Redação (24/09/2008)- Com estoques capazes de abastecer o mercado interno por até 75 dias – o equivalente a 6,8 milhões de toneladas – , as indústrias de fertilizantes poderão acompanhar a desaceleração do mercado até o final do ano, provocado pela limitação de crédito ao produtor e o descolamento entre o aumento dos insumos e o preços das commodities.
Após registrar recorde de importação e consumo no semestre passado, o setor registra sua primeira queda. O volume do produto entregue ao consumidor final caiu 29,1% em agosto, de acordo com dados da Associação Nacional para Difusão de Adubos (Anda). A produção interna e a importação das matérias-primas também recuaram, 6,3% e 1,3%, respectivamente.
Segundo Eduardo Daher, diretor executivo da Anda, no período em que se observava a alta tanto nos preços dos fertilizantes quanto nas cotações dos grãos havia uma euforia de demanda por esses dois produtos, o que gerou uma antecipação na aquisição do insumo. "Agosto e setembro devem ser meses mais lentos, sendo uma espécie de devolução dessa antecipação", afirmou.
Daher disse ainda que o produtor que deixou para comprar agora é aquele que precisa de crédito, o que também deverá ser um fator limitante nas negociações com as empresas do setor. "Ainda assim as indústrias mantêm a perspectiva de entrega para o consumidor final em torno de 25 e 26 milhões de toneladas", destacou. O volume de entrega apontado por Daher supera o registrado no ano passado, de 24,6 milhões de toneladas.
Para alcançar o número de 2007, a indústria terá que entregar aos produtores nos próximos meses um volume acima das 2,08 milhões de toneladas registradas no mês de agosto. "Talvez na estatística de setembro ainda tenha alguma coisa da ordem de 2 ou 3 milhões de toneladas, mas é provável que não se repita o mesmo quadro de 2007 e que o setor termine o ano com algo parecido com 2005 e 2006, próximo as 20 milhões de toneladas", avaliou Jaqueline Bierhals, analista da Agra FNP. "Quem queria comprar já comprou", acrescenta.
Para ela, o alto custo dos insumos motivou um replanejamento da safra por parte do produtor, o que pode gerar surpresas inclusive quanto à área plantada. "Pode ser que o produtor opte por reduzir o pacote tecnológico ou a área da lavoura. Isso é bem factível de acontecer num momento de queda das commodities", disse Bierhals.
A redução de área tem sido apontada como uma boa opção no corte de gastos porque possibilita a diluição do custo por saca e mantém a produtividade.
Efeitos da crise
A desaceleração da economia global e a desvalorização do petróleo – cerca de 40% nos últimos dois meses – são efeitos da crise que estão sendo apontados por agentes do mercado como fatores de risco às gigantes do setor.
Na última semana um relatório do Citi Investiment Research, divisão do Citigroup Global Markets, destacou que a possibilidade de redução na demanda por soja deve afetar negativamente os resultados da Archer Daniels Midland (ADM) e Bunge. No caso desta última, a redução nas margens de lucro estaria diretamente ligada aos segmentos fertilizantes já que a queda no preço do petróleo é negativa para os negócios com adubos, mercado no qual a empresa é líder.
No Brasil, as consultorias especializadas em agronegócio mantêm a perspectiva da estabilização dos preços dos fertilizantes em patamares altos com possibilidade de novos aumentos. "O grande viés da alta é o aumento da demanda e a limitação dos recursos. Além da capacidade muito maior de produção de alguns países aumentou o capital disponível para investir", avaliou Bierhals.
Para José Amaral, da Scot Consultoria, a crise não terá reflexo sobre os emergentes e a demanda mundial não deve se arrefecer. "O cenário conturbado que se desenha no mercado internacional pode representar uma ameaça momentânea aos bons preços dos produtos agrícolas obtidos ao longo do ano. Porém, os fundamentos da oferta e demanda apontam para estoques finais bastante ajustados."