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Safra de milho terá produção maior em São Paulo

Ao contrário das previsões iniciais, colheita deve ser até 5% maior que em 2001/2002.

Da Redação 19/02/2003 – Ao contrário das previsões feitas pela Companhia Nacional de Abastecimento (Conab) no início de dezembro, a safra do milho de verão vai ser maior que a do ano passado no Estado de São Paulo. As culturas mais precoces estão sendo colhidas no sudoeste paulista e registram boa produtividade, com média de 120 sacas por hectare. A Conab tinha previsto um rendimento menor, capaz de neutralizar o crescimento na área de plantio. Segundo o pesquisador Alfredo Tsuneshiro, do Instituto de Economia Agrícola (IEA) do governo paulista, os últimos dados coletados indicam aumento de pelo menos 2% na produtividade.

Como a área plantada também aumentou, ele estima uma safra de verão de 4% a 5% maior que a anterior, quando colheram-se 3.345.369 toneladas em 731.601 hectares (produtividade de 4.573 quilos/hectare). No Brasil, a produção pode chegar a 42 milhões de toneladas, 6 milhões a mais que em 2001/2002. Os preços estão elevados, entre R$ 17 e R$ 19 a saca de 60 quilos para o produtor e quem investiu no milho obterá receita bastante compensadora, segundo Tsuneshiro.

Ele destaca que ainda há o risco das chuvas, capazes de ocasionar perdas na produção ou retardamento na colheita. “Mas não deve ser nada significativo.” No oeste do Estado, entre Marília e Bauru, as chuvas podem causar mais danos por causa do solo arenoso. No sudoeste, região que concentra a maior área de milho de verão, as lavouras têm bom desenvolvimento, segundo o agrônomo Vandir Daniel da Silva, da Coordenadoria de Assistência Técnica Integral em Itapeva.

Mesmo com a geada do início de setembro e a estiagem de outubro, as culturas de Itapeva registram os melhores índices de produtividade do Estado e estão entre as mais produtivas do País. A área plantada, de 60 mil hectares, é 8% menor que a da safra passada, mas a produtividade está sendo maior. Nessa região, o milho sofreu forte concorrência da soja, que atraiu muitos produtores.

Safrinha – As perspectivas são alentadoras também para o milho da segunda safra ou safrinha, segundo Tsuneshiro. Como o quadro de escassez do grão, que chegou a faltar no ano passado, deve continuar, os preços se manterão elevados. O problema poderá ser o atraso na colheita da soja. O milho safrinha precisa ser plantado até março, para que não sofra as conseqüências de eventuais geadas em junho. Como o plantio da soja atrasou e deve retardar a colheita, muitos produtores podem ficar sem condições de plantar na época propícia. “Eles vão preferir as culturas de inverno, como o trigo, o triticale ou o sorgo.”

Na região de Assis, maior produtora de milho safrinha, a procura por sementes de trigo é muito grande. Na Alta Mogiana, segunda maior produtora, os agricultores optaram pela soja de ciclo tardio e a colheita vai avançar no período da safrinha. Mesmo assim, o pesquisador acredita que a produção vá se manter nos moldes do ano passado, quando foram colhidas 707.213 toneladas em 325.827 hectares (produtividade de 2.171 quilos por hectare).

Três safras – Na região de Itapeva, o plantio da safrinha vem crescendo. Os agricultores cultivam soja, milho e trigo ou triticale em seqüência, na mesma área, perfazendo três safras anuais. Com isso, contribuem para elevar os índices de produtividade do Estado. Eles plantam a soja superprecoce em meados de setembro, fazem a colheita em janeiro e entram, em seguida, com o milho safrinha, colhido a tempo de ser feita a cultura de inverno – trigo, aveia ou triticale.

Quem prefere plantar o milho no verão semeia a variedade superprecoce em agosto, depois entra com a soja safrinha e, em seguida, a cultura de inverno. “São três safras de grão nobre no mesmo ano”, diz Silva. Esse manejo é usado por produtores de alta tecnologia, que empregam o plantio direto. Alguns, como a Fazenda Maruque, de Itaberá, irrigam todas as culturas e colhem até 160 sacas de milho/hectare. No Brasil, a safrinha deve totalizar 8 milhões de toneladas, 1,5 milhão a mais do que no ano passado. As dificuldades climáticas previstas para o Centro-Oeste serão compensadas pelo crescimento do plantio no PR.

Apesar das condições favoráveis, a avicultura e a suinocultura, setores que dependem do milho para produzir carnes e ovos, não terão facilidade para obter o grão.Os granjeiros vão concorrer com o mercado externo, que está de olho no milho brasileiro. O produto é considerado de excelente qualidade e tem a vantagem de não ser transgênico. A previsão é de que as exportações cresçam pelo menos 10% em relação ao ano passado. Os produtores de carne reivindicam o bloqueio nas vendas externas enquanto houver demanda interna não atendida. Segundo Tsuneshiro, os agricultores paranaenses já se comprometeram a exportar 800 mil toneladas, recebendo entre R$ 18 e R$ 20 pela saca de milho. As vendas externas podem chegar a 1,6 milhão de toneladas.

Tsuneshiro diz que o governo está preocupado em ampliar a produção. Um dos meios será o reconhecimento da safrinha, que não é recomendada pela pesquisa, mas já se tornou realidade no País. Tanto que, em MT e MS, a produção já é maior que a da safra principal. Na semana passada, o Ministério da Agricultura reuniu técnicos de todos os Estados em Brasília para discutir o zoneamento do milho da segunda safra.