Redação (26/03/2009) – O Plano Safra 2009/10 pode ser incrementado com um volume de recursos de crédito rural até 25% maior que os R$ 78 bilhões disponibilizados na safra atual. O valor deve ser definido apenas em maio, mas o vice-presidente de Agronegócios do Banco do Brasil (BB), Luis Carlos Guedes Pinto, antecipa que o Ministério da Agricultura pode assegurar R$ 93,6 bilhões em financiamento oficial ao produtor – montante 36% menor que o sugerido pela Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA).
A estimativa é uma das três partes aparentemente iguais do bolo financeiro que sustenta a agricultura brasileira – crédito oficial, recursos próprios e tradings. E é do Banco do Brasil que sai cerca de 60% do crédito subsidiado pelo governo. Na safra atual, esse percentual chegou próximo a R$ 35 bilhões, aumento de 29% em relação ao crédito agrícola disponibilizado pela instituição na safra passada. Na próxima, o BB pode canalizar até 20% mais, ou R$ 40 bilhões, se parte desse crédito não for retido pelo endividamento inoperante que vigora.
Só ao Banco do Brasil o produtor rural deve R$ 63,7 bilhões. Em 2003, esse volume não chegava a R$ 27 bilhões. Esse crescimento de 136% da dívida rural implicou em um aumento desproporcional de 870,4%, num período de apenas cinco anos, do montante provisionado pelo BB para garantir o financiamento da safra brasileira. Em 2008, a Provisão para Crédito de Liquidação Duvidosa (PCLD) chegou a R$ 4,784 bilhões. Cinco anos antes, o BB provisionava apenas R$ 493 milhões para financiar a safra. "As sucessivas renegociações da dívida agrícola elevaram o risco e consequentemete a provisão", explica Guedes. Segundo ele, "o percentual da carteira de agronegócios saltou de 1,8% para 7,5%" no período em questão.
As renegociações da dívida rural rebaixam o limite a ser emprestado "a cada tomador" e retém 34,3% dos R$ 35 bilhões em crédito oficial disponibilizados pelo banco. Esses quase R$ 12 bilhões ainda estacionados nos cofres do BB têm pouco mais de dois meses para furar o bloqueio do endividamento e chegar ao campo brasileiro, já que no dia 1 de junho começa uma nova safra.
A fonte do crédito
De acordo com Luís Guedes Pinto, parte do recurso referente à safra 2009/10 – estimado entre R$ 40 bilhões e R$ 45 bilhões – já começou a ser liberada, há pelo menos uma semana. Sem precisar o volume antecipado ao produtor, o vice-presidente de Agronegócio do Banco do Brasil argumentou que a já sentida retração nos depósitos à vista de quase 20% não deve afetar a estimativa de crescimento do crédito canalizado pelo BB. "O Banco conta ainda com a caderneta de poupança rural, que cresceu muito, além de outros fundos governamentais e as linhas especiais do BNDES (Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social)", ameniza, além da manutenção das exigibilidades sobre os depósitos à vista.
Para viabilizar a safra por vir, Guedes acredita ser necessário reescalonar os débitos bancários sem caracterizar inadimplência ou aumento de risco, além de uma restruturação completa na política agrícola, que passaria pela garantia de preço mínimo e do seguro do crédito propriamente dito e não só da produção. "O produtor precisa se proteger da volatilidade dos mercados futuros", completa. O gover-no de São Paulo vai oferecer seguro de opção ao produtor a partir da próxima safra.
"A formação do Tsunami"
O agronegócio brasileiro antes da crise era caracterizado por um fluxo intenso de investimentos, outra leva de ofertas iniciais de ações na Bolsa de Valores. A partir do segundo semestre de 2007, as empresas, agora já com o capital devidamente aberto, recorreram a empréstimos bancários, tanto externa quanto internamente, contraindo um endividamento sem precedentes.
Guedes conjectura que a apreciação do dólar e do euro frente à moeda brasileira acentuou o endividamento das agroindústrias, "que passaram a ser chamadas a reforçar as margens nas bolsas de futuros desfalcando o capital de giro. Segundo ele, a manutenção de parte da atividade agroindustrial só teria sido possível mediante a redução no ritmo de produção e a contração de novos créditos no sistema financeiro. "2009 já começa marcado pela redução dos estoques, pela inadimplência e também pelos inúmeros pedidos de recuperação judicial".
À despeito do descolamento da economia mundial, a condição brasileira é exibida como "confortável" em relação às demais, em função da baixa dependência em relação as importações americanas e à diversificação da pauta de exportações do agronegócio nacional, pilares de sustentação de uma estabilidade macroeconômica que nem produtores, tampouco processadores parecem experimentar.