Redação (13/01/2009)- Em mais um sinal que fortalece a tese de recuperação gradual do peso dos fundamentos na formação dos preços internacionais das commodities agrícolas, o relatório do Departamento de Agricultura dos Estados Unidos (USDA) sobre oferta e demanda de grãos no país e no mundo publicado ontem teve grande impacto sobre as cotações de milho, soja e trigo na bolsa de Chicago.
As quedas acentuadas pelos novos números do USDA foram expressivas (os contratos futuros dos três produtos atingiram a maior queda diária permitida na bolsa) e mereceram atenção especial do Ministério da Agricultura brasileiro, que destacou, em comunicado, a tendência de alta de 4,9% da produção global de grãos nesta temporada 2008/09, para 2,12 bilhões de toneladas – 137 milhões no Brasil.
Apesar de esta elevação ser considerada uma notícia "baixista" para as cotações, não foi ela que causou o forte declínio dos preços em Chicago, mas sim as estimativas de aumento dos estoques dos três produtos, nos EUA e no mundo, como realçou, no comunicado, José Garcia Gasques, coordenador de planejamento estratégico do ministério.
Justiça seja feita à influência financeira das movimentações dos grandes fundos de investimentos nesses mercados, elas também colaboraram para derrubar as commodities – não apenas agrícolas – ontem nos mercados globais. O índice CRB, que inclui 19 commodities, recuou mais de 4%, com destaque para as baixas do petróleo e do ouro.
Ainda que as três commodities agrícolas de maior liquidez tenham registrado limites de baixa, proporcionalmente a que recuou mais em Chicago foi o trigo. Os contratos futuros com vencimento em maio, que ocupam a segunda posição de entrega (normalmente a de maio liquidez), caíram 9,34% e fecharam a US$ 5,8225 por bushel. Cálculos do Valor Data mostram que, assim, passa a ser negativa (6,62%) a variação acumulada neste ano, que até a semana passada era positiva.
Em relação à estimativa que divulgou em dezembro, o USDA elevou em 5,1% a projeção para os estoques americanos finais do cereal na temporada 2008/09 e em 0,7% o número para os estoques finais mundiais (ver tabela ao lado).
Traders ouvidos pela Dow Jones Newswires disseram, porém, que o ajuste mais surpreendente do USDA foi o dos estoques finais de milho nos EUA, que reflete a "destruição" do segmento de etanol naquele país. O aumento foi de 21,5%, para 45,48 milhões de toneladas, e os estoques finais globais foram ampliados em quase 10% em relação à estimativa anterior. Em Chicago, os papéis para maio (segunda posição) caíram 7,12%, para US$ 3,9125, e a variação em 2009 já é negativa em 6,34%.
Na soja, que como o milho vinha sendo sustentada por adversidades climáticas na América do Sul e pela boa demanda chinesa (que segue firme, segundo o USDA), também houve correções para cima nas previsões para os estoques americanos e globais. Em Chicago, março (segunda posição) fechou a US$ 9,66 por bushel, baixa de 6,76% no dia e queda acumulada de 1,43% em 2009.