaretama, chegou um pouco mais tarde, às 4h, e voltou para casa frustrado. Não conseguiu agendar a compra das 18 sacas de 60 quilos para alimentar a criação. Criador de gado, galinha, porco e ovelha, Simas vendeu 551 animais nos últimos meses dada a dificuldade em comprar milho para alimentá-los. Ficou com 329 dos 880 que criava.
Juvelino Ferreira da Silva, 49, de São Bento do Trairi, percorreu mais de 140 quilômetros para agendar a compra. Chegou à unidade por volta das 3h e conseguiu pegar a ficha número 410. Ana Karina da Costa Coutinho, 18, natural de município de Montanhas, também chegou cedo, as 3h30, e conseguiu pegar a ficha número 318. Ela veio garantir a cota do seu pai, que fornece carne para abatedouros, e reclamou da demora no atendimento. Até as 11h30, só 190 das 790 pessoas haviam sido atendidas.
A situação, afirma João Lúcio, superintendente da Conab no RN, só se normalizará com a chegada de uma outra remessa de milho. Segundo ele, um novo carregamento deixa hoje os armazéns do Mato Grosso, principal polo produtor, e segue em direção ao Rio Grande do Norte. O milho deve chegar em cinco dias, considerando a data de partida.
Das quatro unidades que ainda tinham estoque de milho até ontem, a de Assu era a que estava em pior situação. A unidade só contava com 48 toneladas enquanto a capacidade de armazenamento é de 3,2 mil toneladas. Volume atual insuficiente para atender todos os produtores cadastrados na unidade.
O problema, observou José Vieira, presidente da Federação da Agropecuária do RN (Faern), não é de hoje. Matéria veiculada pela TRIBUNA DO NORTE em 2012 já relatava as dificuldades enfrentadas pelos produtores rurais. A cota que cada produtor cadastrado tinha direito já havia sido reduzida pela metade na época. “Eu antes podia comprar 40 sacas. Depois dessa mudança, só posso pegar 18”, exemplificou Francisco Canindé Simas, de Canguaretama.
As restrições, confirma João Lúcio, ficaram ainda maiores nos últimos meses. Agora quem compra milho num mês não pode comprar milho na Conab no mês seguinte. A medida foi adotada para que um número maior de produtores fosse atendido, esclareceu o superintendente da Conab no estado. “Estamos fazendo o possível para atender todos os produtores”, desabafou.