Redação (10/02/2009)- A semana da largada da segunda fase da Expedição Safra, da Rede Paraense de Comunicação, que faz o balanço da produção de grãos do ciclo 2008/09, verificou contrastes acentuados na região que vai do Sul ao Sudoeste do Paraná. Quem perdeu está colhendo primeiro, o que faz com que a quebra seja o assunto da ordem do dia. Os campos verdes, no entanto, mostram que ainda há chance de recuperação, pelo menos parcial.
A estiagem atingiu perto de 10% da soja e castigou mais de 40% do milho, conforme avaliação da cooperativa Bom Jesus, com sede na Lapa (Sul). A Coasul, de São João (Sudoeste), prevê quebra de 20% na oleaginosa e de 30% a 40% no cereal. Na Agrária, de Entre Rios, mais ao centro, os números são menos ruins: 10% no milho e situação indefinida na soja.
A dimensão das perdas pode ser vista numa espiga de milho, diz Alaor Muller, de Palmas. "Com a seca, ela fica menor e rende três ou quatro fileiras de grãos a menos. As normais têm 18 fileiras." Além disso, faltam grãos, principalmente na ponta, que é a parte mais atingida pela lagarta-do-cartucho, argumenta. Poucas espigas chegaram ao tamanho que ele consideram normal.
Muller ainda não começou a colher, mas estima que as perdas vão chegar a 50% nos 40 hectares destinados ao cereal e a 20% nos 17 hectares de soja. Ele teve perda de 50% em 14 hectares de feijão e teme não conseguir pagar as contas da safra.
Em Palmas, as lavouras plantadas dentro do zoneamento agrícola desafiam as previsões pessimistas. O produtor Roque Abel Ferronatto estima perda aproximada de 10% na soja e rendimento normal no milho. Suas lavouras, que abrangem 2,9 mil hectares, estão em boas condições, mas ainda dependem de dois meses de chuvas bem dosadas. A meta é atingir, considerando as perdas, 2,6 mil kg/ha de milho.
Os agricultores contam que o prejuízo maior será no milho, segunda cultura mais importante do estado. As lavouras com mais perdas na soja são consideradas exceções. Eles relatam que o problema se agrava por causa dos custos do milho. A seca, além de reduzir a produção, exigiu mais inseticidas. Lavouras em que houve três aplicações estão infestadas de lagarta-do-cartucho.
Poucos escaparam sem perdas. Renato Vargas, de Palmas, que plantou 470 hectares de soja, prevê produção normal. Ele não plantou milho. Ele conta que não adivinhou que haveria seca. Tomou a decisão depois de comparar os custos das duas culturas.
A menos de 100 quilômetros das lavouras de Vargas, Claudinei Vieira, de Francisco Beltrão (Sudoeste), conta que pode colher menos da metade do previsto em 100 hectares de milho. Em 20% dos 40 hectares de soja, também haverá perdas, de cerca de 50% – as plantas já têm cachos e deveriam bater na cintura do produtor, mas chegam só até o joelho. Como plantou mais cereal, as perdas vão atingir em cheio suas contas. O custo de R$ 1,65 mil por hectare vai ficar 45% descoberto, calcula.
Os campos verdes têm falhas, mostrou Alfredo Szabo, de Guarapuava, que planta 750 hectares de soja e 250 de milho. "Parte da soja nasceu e morreu por falta de água", explica. As plantas que nasceram têm tamanho desuniforme em suas lavouras. Ele prevê quebra de 10% nas duas culturas.
Expedição no Oeste, Noroeste e região Central
Nesta semana, a Expedição Safra prossegue com o trabalho de campo no Oeste, Noroeste e Central do Paraná. A sondagem ganha reforço de uma segunda equipe de técnicos e jornalistas. Os dois grupos percorrem, de maneira simultânea, diferentes regiões do estado. Na programação, além das visitas a produtores, sindicatos e cooperativas, dois eventos técnicos: o Show Rural Coopavel e o Dia de Campo Coamo.
O primeiro, em Cascavel, apresenta durante a semana os principais avanços da tecnologia agrícola brasileira (matéria na página 3). O segundo, em Campo Mourão, começou na semana passada e termina amanhã. Trata-se do 21º Encontro de Cooperados na Fazenda Experimental Coamo. Entre técnicos, pesquisadores, dirigentes e produtores, a agenda completa deve reunir perto de 4 mil pessoas.
O roteiro da Expedição no Paraná encerra-se na próxima semana, com visitas às regiões Norte, Norte Pioneiro e Campos Gerais.
Setor busca compensação
Antes de pensar em renegociar dívidas, os produtores tentam encontrar uma compensação para a "furo de caixa" que a seca representa. "A soja talvez seja a salvação da lavoura", afirma o diretor-secretário da cooperativa Bom Jesus (Lapa), José Rubens dos Santos. Ele considera que, além dos preços da oleaginosa estarem melhores que os do milho, a relação custo/rentabilidade também é mais favorável ao produtor que a do cereal. A margem da soja é de cerca de 30% e a do milho, 20%, considerando o custo operacional, considera. "Quem perdeu 30% no milho não vai conseguir pagar nem as contas da cultura desta safra. E tem ainda as dívidas antigas." O executivo avalia que será preciso vender muito bem a soja para que as contas da safra fechem.
As contas das cooperativas também vão sentir o impacto desse "furo de caixa", prevê o gerente técnico da Coasul (São João), Paulo Roberto Fachin. " A cooperativa ampliou sua abrangência e agora atua em 20 municípios da região Sudoeste. A previsão é que a recepção fique 40% abaixo do esperado.