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Realidade da soja

Queda no preço da soja reabre discussão sobre dívidas. Estudo do Imea mostra o comportamento da sojicultura.

Realidade da soja

A safra recorde de soja que está em fase final de colheita no Brasil já pressiona os preços no mercado interno, um cenário que era esperado por praticamente todo o mercado. A oferta maior já provocou uma queda superior a 30% nos preços da oleaginosa este mês em Mato Grosso, em comparação com o mesmo período do ano passado.

Dados do Instituto Mato-grossense de Economia Agrícola (Imea) mostram que o preço médio da saca de soja em Sorriso em abril do ano passado era R$ 37,97. Atualmente, o valor médio na mesma região é de R$ 25,29 por saca, ou seja, 33,4% menor. A situação é semelhante em todas as regiões do Estado. Em Rondonópolis, os preços da soja recuaram de R$ 41,59 por saca para R$ 26,26, registrando uma desvalorização de 31,1% nos últimos doze meses.

A produção prevista tanto para o país quanto para Mato Grosso explicam o forte recuo dos preços. Segundo a Companhia Nacional de Abastecimento (Conab), o Brasil vai colher 67,4 milhões de toneladas de soja no ciclo 2009/10, volume 18% superior ao ciclo anterior. Só Mato Grosso, responsável por 28% dessa produção, colherá 18,7 milhões de toneladas, elevando em 4,5% sua oferta.

Além da oferta doméstica maior, o mercado internacional também contribui para derrubar os preços internos. Contudo, mais do que a queda dos preços na bolsa de Chicago, é a desvalorização do dólar frente ao real que mais tem pressionado. Levantamento do Valor Data, que leva em conta a segunda posição dos contratos na bolsa americana, o preço médio da soja em abril de 2009 foi de US$ 10,14 por bushel (US$ 22,35 por saca). Neste ano, a cotação média está em US$ 9,73 por bushel (US$ 21,46 por saca), queda de 4%.

Quando esses valores são convertidos para reais, considerando a cotação mensal média do dólar no período, a queda dos preços da soja em Chicago é muito maior. Enquanto em dólar a desvalorização foi de apenas 4% em doze meses, em reais a queda foi de 23,4%. Os preços recuaram de R$ 49,30 por saca em abril do ano passado para os atuais R$ 37,77.

Esse cenário já abre espaço para um novo processo de renegociação das dívidas dos produtores. Representantes dos produtores e do governo já iniciaram as conversas sobre o assunto para tentar equalizar novamente os débitos, já que a parcela deste ano da dívida corre um sério risco de não ser paga pelos agricultores, especialmente os de Mato Grosso.

“Os custos da safra conseguirão ser pagos, mas os produtores de Mato Grosso não terão renda suficiente para pagar a parcela da dívida que vence neste ano. É preciso equalizar de vez este valor e cortar a gordura que existe e é provocada pelos juros”, afirma Glauber Silveira, presidente da Associação dos Produtores de Soja (Aprosoja).

Nas contas da entidade, a rentabilidade média da soja em Mato Grosso neste ano será de R$ 114,76 por hectare, 58% a menos do que no ano passado. Consideradas as dívidas pendentes, o lucro vira prejuízo. A Aprosoja estima que para cada hectare plantado com soja exista, em média, um débito de R$ 500 para ser quitado.

Silveira afirma que quem conseguiu fixar a maior parcela da produção antecipadamente, a um preço de R$ 30 por saca, tem uma situação mais confortável. Já os agricultores que travaram metade da safra a R$ 30 e a outra metade nos preços atuais – cerca de R$ 25 por saca – não devem ter renda suficiente para pagar as dívidas do passado, mesmo com uma produtividade de 55 sacas por hectare.

Pesquisa realizada pela Aprosoja com seus associados identificou que a maioria não pretende pagar a parcela da dívida deste ano. Segundo o levantamento, 14% dos associados disseram que pagarão apenas parte da parcela e que 51% não farão o pagamento. “Nossa preocupação é com a possível saída de agricultores da atividade, caso não haja algum tipo de ajuda para ele. Sem renda, a alternativa para muita gente será arrendar suas terras para produtores maiores, o que vai estimular ainda mais a concentração”, afirma Silveira.