Produtores de soja em todo o Brasil já começaram os preparativos para o plantio da safra de verão. Termina este mês, na maioria dos estados, o período de vazio sanitário, intervalo de 60 a 90 dias sem cultivo da soja. Com isso, grande parte das lavouras fica protegida contra a propagação da ferrugem asiática. “Na prática, durante o período de vazio sanitário na região, o produtor deve eliminar todas as plantas de soja em sua propriedade, tanto aquelas cultivadas, quanto as voluntárias, que vêm da queda de sementes durante a colheita”, explica o técnico do Departamento de Sanidade Vegetal do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa), Elyson Santos Amaral.
Segundo ele, o vazio sanitário é uma estratégia de manejo da ferrugem asiática, que tem como objetivo reduzir estruturas do fungo na entressafra e, dessa forma, prevenir que a soja seja atacada precocemente, já que a praga não sobrevive por mais de 60 dias sem a presença da planta viva.
O vazio sanitário foi instituído no Programa Nacional de Controle da Ferrugem Asiática, por meio da Instrução Normativa nº 2, de 2007. “A instrução estabelece que cada estado defina o período que será aplicado o vazio sanitário, de acordo com as suas especificidades”, ressalta o técnico do Mapa.
“Desde que a ferrugem asiática surgiu no Brasil, há nove anos, a estimativa é que a praga tenha provocado prejuízos de US$ 13,4 bilhões, somando os custos do controle, perdas na colheita e a queda na arrecadação com a cultura”, afirma a pesquisadora da Embrapa Soja, Claudia Godoy. Ela aponta que, em cada safra, os prejuízos com a doença chegam a US$ 2 bilhões para os agricultores e poderiam ser bem maiores, não fosse a interrupção do plantio.
Com a aplicação do vazio sanitário, foi reduzida a utilização de fungicidas nas lavouras de soja. “Alguns produtores chegavam a fazer sete aplicações durante o ciclo de desenvolvimento da planta. Com a introdução do vazio sanitário e, consequentemente, sem a proliferação do fungo causador da doença, esse número caiu para até 2,5 aplicações.”
Experiência – Mato Grosso é um exemplo onde a experiência do vazio sanitário é sucesso. Nas safras de 2004/2005 e de 2005/2006, a ferrugem foi crítica na região, observando-se os primeiros focos da praga, ainda no período vegetativo das plantas (de 20 a 30 dias). “Após a implantação do vazio sanitário no estado, já na safra de 2006/2007, as unidades de produção, semeadas mais cedo, somente foram pulverizadas com fungicidas por volta dos 60 dias após o plantio e não foram relatados focos da praga antes do florescimento da cultura, reduzindo o número de aplicações para o controle da ferrugem da soja nas áreas plantadas mais cedo”, conta Elyson Amaral.
Segundo Amaral, não é objetivo do vazio sanitário eliminar a praga na cultura da soja. “É uma medida a mais de manejo, que visa reduzir a infecção nos primeiros plantios da cultura na região, diminuindo, assim, a possibilidade de incidência da ferrugem asiática da soja, no período vegetativo da cultura.”
Histórico – A ferrugem asiática da soja, causada pelo fungo Phakopsora pachyrhizi, apareceu nas lavouras brasileiras em 2001 e rapidamente se espalhou nas principais regiões produtoras. No mesmo ano, a praga foi constatada no Paraná e disseminou-se rapidamente para outras regiões do Brasil. Na safra 2002, a doença foi relatada em Goiás, Mato Grosso, Mato Grosso do Sul, Minas Gerais, Rio Grande do Sul, Santa Catarina e São Paulo. Na safra 2003/2004, ocorreu de forma generalizada, em quase todo o Brasil, causando prejuízos consideráveis em várias regiões produtoras. Com exceção de Roraima, todos os estados que possuem cultivo de soja já foram atingidos pela doença: MT, PR, RS, MA, GO, MS, SP, SC, DF, TO, RO, PA e BA, abrangendo uma área de 22 milhões de hectares.