Redação (13/11/2008)- A forte desaceleração nas negociações de grãos em razão das baixas cotações, além de descapitalizar o produtor, poderá gerar no curto prazo problemas de ordem logística. O aumento no volume dos estoques de passagem irá esbarrar no déficit de capacidade estática do País que, em 2008, já atingiu 47,2 milhões de toneladas.
Sem repetir o volume de exportação recorde registrado no ano passado, os produtores de milho estão entre os mais prejudicados.
As cotações da commodity seguem em queda, pressionadas justamente pelos elevados estoques. Em apenas cinco dias, encerrados em 10 de novembro, o Indicador Esalq/BM&FBovespa caiu 4,7%.
De acordo com Lucilio Alves, pesquisador do Centro de estudos Avançados em Economia Aplicada (Cepea), a perspectiva é negativa já que no último trimestre de cada ano os embarques tendem a diminuir. "O volume exportado neste ano deve ficar expressivamente abaixo do observado em 2007", disse.
No acumulado do ano os embarques de milho recuaram 51,1% em relação ao mesmo período de 2007. Em outubro, a retração nas vendas foi ainda mais acentuada: 78%.
"Ao final de 2008, o Brasil terá um expressivo estoque de passagem, que poderá ser superior a 13 milhões de toneladas, o que corresponde a aproximadamente 70% do volume colhido na safrinha", destacou Odacir Klein, presidente executivo da Associação Brasileira dos Produtores de Milho (Abramilho).
Segundo ele, os estoques brasileiros estão concentrados no Paraná e no Centro-Oeste, ocupando espaços de armazenagem que, no final do primeiro trimestre de 2009, terão que ser cedidos para a estocagem da safra de soja.
Mesmo em casos onde o produtor se dispõe a negociar nos atuais patamares de preços, considerados abaixo do custo de produção, ele se depara com um mercado retraído. Na última semana, os preços do algodão em pluma continuaram em queda. No período, o Indicador Cepea/Esalq caiu 1,83%.
Segundo a pesquisa do Cepea, apesar de os produtores terem se mostrado mais flexíveis a reduzir os preços, boa parte dos compradores esteve retraída, negociando pequenos volumes. "Indústrias continuam processando a pluma recebida de contratos antecipados. As poucas ativas em novas compras continuam forçando baixa de preços ou buscando maiores prazos de pagamento."
Este ano a Companhia Nacional de Abastecimento (Conab) já anunciou um pacote de investimentos para a construção de silos graneleiros. O projeto está em fase de licitação.
Os novos complexos armazenadores, que terão um aporte de R$ 84 milhões, estarão distribuídos em estados estratégicos. Nas Regiões Norte e Nordeste o volume dos armazéns não é suficiente para a colheita, enquanto no Sudeste sobra capacidade de armazenagem.
Segundo um levantamento feito pela Carlos Cogo Consultoria Agroeconômica ainda no primeiro semestre, a capacidade estática de armazenagem de grãos existente no Brasil recuou de 126,1 milhões de toneladas em 2007, para 123,7 milhões de toneladas este ano. Esta capacidade é inferior em 18,7 milhões de toneladas a safra nacional de grãos de 2007/2008. O nível de capacidade estática de armazenagem considerado ideal é 20% superior à safra de grãos do país.
Além de ser considerado uma atividade de apoio fundamental para as etapas de escoamento e comercialização, o armazenamento também pode garantir um preço maior ou menor do grão.
De acordo com Juvir Matuella, presidente da Companhia Estadual de Silos e Armazéns (Cesa-RS), o fato de oferecer diferenciais como células de silos subdivididas e segregação de produto, tem aumentado a procura pelos serviços da empresa que é filiada à Conab. "O produtor é beneficiado porque consegue um preço diferenciado que pode variar de 15% a 20% acima do valor de mercado", afirma.
Com uma demanda por armazenagem maior que a do ano passado, Matuella revela que este ano a companhia está recebendo 2,5 vezes a mais de trigo.
Com uma queda contínua dos preços, ele já prevê o aumento da demanda. "O produtor depende muito de recursos federais, se as cotações ficarem abaixo do preço mínimo a Conab terá que ficar com esses estoques", disse.