Esgotadas praticamente todas as possibilidades de que um solavanco climático impeça os EUA de atingirem uma safra recorde de grãos em 2014/15, os preços, especialmente da soja, estão expostos a uma deterioração mais agressiva. Análise feita pelo banco holandês Rabobank, principal financiador privado do agronegócio no mundo, indica que a recomposição nos estoques globais pode levar a oleaginosa a ser negociada ao preço médio de US$ 8,50 por bushel na bolsa de Chicago no novo ciclo.
Desde março de 2009 a soja não é negociada a um valor tão baixo, conforme levantamento do Valor Data. O valor apontado pelo Rabobank é mais pessimista que o intervalo de US$ 9 a US$ 11 por bushel que o Departamento de Agricultura dos EUA (USDA) estima para os preços pagos ao produtor americano na temporada. Atualmente, a commodity está na casa dos US$ 10 por bushel na bolsa de Chicago.
“Existe uma barreira psicológica que segura o mercado nesse patamar, mas há uma condição forte para que ele seja rompido, principalmente quando a colheita ganhar ritmo nas próximas semanas”, afirma Renato Rasmussen, analista sênior do departamento de pesquisa e análise setorial do Rabobank Brasil. Relatos de campo indicam que a colheita já teve início em localidades do sul dos EUA.
No Brasil, os produtores vieram retendo a comercialização de grãos nos últimos meses, à espera de uma reação nos preços. De acordo com o Instituto Mato-grossense de Economia Agropecuária (Imea), os agricultores negociaram antecipadamente apenas 11,1% da safra 2014/15 de soja. Há um ano, 38,5% já estavam vendidos. Em agosto, os preços para entrega em março de 2015 ficaram à média de R$ 41,22 por saca, abaixo dos R$ 47,76 do mesmo período de 2013.
Diante desse cenário negativo, o Rabobank reforça que é prudente o produtor brasileiro se apressar em vender. “Em Mato Grosso e no Paraná, existe uma expectativa generalizada de que haverá melhora de preços. Mas acreditamos que a sinalização é contrária e quando romper os US$ 10 por bushel, a queda poderá ser brusca, num curto espaço de tempo”, diz Rasmussen. A situação é ainda mais preocupante, acrescenta o analista, porque muitos produtores não “travaram” nem mesmo os custos de produção. “O agricultor tem que ‘travar’ o suficiente para garantir esses custos, e aí especular com o restante da safra”, afirma.
Conforme Jefferson Carvalho, analista de insumos agrícolas do banco, outro agravante é que alguns custos subiram bastante. E diferentemente de anos atrás, quando havia uma correlação mais firme entre os preços dos insumos e as cotações dos grãos, hoje as variações não são tão coordenadas. “Temos assistido à queda da soja, mas os inseticidas ficaram mais caros”.
Para o milho, o Rabobank não acredita que há muito espaço para quedas adicionais. “A cotação está dentro do que se esperaria para a condição global de estoques”, diz Rasmussen. O banco estima uma média de US$ 3,65 por bushel no novo ciclo, semelhante aos níveis atuais de Chicago. O número está dentro da previsão do USDA, que estima entre US$ 3,20 e US$ 3,80.
O banco crê ainda em uma queda no consumo global de grãos, diante da menor demanda para ração, reflexo da redução do plantel por conta de doenças como diarreia epidêmica suína (PED) e gripe aviária. “No Brasil, a demanda pode ficar mais aquecida em função da maior importação de carnes pela Rússia”, conclui Rasmussen.